FC Porto campeão no clássico ou no sofá? Da vingança de Robson à festa de Conceição no hotel

A um ponto para festejar o título, os dragões vão viver um início de semana de emoções fortes. Por duas vezes o Sporting já permitiu a festa portista em clássicos, mas o FC Porto já celebrou quatro vezes sem precisar jogar.
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O FC Porto tem pela frente três cenários e só dois deles lhe permitem conquistar o 29.º título de campeão nacional já esta semana. Nesta terça-feira poderá festejar no hotel de estágio se, por volta das 23.15 horas, no Estádio da Luz, o Benfica não tiver conseguido vencer o V. Guimarães.

Se os encarnados vencerem, então os dragões têm de somar um ponto no clássico de quarta-feira, em casa, diante do Sporting para poderem festejar. Se, no entanto, perderem frente aos leões será tudo adiado para o próximo dia 20, quando a equipa de Sérgio Conceição vai receber o Moreirense.

São três cenários que se colocam, numa altura em que a I Liga está na reta final, que é como quem diz, nas últimas três jornadas.

Festa na estação de São Bento

O Sporting poderá, pela terceira vez na história do campeonato, permitir que o FC Porto faça a festa da conquista do título num clássico entre ambos os clubes. Contudo, ao contrário do que pode suceder desta vez, nas duas anteriores ocasiões a festa foi no próprio recinto dos leões.

A primeira vez que este cenário se verificou foi na primeira edição do campeonato, na época 1934-35. Na tarde de domingo, 12 de maio de 1935, o FC Porto deslocava-se a Lisboa para jogar a última jornada no estádio do Campo Grande, então a casa do Sporting. Um empate bastava para fazer a festa de primeiro campeão da história do futebol português.

Sem a sua principal estrela, o avançado Pinga, os dragões até se viram a perder aos 25 minutos por causa de um golo de Ferdinando, mas Carlos Nunes (40') e Lopes Craveiro (46') deram a volta ao resultado. O melhor que os leões conseguiram foi chegar ao empate através de Manuel Soeiro a cinco minutos dos 90.

A festa azul e branca foi enorme, sobretudo à chegada ao Porto, onde milhares de pessoas aclamaram o primeiro campeão nacional na Estação de São Bento.

A vingança de Robson em dia trágico

Só 60 anos depois o Sporting voltou a "permitir" que o FC Porto fizesse a festa do título em sua própria casa. Foi a 7 de maio de 1995, a três jornadas do final do campeonato, quando um golo de penálti de Domingos Paciência sentenciou o jogo e o campeonato. A vitória por 1-0 permitiu aos dragões aumentarem para seis pontos a vantagem sobre os leões.

Esta conquista foi muito especial para o treinador portista, o inglês Bobby Robson, que um ano e cinco meses antes tinha sido despedido pelo presidente do Sporting, Sousa Cintra, em pleno avião, no regresso da comitiva leonina da Áustria, após a eliminação da Taça UEFA perante o Casino Salzburgo (0-3).

"Eu estava estupefacto, sentado no meu lugar do avião, enquanto o José Mourinho me traduzia estas palavras. Na manhã seguinte fui chamado ao gabinete da direção e fui demitido. Pela primeira vez em 15 anos, o Sporting estava em primeiro lugar no campeonato português - e ali estava eu a ser despedido. Mourinho estava comigo quando o balde de água me caiu em cima", revelou Robson na sua autobiografia.

Foi a primeira e única vez que o treinador inglês foi despedido na sua carreira, mas um mês depois estava a entrar nas Antas para orientar o FC Porto. Quis o destino que fosse campeão nacional em Alvalade, mesmo por debaixo das barbas de Sousa Cintra.

"Deu-me um grande prazer ser campeão pela primeira vez pelo FC Porto em Alvalade. Foi uma espécie de vingança. Porque aquilo que o Sporting fez comigo não foi correto. Nesse dia, antes do jogo, disse ao presidente que íamos ganhar a Alvalade e que seríamos campeões. Alvalade foi o lugar perfeito para nos sagrarmos campeões", disse Robson numa entrevista ao jornal Record em março de 2000.

Esse jogo ficou, no entanto, ensombrado pela tragédia, pois horas antes do início da partida um varandim do antigo Estádio José Alvalade ruiu, provocando a morte a dois jovens adeptos leoninos.

