Ex-Presidente da Costa do Marfim declara-se inocente de crimes contra a humanidade
O ex-Presidente da Costa do Marfim Laurent Gbagbo declarou-se "inocente" das quatro acusações de crimes contra a humanidade no julgamento, que começou hoje, pela violência pós-eleitoral ocorrida no país há cinco anos.
Gbagbo e o ex-líder de uma milícia, Charles Ble Goude, negam as acusações de planeamento de organização de "um plano comum" que levou a assassínios "generalizados", violações, perseguições e outros "atos desumanos" no início do julgamento no Tribunal Penal Internacional de Haia (TPI), na Holanda.
Gbagbo é o primeiro ex-Presidente de Estado a estar no banco dos réus no TPI, em Haia, num caso que vai testar o objetivo de fazer justiça às vítimas dos piores crimes contra a humanidade.
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Parecendo relaxado, num fato preto com uma camisa azul clara, o ex-homem forte da África Ocidental chegou cedo ao tribunal, sorrindo e apertando a mão dos elementos da sua equipa de defesa.
O ex-Presidente Gbagbo e Charles Ble Goude são acusados de orquestrarem um plano para se apoderaram do poder no país, que é o maior produtor de cacau do mundo, depois de Gbagbo ter sido derrotado pelo seu rival, Alassane Ouattara, nas eleições de novembro de 2010.
Na sequência da onda de violência, cerca de 3.000 pessoas morreram.
Gbagbo, de 70 anos, e Ble Goude, de 44, são ambos acusados de quatro crimes contra a humanidade, acusação por terem organizado um "plano comum para mantê-lo como Presidente por todos os meios necessários".
Face a divisões sobre os acontecimentos entre 2010 e 2011, o juiz presidente Cuno Tarfusser prometeu que o TPI "não permitiria que este julgamento fosse usado como ferramenta política ou utilizado de qualquer outra forma".
"Posso assegurar-vos que o tribunal avaliará todas as provas de forma completamente imparcial", disse o juiz, acrescentando que a sua "tarefa (...) é determinar se as acusações estão bem estabelecidas ou não".
Abidjan, uma das cidades mais cosmopolitas de África, foi transformada numa zona de guerra entre 2010 e 2011, com confrontos entre as forças rivais, numa luta de poder mortal.
Entretanto, a comunidade internacional apoiou Ouattara como o vencedor das eleições presidenciais e Gbagbo acabou por ser preso por tropas do novo Presidente, auxiliadas por forças francesas e da ONU, sendo posteriormente extraditado para o TPI em 2011.