A série exposta conta os últimos cinco dias de vida de Ana, de 89 anos, rodeada pela atenção do filho, a última pessoa ligada a si, depois de já terem morrido o marido e o filho mais velho.."Lenta, mas inexoravelmente, à vida vai faltando brilho e fôlego, embora ainda haja alma. Em cinco dias, suavemente, quase sem dor, Ana termina o seu caminho. E esse foi o tempo exato do projeto 'Ana', que resultou de um pressentimento e da vontade imensa de prender o que nos escapa", afirma Nuno Verdial Soares, num texto sobre a mostra.."'Ana' é um olhar de carinho muito emocionado de um enorme amigo. É a luz sobre objetos e gestos que ele amaria prender", afirma Verdial Soares..O fotógrafo reconheceu que sentiu "uma certa intromissão numa esfera pessoal, num outro universo", mas tentou "ser o mais invisível possível", fotografando só "o que estava a ver", sem colocar a sua opinião e ainda sem ideia do que ia fazer com as fotos.."Nós quando estamos a fotografar, vamos tendo uma ideia/opinião sobre o que está a acontecer, neste caso, procurei só fotografar, sem pensar mais nada, tentei ao máximo ser invisível"..Ana sabia que estava a ser fotografada, e houve momentos em que pediu para deixar de ser fotografada. Não sabia o que se ia fazer das fotografias, contou Saavedra à agência Lusa. A perspetiva de vir a expor gizou-se quando estava a fazer um 'workshop' com Pauliana Valente Pimentel, que viu as fotos e fez a primeira seleção, e o incentivou "a fazer algo com elas, como expor".."No fundo o que eu quero mostrar, depois de fazer todo o meu processo artístico, é uma grande história de amor entre mãe e filho, e, através dela, chamar à atenção das famílias em todo o mundo para os seus idosos a quem, muitas vezes não dão o seu carinho, a sua atenção", disse à Lusa Bruno Saavedra.."A Ana e o filho tornaram-se nas minhas personagens, mas aquela é uma realidade que pode tocar qualquer um de nós, e desta forma interrogar a sociedade como trata e encara os seus idosos", sublinhou.."Gostava, que as pessoas, depois de virem ver a exposição, ao regressarem a casa, fossem dar um abraço aos seus idosos, conversar com eles, pois muitos estão abandonados e quase esquecidos. Não foi o caso da Ana. Mas esta história de amor dela com filho pode inspirar outros", disse..Bruno Saavedra iniciou as "sessões fotográficas" no dia 31 de dezembro do ano passado, e terminou no dia 03 de janeiro último, quando Ana, nascida no bairro lisboeta da Madragoa, morreu, sendo a última foto a do dia do velório..Bruno Saavedra inicialmente projetava publicar um álbum, mas o fotógrafo Valter Vinagre convenceu-o a expor, "dada a qualidade humana e técnica", tendo a Fundação D. Luís I escolhido esta "história fotográfica", para inaugurar o ciclo que surgiu em seguida..A exposição é constituída por 18 fotografais, todas a cores, em quatro tamanhos diferentes - 75X50 centímetros (cm), 53X33,5 cm, 30X40 cm e 24X16 cm -- e estará patente no espaço da antiga capela das Casas do Gandarinha/Fundação D. Luís I, em Cascais, até 08 de abril..A exposição, apresentada em Cascais, abre o ciclo "oitoxoito" que vai decorrer até ao final do ano, no âmbito da Capital Europeia da Juventude/2018, e que tem prevista outras sete mostras, com o objetivo de dar visibilidade de jovens artistas emergentes.