Os números mostram que os casos de violência contra os árbitros continuam em níveis preocupantes. O que tem falhado? Essencialmente, temos a perfeita noção de que não temos feito tudo ao nível da sensibilização e nos exemplos que vêm de topo. Associado a esta situação, o clima de impunidade existente, tanto a nível desportivo como a nível de justiça nos tribunais civis, com penas insignificantes e muito demoradas ao nível da decisão, igualmente não contribui para que a mudança necessária exista..O árbitro continua a ser o elo mais fraco do futebol? Não é de todo o elo mais fraco, muito pelo contrário, é um dos elos do futebol com mais formação e mais escrutinado, enquanto temos outras classes com tanta ou mais responsabilidade que não têm de ter o mínimo de formação ou atualização para desempenhar as suas funções. Por isso não concordo, de todo, que a classe seja vista como o elo mais fraco. Somos uma classe que certamente podia ser mais bem compreendida e ter mais proteção para o desempenho das suas funções..O fenómeno é particularmente sentido no futebol distrital e no futebol jovem porquê? Por haver menos policiamento? Sim. Por em muitos casos não existir policiamento e também pela falta de cultura desportiva existente. Muitas vezes é através de atos menos próprios que uma pequena franja da população aproveita para ser o centro das atenções entre os seus pares, descarregando, num momento que deveria ser de prazer, as frustrações do seu dia-a-dia..Têm números dos castigos aplicados aos agressores de árbitros? Ou seja, quantos destes casos acabam em condenações e que penas são aplicadas? Sim. E aqui reside uma das principais causas em não se conseguir reduzir ou mesmo terminar com esta autêntica vergonha. Alguns castigos são verdadeiramente irrisórios, levando inclusive à chacota e ao gozo para com a arbitragem, tanto a nível desportivo como cível. Multas de 200 euros para condenar uma agressão é vergonhoso. Em tribunal, existirem juízes que consideram os casos de agressão uma situação inerente à arbitragem é de bradar aos céus. Começamos agora a verificar, por parte de algumas comarcas, penalizações mais adequadas e com multas mais elevadas, mas o caminho a percorrer ainda é longo..Sente que as propostas da APAF para o combate aos casos de violência são acolhidos pelas instituições competentes? Ao longo do presente mandato, temos proposto o alargamento do policiamento em algumas associações e escalões. Felizmente, em alguns distritos, as nossas propostas foram aceites, mas mesmo assim aquém do que pretendíamos. Fomos sugerindo regulamentos mais penalizadores, mas infelizmente o aumento existente ficou muito aquém das nossas exigências. A nível interno, o que decidimos foi apoiar juridicamente todos os árbitros que foram sendo vítimas destas cobardias e levar as mesmas até às ultimas consequências, seja a nível de tribunal ou mesmo apresentando queixas a nível desportivo..Há árbitros que tenham desistido da atividade na sequência de casos de agressões nos últimos anos? Têm números sobre isso? Sim. Temos tido algumas desistências. É verdade que, devido ao aumento de agressões, fomos perdendo árbitros, desmotivando outros, descredibilizando os existentes. Mas em muitos casos temos conseguido, em conjunto com os conselhos de arbitragem distritais, demover os árbitros dessa ideia, dando-lhes todo o apoio e força. Para nós, enquanto instituição, este problema também tem um impacto muito negativo a nível financeiro, pois esta medida de apoio jurídico a todos os árbitros tem tido um impacto financeiro que ascende a 15 mil euros por época desportiva..A Liga, a FPF e o governo têm levado a sério a proteção e a valorização do árbitro? Certamente que todos estes organismos querem o melhor para a proteção dos árbitros, mas todos nós, APAF incluída, podemos e devemos efetivamente fazer mais..Chegaram a fazer um pré-aviso de greve em 2017, devido ao descontrolo verbal de dirigentes, diretores de comunicação e comentadores televisivos afetos a clubes. Houve alguma melhoria nesse campo? Entendemos que passou a existir um pouco mais de moderação, mas mesmo assim muito muito aquém do exigível a quem tem tanta responsabilidade no futebol, pois continuam a passos largos a destruir a galinha dos ovos de ouro. O mais grave é que vão contribuindo para a destruição dos alicerces do futebol, que alimenta o seu negócio.