Festival do cinema do real está mais sensorial e com rock n'roll

Porto/Post/Doc, o festival de documentários do Porto arranca com a terceira edição amanhã e anima a Baixa até ao dia 4 de dezembro
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O Porto já merecia um festival assim. Cinema do real para um público real. No ano passado houve lotações esgotadas e um aumento do público. Numa altura em que a Baixa começa a ser verdadeiramente o coração cultural da cidade, esta terceira edição tem tudo para ser ainda mais apelativa. Nove dias para ver cinema, lançamento de livros, concertos, festas e debates.

Para Dario Oliveira, diretor do festival, a opção não foi dar demasiados filmes para os espectadores ficarem perdidos, antes pelo contrário: "Os filmes que apresentamos valem muito por si, apresentam novos autores é certo, mas o que mudou sem dúvida foi a forma de fruir cinema e o Porto/Post/Doc tem de se conter e criar condições próximas das ideais para que o maior número de filmes chegue ao nosso público nestes nove dias de programa intenso, menos filmes e mais tempo para os poder descobrir."

Da competição salta à vista Mimosas, de Oliver Laxe, cineasta de Espanha já com nome feito no circuito de festivais; o novo de Salomé Lamas, Eldorado XXI, visita trepidante à mina de Rinconada, no Peru; Ama-San, de Cláudia Varejão, outra produção nacional que confirma todo o talento da cineasta (ganhou o concurso nacional no DocLisboa); e a estreia mundial de Tarrafal, de Pedro Neves, que se introduziu nas vidas das pessoas de um bairro especial no Porto, São João de Deus.

Mas a marca temática e reflexiva do festival está no cinema sensorial e na sua experiência. Nesse sentido, há uma aposta forte no Foco Sensory Ethnography Lab, um laboratório académico dirigido por Lucien Castaing-Taylor.

Sensorial poderá ser também o cinema de Eryk Rocha, documentarista brasileiro também alvo de um foco. Filho de Glauber Rocha, Eryk apresenta no Porto, entre outros filmes, a estreia em Portugal de Cinema Novo, um documentário sobre o Cinema Novo Brasileiro com ganas de Cinema Novo...

E como a música é sempre uma das apostas do festival, Dario realça alguns títulos com rock"n" roll: "Destaco na secção Transmission alguns novíssimos filmes, como a a homenagem a David Bowie, Bowie, L"Homme Cent Visages ou le Fantôme d"Hérouville, bem como o olhar de Jim Jarmuch sobre os Stooges, Gimme Danger [ainda não estreado no Porto], não esquecendo também Pontas Soltas, sobre os portugueses Capitão Fausto, bem como um olhar sobre história do punk em Portugal, Enterrado na Loucura - Punk em Portugal - 78-88 - a 2.ª Vaga, de Miguel Newton e Hugo Conim. Como diretor do festival, não posso deixar ninguém de fora simplesmente porque estes filmes foram sem dúvida escolhidos por uma equipa de programadores com critério e com uma grande paixão pelo cinema."

E o certo é que se sente uma linha de gosto, uma marca. "O assunto das estreias nacionais ou estreias na cidade só preocupa os programadores de festivais em Portugal, obrigando por vezes alguns realizadores a esperarem pela estreia dos seus novos filmes quase um ano, e deveria rapidamente deixar de ser uma prioridade dos festivais se quisermos um convívio saudável entre todos os interessados, da parte de quem faz, de quem programa e de quem divulga. Pensar um festival de cinema para a próxima década necessita de visão do que será mais positivo para o público e para os filmes e não somente para o ego de quem programa. Aqui no Porto/Post/Doc vivemos bem com o facto de fazermos estreias na cidade, acabando naturalmente por também apostar em muitas estreias nacionais e fazer chegar ao nosso público os filmes que realmente interessa descobrir", faz questão de vincar Dario Oliveira.

O Grande Prémio vale três mil euros e é oferecido pelos Vinhos Verdes. A sessão do anúncio do palmarés tem lugar no dia 3 de dezembro no Teatro Rivoli.

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