Extrema-direita belga à procura de ganhos após os atentados

Vlaams Belang, Voorpost, Nova Aliança Flamenga e a ala belga do Génération Identitaire são alguns dos grupos ou partidos que tentam capitalizar o sentimento de revolta.
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Após os atentados terroristas que fizeram 32 mortos e 340 feridos a 22 de março em Bruxelas, a extrema-direita procura ganhar um novo fôlego na Bélgica. Vlaams Belang, Voorpost, Nova Aliança Flamenga e a ala belga do grupo francês Génération Identitaire são alguns dos grupos ou partidos que tentam capitalizar o sentimento de revolta entre a população do país que foi atacado pelo Estado Islâmico.

Segundo disse ao MailOnline Tom Van Grieken, líder do Vlaams Belang (O Interesse Flamengo), a página de Facebook do partido ganhou 10 mil gostos da noite para o dia e alguns posts a alertar os perigos do islão radical foram partilhados quatro milhões de vezes. "Para um país pequeno isto é massivo. O apoio cresceu em 25%. As pessoas estão a perceber que tudo o que temos dito está certo", disse Grieken, referindo-se ao facto de a Bélgica ter 11 milhões de habitantes. Acusando o governo belga de olhar para o lado e de ser cobarde, o líder do Vlaams Belang aproveitou para fazer promessas eleitorais. "Esperamos ganhar as próximas eleições e expulsar os muçulmanos. Nunca dará resultado vivermos juntos". Apesar do desejo de Grieken, a verdade é que o partido por ele dirigido tem vindo a piorar nos resultados em eleições federais. Se em 2007 elegeu 17 deputados e teve 11,99%, em 2010 conseguiu 12 e 7,76% e em 2014 apenas três e 3,67%.

Quem também se vangloriou de um apoio crescente foi o Voorpost (Poder Branco em português). Em declarações àquele mesmo site, o líder, Bart Vanpachtenbeke, disse: "Um maior número de pessoas começou a apoiar-nos online. Mais do que duplicámos os novos membros em três dias". Alvo de vigilância por parte das autoridades, o Voorpost, afirmou Vanpachtenbeke, tenciona realizar ações que demonstrem "que há muita raiva em Bruxelas". Ao MailOline garantiu: "Não podemos dar informações, mas estamos a planear novos protestos".

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Previsto para este sábado em Molenbeek, na região de Bruxelas, estava um protesto do grupo extremista Génération Identitaire, que foi entretanto proibido pela burgomestre daquela comuna predominantemente muçulmana. "[Françoise Schepmans] preferiu proibir uma manifestação contra os islamitas, enquanto os islamitas proliferam no seu bairro com a cumplicidade da população", criticou o grupo, que foi fundado em França em 2012, numa mensagem colocada na sua página de Facebook. O Génération Indentitaire integra o Bloc Identitaire, liderado, desde 2003, pelo músico de jornalista Fabrice Robert, um ex-membro da Frente Nacional, partido de extrema-direita francês hoje liderado por Marine Le Pen.

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Há precisamente uma semana, em pleno domingo de Páscoa, a marcha contra o medo foi cancelada por motivos de segurança. Mesmo assim algumas pessoas saíram às ruas para prestar homenagem às vítimas dos atentados. Mas viram-se confrontadas com a presença de centenas de hooligans que acorreram à Praça da Bolsa para manifestar ódio aos islamitas. Os radicais, alguns com foguetes very-light, foram expulsos pela polícia, depois de episódios de forte tensão.

O sucedido mereceu condenação dos partidos flamengos, à exceção da Nova Aliança Flamenga, liderada pelo burgomestre de Anvers e partidário da independência da Flandres Bart De Wever. "A Praça da Bolsa, em Bruxelas, tornou-se esta semana um símbolo de tristeza, esperança e resiliência. Um fórum onde milhares de cidadãos enviaram um sinal claro ao mundo de que o terrorismo não pode abalar a vida em conjunto. Distanciamo-nos de forma clara de uma pequena minoria portadora de ódio que tenta minar uma ação de solidariedade. Quem semeia a divisão e prega o ódio está a fazer o jogo dos inimigos da democracia", sublinharam naquele comunicado os Verdes, os socialistas flamengos do sp.a, os liberais do Open VLD e os democratas-cristãos do CDeV.

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A Bélgica encontra-se dividida em duas regiões, Flandres e Valónia, com cinco províncias cada e uma espécie de distrito federal onde se localiza Bruxelas. Os belgas falam três línguas: no Norte fala-se flamengo e no Sul francês, havendo ainda uma pequena região do Leste onde se fala alemão. Desde a sua criação a Bélgica vive numa assimetria económica, ideológica e política entre a rica região da Flandres e a empobrecida da Valónia. Os nacionalistas flamengos trazem sempre que podem à baila a questão da independência. A Nova Aliança Flamenga de Bart De Wever tem vencido sucessivas legislativas na Bélgica e com isso originado longos períodos de crise política. O partido integra o Executivo do primeiro-ministro francófono Charles Michel, do Movimento Reformista, que inclui ainda o CD&V e o Open VLD na chamada "coligação kamikaze". Porém, neste momento, Bart De Wever tem um problema: o ministro do Interior, Jan Jambon, criticado pela descoordenação das forças de segurança, que impediu descobrir os terroristas mais cedo, é membro do seu partido. Talvez por isso prefira criticar a Justiça, pasta na mão de outro partido. "Em Bruxelas, os tribunais têm uma visão otimista da natureza humana. Isto é um eufemismo para dizer que são ingénuos", declarou no sábado passado.

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