Fernando Pessoa, PSD, CDS e a COP26

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A hora muda, a política não. Emaranhada nos seus interesses e corredores, vive dias instáveis.

Confirmou-se o chumbo de um Orçamento do Estado pela primeira vez em Portugal, instalou-se a crise política, a dissolução do Parlamento está anunciada e eleições legislativas na calha. Será tudo isto um sinal de democracia saudável ou de imaturidade, irresponsabilidade política e desassossedo para com o país? A resposta muda consoante vem da direita ou da esquerda.

Desta linha de partida todos os desfechos são possíveis - tal como o foram na votação na generalidade do OE 2022. O primeiro-ministro e secretário-geral do Partido Socialista disse estar preparado para tudo. Rui Rio também estará? Afirmou que pretende adiar as eleições diretas dentro do PSD e defende que as legislativas se realizem a 9 ou 16 de janeiro, mas sem "balbúrdia" de eleições no partido, empurrando-as para depois dessas datas. O presidente dos sociais-democratas pede "que se pondere se vale a pena a disputa interna. Acho que não pode haver eleições internas numa altura destas, quando o PS já começou a campanha ontem", atirou.

Escreveu Fernando Pessoa que "tudo vale a pena quando a alma não é pequena". Nada pior para um país ou um partido que a ausência de clarificação da situação em que vive ou em que sobrevive. "Quem quer passar além do Bojador, tem de passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, mas nele é que espelhou o céu", acrescentou o poeta e filósofo, que viveu entre 1888 e 1935. As suas palavras, porém, mantêm toda a atualidade.

Ao CDS aplica-se a mesma ideia. Se há descontentamento interno, que se clarifique quem liderará o partido para o desafiante ano que aí vem. Adiar o Congresso dos centristas para depois das legislativas não resolve o mal-estar interno nem dá sustentabilidade ao CDS-PP. Nos partidos, como num governo, os interesses nacionais devem estar acima dos individuais.

Por falar na defesa de interesses coletivos, a Cimeira do Clima arranca hoje em Glasgow, cidade da Escócia, mas infelizmente a expectativa do mundo é, em geral , baixa. As grandes decisões para a proteção do planeta têm vindo a ser adiadas e muitas potências saltam fora do compromisso sucessivamente, como é o caso da China. Espero enganar-me e que, desta vez, seja diferente. Agir para mitigar os efeitos das alterações climáticas não pode esperar. Grandes consensos para conseguir reduzir as emissões de carbono e manter o aquecimento global abaixo de 1,5ºC são uma meta talvez otimista, já antes prevista nos Acordos de Paris, mas as dificuldades de implementação das medidas concretas são sempre muitas. Talvez o frio e o nevoeiro característicos da Escócia ajudem a clarificar as mentes iluminadas do poder internacional. Também aos líderes presentes na COP26 se aplicam as palavras sábias de Pessoa: "Querer não é poder. Quem pôde, quis antes de poder só depois de poder. Quem quer nunca há de poder, porque se perde em querer." Em suma, estamos perante um Desassossego global.

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