Explicações: "Todos estão lá para ganhar a melhor nota"
"No tempo em que os pais estudavam, as explicações eram feitas para quem tirava negativas e queria passar. Hoje é muito diferente: os alunos, sobretudo os mais velhos, chegam aos centros de explicações com o propósito claro de conseguir uma boa média, de subir as notas." Sandra Silva, 38 anos, professora de Português, dedicou-se em exclusividade ao apoio (num centro de explicações de Lisboa) há quatro anos, depois de não ter sido colocada em qualquer escola nos concursos do Ministério da Educação. Por estes dias intensificou as horas de apoio aos diversos alunos que já acompanhou ao longo do ano, alguns do 12.º ano de escolaridade, que amanhã de manhã estarão sentados nas escolas secundárias do país a fazer exame da disciplina de Português. A seguir virá a Matemática, uma semana depois.
Carlos Ianhes conhece bem as manhas da disciplina, pois tem passado grande parte da vida a desmitificar esse estigma que paira sobre ela. Cresceu a ver outros meninos em explicações, na Figueira da Foz, já que a mãe (também ela professora) sempre dedicou grande parte do tempo a essa atividade. Carlos licenciou-se em Matemática e quis ser professor, mesmo quando, na fase final do curso, era então solicitado para dar explicações. Já lá vão 20 anos. A vida correu, foi parar a Leiria, e numa fase em que ficou desempregado (ele e a mulher) apostou nas explicações.
Foi assim que nasceu, em 2013, um dos Centros de Explicações mais conhecidos da cidade, a dois passos da Escola Secundária Francisco Rodrigues Lobo. "Posso dizer que é aqui que me sinto realizado. É aqui que sou feliz. Na escola nem sempre o era", conclui Carlos Ianhes, mesmo admitindo que nunca trabalhou tanto como agora. Com exames à porta, aparecem--lhe alunos "de última hora". A última foi "uma miúda do 12.º, que quer entrar para Medicina, não só não queria descer a média (tem 18) como quer ter boa nota no exame para garantir a entrada no curso".
Por estes dias, o explicador sente a tensão no ar: "O que me parece é que os miúdos estão muito stressados, vêm já com grande pressão." Certo de que "agora já não há muito a fazer", concentra-se em trabalhar com os alunos nos exames anteriores, e sobretudo "aconselhá--los a terem muita concentração. Porque na Matemática, se ela não existir, facilmente se pode deitar tudo a perder". Ao longo dos últimos anos nota uma maior procura por parte dos "bons alunos".
"Na área da matemática sempre houve uma maior procura a partir do 10.º ano. Eu própria recorri a esse apoio e já lá vão quase 30 anos, para melhorar a nota. A matemática é muito prática e ajuda bastante ter um auxílio extra, para não sermos preguiçosos", afirma ao DN. Lá no centro abriu recentemente um curso de preparação para exames. A procura maior fez-se sentir nas áreas de Físico-Química e Matemática, logo seguidas de Português e Biologia. "Aparece mais gente no 11.º e 12.º ano. Falamos de alunos que chumbaram e dos que querem subir a média." E que conselhos lhes dá, afinal? "Na semana passada tive uma conversa com eles e o que lhes disse foi o de sempre - o exame é um momento muito stressante. É preciso estarem focados. Às vezes por pormenores podem decidir o futuro deles, entrar na universidade ou não. Se o exame vale 20 valores, a escolha múltipla vale quatro e o desenvolvimento 16, aconselho sempre a que primeiro façam o desenvolvimento, nas duas primeiras horas, e depois então a escolha múltipla na meia hora seguinte." Carlos Ianhes guarda para sempre o caso de uma aluna, no tempo em que a escolha múltipla valia mais (6,3), que fez esse processo todo e depois não teve tempo para fazer o resto do exame. "Esse caso marcou-me a mim também, porque ela chumbou com 8,5 valores. Por isso insisto muito com eles [os alunos], mesmo nos testes que fazemos. Como normalmente têm meia hora de tolerância, depois é uma questão de decidirem: se por acaso ainda têm muito para fazer no de-senvolvimento, ainda se ganha alguns pontos. Na escolha múltipla ou ganha-se tudo ou não se ganha nada." E todos estão lá para ganhar a melhor nota.