Dragão quatro vezes campeão sem jogar

Outra possibilidade que se depara à equipa de Sérgio Conceição é ser campeão sem ter de jogar, algo que pode acontecer já esta terça-feira se o Benfica não vencer o V. Guimarães. Se assim for será a quinta vez que tal acontece. Só na era das transmissões televisivas passou a ser possível um cenário destes, pois antes os jogos eram todos disputados nas tardes de domingo.

A primeira vez que o FC Porto experimentou a sensação de ser campeão antes de jogar foi a 22 de maio de 1999. Nessa tarde de sábado, o Boavista, que se mantinha na luta pelo título à entrada para a penúltima jornada, foi a Faro defrontar o Farense e estava obrigado a vencer e aos 88 minutos estava mesmo a ganhar por 2-0... só que de repente, os algarvios marcaram dois golos e o empate 2-2 com que terminou a partida fez rebentar a festa portista em... Alvalade. Era ali, em casa do rival, que os jogadores do FC Porto estavam a aquecer quando se soube da notícia, os dragões eram pentacampeões.

Apesar da vontade de festejar, os jogadores do FC Porto lá foram defrontar o Sporting e até estiveram a perder - golo de Pedro Barbosa no início da segunda parte -, mas aos 85 minutos Zahovic fez o empate, que acabou por ser uma boa maneira de a equipa treinada então por Fernando Santos continuasse os festejos.

Cinco anos depois foi a vez de José Mourinho experimentar essa sensação, na época 2003-04. O FC Porto estava em estágio num hotel portuense para no dia seguinte defrontar o Alverca, quando em Leiria o Sporting foi derrotado pelo União devido a um golo de Alhandra, jogador que tinha sido formado pelos leões. Aquilo que deveria ser um momento de repouso dos atletas para o jogo seguinte tornou-se um local de festa, com os jogadores portistas, entre os quais Sérgio Conceição, na varanda a atirarem champanhe para cima dos adeptos, que em loucura festejavam mais um título dos dragões.

Em 2012, a duas jornadas do final do campeonato, os atletas portistas estavam em casa pois, na noite anterior tinham vencido o Marítimo, na Madeira por 2-0, quando o Benfica de Jorge Jesus não conseguiu melhor que um empate 2-2, entregando o segundo título consecutivo aos dragões, então orientados por Vítor Pereira, que tinha passado de adjunto a técnico principal dos dragões, após a saída de André Villas-Boas.

Ser campeão no sofá é algo que, curiosamente, Sérgio Conceição conheceu como jogador e, em 2017-18, voltou a experimentar, mas como treinador do FC Porto, logo no primeiro ano ao comando da equipa. Isto porque na véspera de receber o Feirense, Sporting e Benfica jogavam em Alvalade. O empate 0-0 serviu na perfeição aos portistas que fizeram a festa ainda antes de jogarem para a penúltima jornada, afinal os dois rivais de Lisboa ficavam a quatro pontos de distância. No dia seguinte, os dragões confirmaram o título com um triunfo por 2-1 sobre o Feirense.

Amorim invencível é obstáculo para recorde

A faltar apenas um ponto para colocar um ponto final nas contas do título, o FC Porto enfrenta um Sporting que tem um treinador invencível, pois em 19 jogos ao comando de equipas da I Liga soma 16 vitórias e três empates em competições nacionais.

Em ano de estreia ao mais alto nível, Rúben Amorim promete ser um osso duro de roer para Sérgio Conceição, que esta época perdeu os dois duelos com o jovem técnico de 35 anos, quando este orientava o Sp. Braga: no Dragão perdeu por 2-1 para o campeonato e em Braga, na final da Taça da Liga, foi derrotado por 1-0.

Esteja ou não já decidida a I Liga quando se iniciar o clássico, por certo que no pensamento de Sérgio Conceição estará uma meta que tornará este título ainda mais saboroso, o de alcançar a maior vantagem pontual das últimas nove épocas. Neste momento, o FC Porto tem oito pontos de avanço sobre o Benfica, algo que nenhum campeão conseguiu desde 2010-11, época em que André Villas-Boas conduziu os dragões a um impensável avanço de 21 pontos sobre o Benfica, então treinado por Jorge Jesus.

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