Ex-vereador diz que projeto da câmara se esqueceu do turismo

Nunes da Silva, responsável pela mobilidade no mandato de António Costa, defende que não considerar aumento do número de passageiros no aeroporto põe em causa o estudo
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O vereador que foi responsável pelo pelouro da Mobilidade na Câmara Municipal de Lisboa, no mandato de António Costa, acusa o executivo de Fernando Medina de se ter esquecido do crescimento do turismo quando planeou as mudanças na 2.ª Circular. Fernando Nunes da Silva defende que a não consideração do "aumento da procura" da via rápida, "associado ao crescimento do tráfego dos passageiros no aeroporto" e "aos postos de trabalho que daí decorrerão", põe em causa os resultados do estudo do tráfego que acompanha o projeto de remodelação, em consulta pública até dia 29.

Em causa, explica o professor do Instituto Superior Técnico, está o facto de a CRIL não ser uma alternativa para escoar o trânsito que a autarquia pretende que seja desviado da 2.ª Circular após a sua conversão numa avenida com caráter urbano. "Ainda que não de uma forma explícita, esta posição tem vindo a ser justificada pela intenção de reformular os acessos ao aeroporto de Lisboa e, desse modo, canalizar a maior parte do tráfego por ele gerado para a CRIL. Ora sucede que a grande maioria (mais de 2/3) dos destinos dos passageiros desembarcados na cidade de Lisboa se situam na própria cidade, em particular no eixo Marquês de Pombal/Baixa, na zona das Avenidas Novas e no Parque das Nações (mais recentemente e com menor volume de procura). (...) Deste modo, não se compreende como poderá ser a CRIL uma alternativa para a maioria do tráfego turístico com origem ou destino no aeroporto, pelo que a não consideração deste acréscimo de procura para a 2.ª Circular é manifestamente uma insuficiência do estudo", explica o especialista em Transportes, na sua participação escrita.

Na quinta-feira, o coordenador do projeto, Vasco Colaço, adiantara numa sessão de esclarecimento sobre o tema que a previsão é de que a CRIL vá receber 34% dos veículos que vão deixar de circular por dia na 2.ª Circular, onde atualmente transitam diariamente 105 mil veículos. Ao todo, os técnicos estimam que a redução seja de 10% por dia - menos nove pontos percentuais do que o que consta do documento divulgado publicamente e que, reconheceu Vasco Colaço, está desatualizado.

Além do aumento de passageiros no aeroporto de Lisboa - no ano passado, o crescimento relativamente a 2014 foi de 10,7%, para mais de 20 milhões de pessoas - , Fernando Nunes da Silva lembra também os quatro mil empregos que poderão ser criados a curto prazo na sequência destes números.

"Sabendo-se que a repartição modal dos trabalhadores do aeroporto e zonas logísticas envolventes é extremamente favorável ao transporte individual (até pelo tipo de horários que se praticam), mesmo depois da ligação da linha de metropolitano, a não consideração deste aumento de tráfego é mais uma insuficiência do estudo, dada a dimensão em número de veículos por dia que essa procura irá significar", argumenta o eleito pelos Cidadãos por Lisboa na lista do PS, que apresentou a sua demissão da Assembleia Municipal. E remata sublinhando que "a simples consideração destes dois aspetos (...) é suficiente para pôr em causa os resultados da análise da capacidade de escoamento da 2.ª Circular".

Orçada em 12 milhões de euros (com IVA), o projeto da autarquia destina-se a aumentar a segurança, a fluidez e a sustentabilidade ambiental da via. Entre as medidas previstas, está a sua repavimentação, a instalação de um separador central arborizado com 3,5 metros de largura, a marcação da via da direita para entradas e saídas e a reabilitação do sistema de drenagem.

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