Extrema-direita usa covid-19 para ameaçar CDU de Merkel em eleição regional crucial

Alternativa para a Alemanha surge nas sondagens para as eleições na Saxónia-Anhalt quase empatada com os conservadores, no último escrutínio antes das eleições que vão ditar o adeus à chanceler. Voto de hoje é desafio para o novo líder, Armin Laschet.
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O estado alemão da Saxónia-Anhalt só tem 2,2 milhões de habitantes, mas as eleições regionais deste domingo representam um teste crucial para os conservadores de Angela Merkel a menos de quatro meses do escrutínio que vai marcar o adeus da chanceler alemã. E as sondagens locais não trazem boas notícias para Armin Laschet, que desde janeiro está à frente da CDU e não está a conseguir travar a queda do partido a nível nacional. A Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla em alemão), à boleia da contestação às medidas restritivas para lutar contra a covid-19, está empatada com os conservadores e pode até ganhar.

O candidato da União Democrata-Cristã (CDU) é Reiner Haseloff, chefe do governo da Saxónia-Anhalt desde 2011 - desde a reunificação, em 1990, o partido só perdeu uma eleição nesta região da antiga Alemanha Oriental. Há cinco anos conquistou 30% dos votos e 30 dos 87 deputados no Parlamento regional, tendo feito uma coligação de governo com o Partido Social-Democrata (SPD, 10,6% e 11 deputados) e Os Verdes (5,2% e cinco representantes).

Apesar de a maioria das sondagens apontar para a vitória da CDU, num estudo INSA para o Bild os conservadores surgiam esta semana com 25% de intenções de voto, menos um ponto percentual do que a AfD. Em 2016, a extrema-direita conquistou 24,3% dos votos e elegeu 24 deputados. Mesmo em caso de vitória da AfD - e seria a primeira para o partido a nível regional -, existe um "cordão sanitário" em torno da formação, com nenhum dos outros partidos políticos dispostos a aliar-se à extrema-direita.

Contudo, a repetição da frágil maioria de Haseloff poderá não ser possível - o SPD tem 10% das intenções de voto e Os Verdes têm 11% -, abrindo a porta a outros partidos. O Die Linke (esquerda) tem 13% nas sondagens (teve 16,3% e elegeu 16 deputados há cinco anos), com o Partido Democrático Liberal (FDP) a ter 8% (em 2016 não elegeu ninguém).

Depois de ter feito campanha contra o euro em 2013 e contra os imigrantes em 2015, aproveitando a contestação social à decisão de Merkel de deixar entrar milhares de refugiados da Síria, Iraque ou Afeganistão, a AfD concentra-se agora na pandemia de covid-19. Ou melhor, nas críticas às medidas que foram implementadas pelo governo para conter a propagação do novo coronavírus. Nos panfletos distribuídos na região, o partido apela à "resistência" e ao "fim de todas as restrições anticonstitucionais às nossas liberdades".

Isto apesar de o estado ter apresentado uma das taxas mais baixas de infeção de covid-19 na Alemanha, algo que Haseloff pode argumentar a seu favor. As medidas restritivas foram aliviadas na última quarta-feira, sendo permitidas reuniões com até 10 pessoas, comer em esplanadas é permitido sem necessidade de testes e os restaurantes estão abertos depois das 22h00. As aulas são presenciais.

Apesar de a AfD ter estabilizado a nível nacional nos 10% ou 12% das intenções de voto, perdendo força na Alemanha Ocidental, continua a ter muito apoio na antiga Alemanha de Leste, onde pode chegar a mais de 20% das intenções de voto. Na Saxónia-Anhalt, as "tendências antidemocráticas" da filial local da AfD levaram as autoridades a colocá-la sob vigilância. O cabeça de lista é Oliver Kirchner, que pertence à antiga fação Der Flügel (a mais radical), que a direção do partido pediu para ser dissolvida em abril do ano passado. Um dos seus líderes, Björn Höcke, esteve em campanha na Saxónia-Anhalt.

Do lado da CDU, Laschet também esteve na região, mas sem grande impacto - Haseloff era um dos que defendia a candidatura do líder dos aliados bávaros, Markus Söder, a chanceler. Ainda assim, um mau resultado pode prejudicá-lo. "A CDU está numa posição relativamente fraca nas sondagens, tal como Laschet", disse à AFP o cientista político Hajo Funke, da Universidade Livre de Berlim. "Se a AfD estiver ligeiramente mais forte do que a CDU no domingo, então poderá haver debates sobre cargos na CDU e enfraquecer ainda mais a situação" no partido.

Estas são as últimas eleições a nível regional antes das eleições federais de 26 de setembro, que vão marcar a saída de Angela Merkel, após 16 anos no poder. A CDU continua à frente nas sondagens, mas tem vindo a perder terreno para Os Verdes. Estes tiveram um bom resultado nas últimas duas eleições regionais (na Renânia-Palatinado e Bade-Vurtemberga, neste último reforçando a liderança), o que ajudou a cimentar a candidatura de Annalena Baerbock a chanceler. Na Saxónia-Anhalt deverá melhorar o resultado de 2016, mas todos os olhares estão centrados na AfD.

susana.f.salvador@dn.pt

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