Ex-provedor adjunto da Casa Pia detido pela PJ

Manuel Abrantes foi ontem conduzido ao Tribunal de Instrução Criminal para ser interrogado. Em Janeiro já tinha sido suspenso por suspeita de abuso sexual de menores
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Manuel José Abrantes, ex-provedor adjunto da Casa Pia de Lisboa, foi detido ontem à tarde pela Polícia Judiciária, sendo logo conduzido ao Tribunal de Instrução Criminal (TIC) de Lisboa a fim de ser interrogado.

É a primeira vez que um alto responsável da instituição é inquirido sob detenção no seguimento da prisão preventiva de Carlos Silvino (Bibi), a 25 de Novembro. No entanto, sobre Manuel Abrantes já recaem algumas suspeitas de envolvimento em abuso sexual de menores.Foi nesse sentido que actual provedora da instituição, Catalina Pestana, decretou a 21 de Janeiro a sua suspensão .

Os jornalista acorreram ontem à noite para a porta do TIC na tentativa de confirmarem os motivos daquela diligência. Ninguém, no entanto, se disponibilizou para avançar com as informações pretendidas. Ninguém sabia de nada. O único dado adquirido era que o ex-provedor adjunto se encontrava no interior das instalações, tendo entrado a meio da tarde e sendo o facto do conhecimento dos actuais responsáveis da Casa Pia de Lisboa e do Ministério da Segurança Social e do Trabalho.

Com 48 anos, Manuel Abrantes foi uma das vozes que desresponsabilizaram a anterior direcção da Casa Pia na altura da prisão preventiva de Bibi. Na altura disse serem falsas as afirmações de que os responsáveis sabiam das queixas efectuadas por alguns alunos contra Carlos Silvino, acusado de abuso sexual de menores e de integrar uma eventual rede de pedofilia. O ex-provedor adjunto explicou então que na altura dessas queixas foram instaurados processos disciplinares ao acusado, e que até tinha sido pedida à tutela (aos sucessivos ministros) a transferência do funcionário em questão.

Certo é que, como o DN revelou, fontes da Casa Pia garantiam que Carlos Silvino chegava a injuriar Manuel Abrantes em público sem que este reagisse. Na mesma altura, o ministro Bagão Félix confirmava que sobre o ex-dirigente caiam suspeitas de se ter envolvido sexualmente com um aluno.

Mais tarde foram revelados outros pormenores relacionados com a sua personalidade. Fontes contactadas pelo DN recordaram que Manuel Abrantes tinha alguns acessos de fúria junto de outros profissionais da Casa Pia de Lisboa, lembrando, a propósito, que nos anos 90 terá inclusivamente ameaçado fisicamente um funcionário da instituição.

Note-se que este ex-provedor adjunto é a primeira pessoa, entre os mais altos ex-dirigentes, a ser inquirida sob detenção. A inquisição terminou às 22 e 10, sem que ninguém prestasse declarações no TIC.

Para Adelino Granja, o ex-aluno casapiano, a detenção de Manuel Abrantes não constituiu uma surpresa, lembrando que em Janeiro havia sido já suspenso, encontrando-se a responder por um processo disciplinar. 'Havia já indícios de crime', afirmou. Advogado de 'Joel', o aluno que denunciou Bibi, Adelino Granja garantiu que as investigações sobre a alegada rede de pedofilia na Casa Pia estão bem encaminhadas. 'Espero que o tribunal também aplique as mesmas medidas aos educadores que estão suspensos na Casa Pia, se houver indícios de acção criminal', concluiu.

Pedro Namora, advogado e ex-aluno casapiano, preferiu não tecer comentários. Foram infrutíferas as tentativas de contactar a provedora Catalina Pestana.

Manuel Abrantes

Ex-provedor adjunto da casa pia

PERFIL

Manuel José Abrantes ficou conhecido quando substituiu o provedor da Casa Pia de Lisboa, Luís Rebelo, a 25 de Novembro de 2002.Uma fama que durou pouco mais de 24 horas: no dia seguinte o ministro da Segurança Social e do Trabalho, Bagão Félix, exonerou-o. A 21 de Janeiro a provedora Catalina Pestana suspendeu-o depois de ter conhecimento de duas queixas que envolviam Manuel Abrantes em casos de pedofilia. Funcionário da instituição desde 1997, Manuel José Abrantes foi oficial administrativo de segunda classe e rapidamente passou a director de serviços. Seguiu-se a ascensão a adjunto de Luís Rebelo. Uma carreira que acabou sem glória ao ser-lhe instaurado um processo disciplinar e a correspondente suspensão. Tal como agora, por suspeita de abuso sexual de menores.

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