Ex-ministros da Educação querem guerra ao insucesso
Couto dos Santos, David Justino, Maria de Lurdes e Isabel Alçada. Quatro ex-ministros da Educação - os primeiros de governos do PSD e as segundas em maiorias do PS - com uma convicção em comum, no dia em que se assinala oficialmente o arranque de um novo ano letivo: o combate ao insucesso escolar, que continua a isolar Portugal entre os países desenvolvidos, tem de ser a prioridade absoluta.
"Continuamos com indicadores muito maus, dos piores da Europa", resume ao DN David Justino, ministro da Educação entre 2002 e 2004 e atual presidente do Conselho Nacional de Educação. "O sistema de ensino tem de orientar-se para recuperar e proporcionar oportunidades de sucesso a todos os alunos e não ter a dimensão seletiva que muitas vezes tem".
Como fazê-lo já é uma discussão em que os antigos titulares da pasta da Educação apresentam ideias diferentes, ainda que não necessariamente divergentes.
Para Maria de Lurdes Rodrigues, ministra entre 2005 e 2009, é preciso reunir "recursos e condições", o que "pode passar pelo reforço das equipas de docentes. Na minha opinião, deveria trabalhar-se mais na ideia de reforço de equipas de docentes do que na diminuição do número de alunos [por sala] e até da divisão das turmas", defende.
De resto, admite, em certas circunstâncias, "até o número de docentes por turma" pode ser repensado. "Como fizemos um pouco com a Matemática, reforçando as equipas onde havia maior dificuldade", lembra, referindo-se ao Plano de Ação para a Matemática.
A ex-ministra aplaude a decisão do atual governo de acabar com o encaminhamento de alunos do 3.º ciclo, com duas ou mais retenções, para cursos vocacionais e profissionalizantes, e aprova a promessa de que estes passarão a ser acompanhados por professores-tutores. "Não tem sentido encaminhar as pessoas para empresas ou outras instituições", sustenta. "Não há uma solução única, tem de ser um conjunto de medidas adequadas às circunstâncias. Pode ser a figura do tutor, o reforço das equipas, outros meios didáticos e pedagógicos que permitam diversificar as situações de ensino".
Isabel Alçada, que sucedeu a Maria de Lurdes Rodrigues na Avenida 5 de Outubro, concorda que "todos os anos é importante avançar na promoção do sucesso escolar". Mas acredita que o objetivo, a longo prazo, passa principalmente por prevenir o insucesso, para reduzir a necessidade de recuperar alunos com históricos negativos.
"A minha esperança é que haja uma intervenção preventiva e não de remediação. Avançou há pouco tempo um programa em que tenho esperança, o Programa de Promoção do Sucesso Educativo", lembra. "A intervenção deve começar o mais cedo possível, primeiro trabalhando ciclo, nos primeiros anos de escolaridade, e por outro lado deve-se tentar universalizar o mais cedo possível o pré-escolar, que é também muito importante".
Tendo sido comissária do Plano Nacional de Leitura, a professora não deixa de defender a importância de se "aprofundar esta competência". E não esquece "a formação de adultos", até para que estes "se possam envolver mais na educação dos seus filhos e netos".
Este último objetivo será sem dúvida importante para que possa ser concretizado o desejo de António Couto dos Santos, ministro entre 1993 e 1995, de ver mais mobilizados pais e professores.
"Acho que os pais têm de assumir de uma vez por todas a responsabilidade do acompanhamento dos filhos na escola. A família é um dos pilares fundamentais para que os alunos consigam ter sucesso na escola", defende, apelando também à "mobilização dos professores para que, no exercício da sua nobre função, façam prevalecer os interesses da aprendizagem dos alunos, mais do que os interesses corporativos".
Mas a primeira prioridade, para Couto dos Santos, deverá ser "a aposta na qualidade do sistema educativo, para dar resposta na redução do abandono e das baixas qualificações".
David Justino aplaude o facto de o atual governo ter identificado como "medida prioritária" o combate ao insucesso. Mas desconfia de fórmulas nacionais, defendendo que o papel do ministério deverá ser "proporcionar às escolas condições para que estas possam concretizar o objetivo", de acordo com as próprias estratégias. "As causas do insucesso não são iguais em todo o país. Em zonas rurais há umas e em zonas urbanas há outras. Devemos viabilizar os planos das escolas os quais, mais do que soluções inovadoras, devem ser soluções concretizáveis", explica.