Fácil mais fácil não há

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"O final de uma história deve ser, simultaneamente, surpreendente e inevitável." Tenho esta frase guardada para qualquer eventualidade, roubada ao filme Dentro de Casa, de Francois Ozon. Na cena em causa falava-se sobre literatura, mas poderia ser sobre slogans, vejam lá: "Um bom slogan deve ser, simultaneamente, surpreendente e inevitável."

Há mil e uma variações que podem ser feitas sobre o assunto, aqui vai mais uma: criar um bom slogan é como fazer rir, ou é fácil ou é impossível. Esta é minha, não roubei a ninguém - pelo menos não conscientemente.

Dá trabalho criar a frase perfeita, é claro que dá - só os preguiçosos e os pouco dotados acreditam que a genialidade se alimenta da sorte - se bem que, mesmo tendo consciência disso, dificilmente conseguimos disfarçar um certo desdém quando nos cruzamos com um slogan exemplar, mais ou menos como ver o Messi a jogar à bola. "Vá para fora cá dentro": "O algodão não engana"; "O que é Nacional é bom"; "Há mar e mar, há ir e voltar", eis alguns dos exemplos. Tão fácil, tão simples, que qualquer um parece ser capaz, não é? E todos portugueses, salvo erro.

Eu, publicitário amador, me confesso. Um dia, em viagem, conheci uma pessoa que, incapaz de encontrar uma agência de publicidade que reconhecesse a sua genialidade, resolveu tatuar no corpo os slogans que ia criando. "Escreva o que eu lhe digo: a forma tradicional de fazer publicidade está a ficar esgotada, por isso as marcas acabarão a pagar às pessoas para tatuar os seus slogans", disse-me. Não sei o que Alexandre O'Neill ou Fernando Pessoa teriam a dizer sobre isso, mas parece-me, cada vez mais, um final tão surpreendente quanto inevitável.

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