As exportações de combustíveis e lubrificantes de Portugal para o estrangeiro, mercado praticamente monopolizado pela Galp, estão a viver um novo momento de ouro, com um crescimento acumulado de 55% até ao final do terceiro trimestre deste ano comparativamente a igual período de 2020, mostram dados do Instituto Nacional de Estatística (INE)..Aquele valor é mais do dobro do ritmo registado nas exportações totais de bens, que subiram cerca de 20% até setembro. Também em termos homólogos. E é o momento mais dinâmico (até setembro) do setor energético português em 11 anos, desde 2010..Mesmo que não considerássemos o ano de 2020, por ser excecional, e a comparação fosse feita com janeiro-setembro de 2019, o crescimento das vendas de combustíveis ao estrangeiro foi de 10%..Portanto, as vendas de gasolinas e gasóleo estão a ganhar cada vez mais força, mas as vendas totais de Portugal (só mercadorias), embora crescem a dois dígitos, estão a perder gás. É o que está a acontecer desde maio, indicam cálculos do Dinheiro Vivo..A Galp e outras marcas de fabricantes e vendedores de combustíveis têm sido acusadas de aumentarem margens de lucro no mercado interno, mas as empresas rejeitam esta leitura, dizendo que estão sim a refletir os preços mais elevados do petróleo na sua faturação final..Parte da subida também é explicada por um efeito de base, uma vez que o período de janeiro a setembro de 2020 foi amplamente marcado pelos primeiros confinamentos por causa da covid-19..Os impostos em Portugal são muito elevados, mas não sofreram agravamentos em 2021, pelo que a nova crise dos combustíveis (leia-se aumento dos preços no consumidor) -- que levou já o governo a reagir, criando um regime de descontos (Auto Voucher) para suavizar o impacto da situação nas famílias e empresas -- será bem explicada pelo que está a acontecer aos custos suportados pelas empresas de refinação e venda de produtos refinados do petróleo..No entanto, além do efeito de base, a Galp e outros revendedores de combustíveis e produtos refinados também estão a ganhar muito mais devido ao referido efeito de preço dos mercados internacionais de crise, o que impulsiona de forma significativa o valor das suas exportações..Segundo o INE, nas exportações até setembro de 2021, o mercado de combustíveis e lubrificantes disparou os referidos 55%, o equivalente a mais 960 milhões de euros faturados só neste segmento..Desde 2010, que as empresas petrolíferas radicadas em Portugal não tinham um período de janeiro-setembro tão dinâmico. É preciso recuar 11 anos (a setembro de 2010) para encontrar um aumento maior nas vendas do setor energético..Nessa altura, o crescimento chegou a 68%. Também aqui a faturação destas empresas refletiu a subida em fecha dos preços do crude e o efeito de base da recessão de 2009, quando as vendas de combustíveis para o exterior caíram a ritmos de dois dígitos, mostram os dados do INE..Matérias-primas e outros bens intermédios em alta também .Aliás, noutras fileiras de bens considerados primários, matérias-primas e bens intermédios para a produção também se nota agora um salto por causa dos preços mais elevados e dos constrangimentos e bloqueios nas cadeias logísticas globais (falta fretes de navios para transporte, por exemplo)..Os refinados deram o terceiro maior contributo para a expansão das exportações portuguesas no período que vai de janeiro a setembro deste ano. Em primeiro lugar surge o segmento dos produtos químicos (como fertilizantes e aditivos alimentares e de produtos de higiene) e em segundo lugar surgem os metais de base (produtos da mineração, basicamente)..Como referido, as exportações totais estão a crescer a um ritmo acelerado, até por comparação com o ano de crise aguda que foi 2020, mas a taxa de crescimento está a perder força (chegou a um pico de 25% em maio, mesmo tendo conta que a segunda metade do ano de 2020 foi menos agreste para as atividades económicas. Havia restrições e confinamentos, mas muito menos duros do que os que foram decretados em março e abril, aquando da primeira vaga do coronavírus..As exportações portuguesas de mercadorias também já estão acima do nível pré-pandemia mais diretamente comparável. Segundo o INE, "no período acumulado de janeiro a setembro de 2021, face ao mesmo período de 2019, verificou-se um aumento de 4,8% nas exportações (+20,1% face ao mesmo período de 2020)"..O Instituto salienta "o acréscimo de Fornecimentos industriais (+9,4%; +26,3% em relação a 2020). Em sentido contrário, destaca-se o decréscimo, face a 2019, do Material de transporte (-11,8%; +13,3% face a 2020)"..Já as importações estão ligeiramente abaixo do nível anterior à pandemia, mas com crescimentos robustos face a 2020. "No período acumulado de janeiro a setembro de 2021, comparando com o mesmo período de 2019, as importações diminuíram 1,5% (+18,1% face a 2020), salientando-se o decréscimo de Material de transporte (-32,8%; +4,9% em relação a 2020). Destaca-se também o aumento, face a 2019, nos Fornecimentos industriais (+16,4%; +32,4% em relação a 2020)", diz o INE..jornalista do Dinheiro Vivo