O Turismo em Portugal é o prato forte do momento, de que todos se sentem habilitados a falar, por boas e más razões. De uma banda, é apontado como responsável pela forte recuperação da economia portuguesa no pós-covid, que nos irá permitir uma saída acelerada da crise, antecipando as previsões de retoma, quer por parte das autoridades portuguesas, quer das internacionais..De facto, da Comissão Europeia vem o consolo da previsão de um crescimento económico em Portugal em 2022 de 5,8%, muito acima da Zona Euro (2,7%), e é apontado o Turismo Internacional, em franca recuperação, como o inequívoco responsável para este crescimento..De outra banda, não há dia em que não se fale da tremenda falta de pessoas para trabalhar no Turismo, especialmente na hotelaria e na restauração..Sem dúvida uma e outra são constatações verdadeiras e ambas estão ligadas, quer já no momento presente, quer no futuro. Porque sem pessoas não há Turismo e sem Turismo o nosso país não prospera, o que se fizer hoje irá marcar o futuro do país..O tema da escassez de RH é já velho. Basta navegar nas notícias por essa busca e, já em 2017, os hoteleiros vinham alertando para a necessidade de se captarem pessoas para as escolas e profissões hoteleiras, quer para house-keeping, serviço de cozinha e mesa, quer para receção, revenue managment, apoio administrativo, etc. Em 2019 foi reforçado o sinal de alerta e apontada a urgência em serem abertos canais mais ágeis para captar trabalhadores emigrantes, sobretudo no perímetro da CPLP..Portanto, o que aconteceu de lá para cá foi o agravamento dessa situação, que, aliás, veio a atingir vários setores económicos, e toda a Europa ocidental. E os tais "canais" não-abertos..As causas são várias, por isso as soluções tudo menos fáceis..Desde logo apontam-se o nosso "inverno demográfico" - a baixa taxa de natalidade em Portugal -; a maior qualificação das pessoas; os salários baixos; os horários e condições de trabalho; a rigidificação da contratação coletiva; o peso dos custos laborais para as empresas; os prolongados esquemas de lay-off e apoios ao desemprego durante a pandemia e a conversão noutros tipos de funções e trabalho que a mesma potenciou..Vários destes constrangimentos são comuns a quase todos os países europeus, dos menos aos mais fortemente "turísticos"..Para não irmos mais longe, aqui ao lado, em Espanha ,a indústria turística diz que lhe faltam 100 mil trabalhadores; em França a maior associação do setor diz que faltam 250 mil, só para cafés e restaurantes; em Itália o presidente da maior federação diz que faltarão este verão 20% dos trabalhadores necessários e o ministro do Turismo concretiza: 250 mil. Já para não falar no Reino Unido, neste caso mais ainda a braços com as consequências do Brexit e a saída brutal de emigrantes..Ou seja, quando em novembro de 2021 a Associação da Hotelaria de Portugal avançou com o número de 15 mil trabalhadores em falta, só para os hotéis, se pecámos, foi por defeito. É que, com a expectativa de crescimento que o verão nos traz, esse número ficará muito aquém das necessidades, havendo ainda que somar todas as outras fileiras do Turismo, particularmente na restauração..Dado o diagnóstico, que soluções poderão ser desenhadas? Aponta-se a necessária subida de salários como cura para este desespero. E criticam-se os empresários por hoje arrepelarem os cabelos quando pouco fazem para cativar e reter os trabalhadores. Será assim? É justa a crítica? Será que a subida dos salários, admitindo que as empresas a podem suportar, só por si iria resolver o problema?.Não creio. Porque o tema é muito sério e merece séria reflexão, deixo para a próxima crónica a minha perspetiva..Vice-presidente executiva da AHP - Associação da Hotelaria de Portugal