Félix Morgado "Saio porque fui fiel aos meus princípios"
Foi em tom duro que José Félix Morgado se despediu da Caixa Económica Montepio Geral, a que presidiu desde 2015. O gestor saiu antes do final do mandato, que só terminava no final deste ano. E deixou uma mensagem com críticas e recados. "Saio porque fui fiel aos meus princípios éticos e profissionais, sem ceder a interesses que não sejam os da instituição e dos trabalhadores", afirmou, numa carta enviada aos trabalhadores do banco. "É difícil ser vertical, sério, honrado e garantir um governo societário rigoroso. Esse foi o caminho que escolhi há muito e do qual não me afasto."
Há muito que estalou o verniz entre Félix Morgado e António Tomás Correia, presidente da Associação Mutualista Montepio, dona do banco. A última farpa foi dada por Tomás Correia, no sábado. Em entrevista ao Dinheiro Vivo/TSF, Tomás Correia acusou a gestão de Félix Morgado de "não mostrar um grande empenho" pelo setor da economia social.
Em dezembro, Tomás Correia anunciou que a administração liderada por Félix Morgado estava de saída. O novo CEO do banco seria Nuno Mota Pinto. Mas este vai ficar apenas como administrador executivo, depois de terem surgido questões em torno de um crédito seu em incumprimento, que foi resolvido. Para chairman iria Francisco Fonseca da Silva, mas, por ter créditos no Montepio, acabou por recuar.
O sucessor de Félix Morgado é Carlos Tavares, ex-presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, que tomou posse ontem. Tavares é chairman e presidente executivo da Caixa Económica durante um período de seis meses. Depois assumirá apenas a função de chairman, com poderes reforçados. Até lá, a Associação Mutualista e os novos acionistas do banco terão de escolher um CEO. A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e outras instituições de cariz social vão comprar até 2% do capital do banco, num investimento de cerca de 45 milhões de euros.
Tomás Correia pretende criar um grupo financeiro da economia social e que o banco precisa, por isso, de uma nova liderança.
Félix Morgado sai mas deixa o banco com resultados positivos. O Montepio fechou o ano de 2017 com um lucro líquido de 30,1 milhões de euros que compara com um prejuízo de 86,5 milhões um ano antes.
Foi o primeiro a liderar o Montepio sem estar na presidência da Associação Mutualista. Um gestor independente do acionista, que geriu o banco como uma instituição financeira, cujo objetivo era obter lucros e que acabou por impor cortes de custos.
"Para além da recuperação económica e financeira, cumpre-me sublinhar o reforço do governo societário e do sistema de controlo interno", afirma Félix Morgado na sua mensagem. "Partilhando com todos os meus seis colegas de conselho, e com todos vós, cumpri a missão que me foi confiada", refere. Destacando os resultados positivos alcançados - "quer alguns queiram quer não" -, frisa o "orgulho" nas metas cumpridas.