O Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) está a recorrer a um dos principais grupos de saúde espanhóis para ultrapassar a falta de médicos nos hospitais de Faro e de Portimão. São já sete os anestesistas a trabalhar no CHUA, que começou a contratar esta empresa há quase um ano. Sindicatos dos médicos não se recordam de outro caso de uma empresa estrangeira a colocar tarefeiros em Portugal..O centro hospitalar confirmou ao DN a contratação de anestesistas à empresa Quirónsalud, que nasceu na região Andaluza, mas que se assume como o maior grupo hospitalar espanhol, no seu site, com mais de 70 unidades de saúde no país. Em Portugal, a empresa já tem um centro clínico de reprodução medicamente assistida, em Lisboa, e agora contribui para o preenchimento das escalas de anestesiologia no sul.."O Centro Hospitalar Universitário do Algarve recorre à figura da contratação de prestadores de serviços quando não é possível contratar diretamente para os seus quadros. Neste caso concreto, trata-se de contratação de especialistas em anestesiologia para fazer face às necessidades do CHUA", respondeu o hospital ao DN..São sete os médicos do grupo espanhol a trabalhar no Algarve, de forma rotativa, desde novembro de 2018. Perante isto, os sindicatos de médicos alertam para a possibilidade de esta ser uma forma de a empresa em questão começar a colocar médicos noutras zonas do país, nomeadamente na região de Lisboa e Vale do Tejo, onde o recurso a tarefeiros é também muito elevado. "É o cavalo de Troia", diz fonte sindical, que critica a aposta em mão--de-obra estrangeira, em vez de profissionais portugueses..O CHUA paga à empresa espanhola 50 euros/hora por cada anestesista, indicou a instituição de saúde. Valor justificado pelo regime de exceção em que se insere o hospital por causa da falta de médicos. Segundo o Despacho 3027/2018, os médicos tarefeiros não especializados podem receber até 22 euros e os especializados 26 euros, quando um profissional do Serviço Nacional de Saúde no topo da carreira ganha 23 euros por hora..A administração do centro hospitalar indicou ainda que "este processo foi dado a conhecer à Ordem dos Médicos". No entanto, o organismo diz não ter conhecimento até ao momento deste caso. "A Ordem dos Médicos não recebeu nenhuma informação particular sobre a empresa em causa, no entanto sabemos que pela proximidade a Espanha tem sido recorrente um maior recurso a médicos espanhóis na região do Algarve", indicou o bastonário, Miguel Guimarães..Algarve aumenta recurso a prestadores de serviços.O Centro Hospitalar Universitário do Algarve contratou no ano passado 238 706 horas a tarefeiros, que custaram mais de 8,2 milhões de euros, de acordo com o relatório social do Ministério da Saúde e do Sistema Nacional de Saúde, divulgado no mês passado. O Algarve foi a região que mais aumentou os gastos com prestadores de serviço face ao ano anterior, em parte, porque os números referentes a 2017 não estavam devidamente atualizados, justificam os autores do documento de 2018..A falta de médicos nos hospitais de Faro e de Portimão vai muito para além das carências na área de anestesiologia. Na neonatologia há quatro profissionais de baixa (por doença e por gravidez) e na pediatria o serviço de urgência chegou mesmo a encerrar rotativamente durante o verão por falta de profissionais..105 milhões de euros gastos em 2018.No total, no ano passado, foram gastos mais de 105 milhões de euros em prestadores de serviços em Portugal, um aumento de 7,3% em relação ao ano anterior. A maioria (65%) serviu para contratar médicos em contexto de urgência nas áreas de medicina geral e familiar, interna, anestesiologia ou ginecologia.."O recurso excessivo a médicos tarefeiros, sobretudo através de empresas médicas, é uma prática que está em crescimento", diz Miguel Guimarães. Para combater esta situação, o bastonário sugere a abertura de concursos "em tempo útil" e que seja privilegiada a contratação para os quadros dos hospitais. "Infelizmente, nada tem sido feito" pelo Ministério da Saúde, que prometeu no início do mandato reduzir o número de horas dos tarefeiros, acusa Miguel Guimarães..Em julho, a ministra da Saúde afirmou estar a estudar uma forma de aumentar os rendimentos dos médicos que escolhessem dedicar-se, em regime de exclusividade, ao Serviço Nacional de Saúde. O objetivo seria tornar esta hipótese mais aliciante, sem imposições, referiu Marta Temido..Nas contas do bastonário, o dinheiro gasto com os tarefeiros em 2018 daria para contratar mais de cinco mil médicos para os quadros dos hospitais. "Não estamos a proporcionar serviços de qualidade quando desinvestimos num trabalho continuado, em equipa e num projeto profissional que permita que os médicos cresçam e que o SNS continue a ser o motivo de orgulho que foi para nós nas últimas décadas", defende Miguel Guimarães.