Famílias tardias e pequenas mas com entreajuda

A estrutura familiar em Portugal mudou muito desde a entrada na Comunidade Europeia. Casamo-nos menos, mais tarde e adiamos a paternidade como os parceiros comunitários. Mas temos mais divórcios, mais nascimentos fora do casamento e, sobretudo, menos filhos, o que também contribui para a diminuição dos agregados familiares. Mantemos os filhos em casa até tarde, uma característica do Sul da Europa. E, apesar do número de pessoas sós ter aumentado, estamos longe da média. Os familiares apoiam-se.
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As famílias portuguesas já não cumprem a tradição. Mudaram muito nas últimas duas décadas, aproximando-se do padrão dos países da União Europeia. Os agregados familiares são mais pequenos, diminuíram os casais que vivem com um pai, uma mãe ou um tio. Há menos casamentos e mais divórcios. As pessoas têm menos filhos e mais tarde, passámos do país com a maior taxa de nascimentos para a mais baixa. As pessoas do mesmo sexo podem casar-se. Tudo isto mantendo a cultura portuguesa e que é o apoio à família, diz a socióloga Karin Wall.

"Em Portugal temos uma cultura mais familiarista do que outros países europeus. O facto de uma pessoa estar só é visto como uma perda e as famílias tendem a apoiar-se, não só em relação aos mais velhos como aos mais novos. A ideia de que as famílias se devem entreajudar-se é uma norma social importante, o que não significa necessariamente viverem em conjunto. No entanto, apesar de estar a aumentar o número de pessoas que vivem sós (a segunda grande mudança), a proporção é muito inferior à média europeia. E cerca de 35% das famílias clássicas são de casais com filhos", explica Karin Wall.

Os casais com filhos ainda constituem a principal composição do agregado familiar nacional. "Mas o envelhecimento, o adiar da maternidade e o divórcio são tendências que vêm determinando a crescente atomização do conceito de família", observa o estudo "25 Anos de Fundos Estruturais". Entre 1995 e 2010, outros tipos de família reforçaram-se, nomeadamente as dos casais sem filhos e as famílias monoparentais. "A crescente participação das mulheres no mercado de trabalho, a evolução das qualificações profissionais, o planeamento familiar ou a conjuntura económica" são as explicações para a mudança.

Karin Wall identifica quatro grandes tendências da evolução da família em Portugal. A primeira é a diminuição do número de membros dos agregados familiares. Entre os Censos de 1981 e de 2011, estas cresceram cinco vezes mas encolheram. Em 30 anos, a dimensão média da família passou de 3,3 pessoas para 2,6, uma diferença que se acentuou nas últimas décadas, já que em 1960 os agregados tinham em média 3,7 membros. E se pensarmos nos lares com mais de cinco pessoas, a percentagem desce para 2% (era 17,1% em 1960). Estamos a falar de mais filhos por casal, mas também de agregados alargados aos avós, tios e a outros parentes. "As famílias de maior dimensão estão concentradas na regiões do Minho-Lima, do Cávado, do Ave, do Tâmega e nas regiões autónomas, enquanto as de uma só pessoa se destacam no interior centro e Sul do País", refere o estudo.

As famílias complexas - casais, filhos e outros parentes - têm vindo a diminuir, passando de 13,9% dos agregados em 1991 para 8,7% em 2011, sendo esta outra das mudanças na estrutura familiar nacional. A diminuição foi sobretudo nos últimos anos e coincidiu com uma evolução económica do País que permitiu aos casais jovens autonomizarem-se. "No passado havia menos oportunidades para haver uma residência autónoma, sobretudo nos primeiros anos de casados. Os casais ficavam a viver com as famílias até conseguirem a independência económica. Além de que nas sociedades rurais era obrigatório ficar com os pais para tomar conta deles. Agora, com o Estado social, há uma complementaridade de apoios e os mais velhos também têm rendimentos, não existindo essa necessidade", sublinha a socióloga da família. Um cenário que estará a alterar-se devido à crise económica e segundo as notícias que dão conta de casais desempregados a regressarem a casa dos pais. Karin Wall acredita nessa alteração mas adverte que as mudanças nas famílias são contínuas e ainda é cedo para tirar conclusões.

A forma como os portugueses gerem o número de filhos é outra das grandes mudanças nacionais. Em Portugal há mais casais com filhos do que na média europeia, mas há muito menos crianças. A socióloga Anália Torres explica que "somos um país de filhos únicos" e que os cidadãos querem ser pais, só não avançam para um segundo filho por falta de condições. Existe uma média de 1,28 filhos por mulher em idade fértil (índice de fecundidade), a quarta mais baixa dos 27 países da UE. Também nos destacamos no maior número de nascimentos fora do casamento, mais que triplicou o número de bebés por mães não casadas. Outra mudança é termos passado do Estado membro com menos divórcios para o que tem mais divórcios, numa evolução inversa ao número de matrimónios. Aumentaram as uniões de facto.

Já no que diz respeito à idade das mães ao nascimento do 1.º filho estamos alinhados pelas práticas comunitárias, posicionando-se no meio da tabela dos 27. Também a idade ao primeiro casamento aumentou e é nas regiões do Sul que se casa mais tarde, seja homem ou mulher.

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