Ex-deputado Mendes Bota defende Paulo Júlio em tribunal
O ex-deputado do PSD Mendes Bota realçou hoje, no Tribunal de Condeixa-a-Nova, em abono do antigo governante Paulo Júlio, o facto de a mulher deste último ter permanecido desempregada meio ano.
"Seria fácil, se ele quisesse, usar o seu poder de influência" para garantir algum trabalho à mulher, afirmou Mendes Bota, antigo presidente da Câmara de Loulé, ao depor como testemunha.
Suspeito de um crime de prevaricação no âmbito de um concurso para um cargo de chefia na Câmara de Penela - a que presidiu de 2005 a 2011 - que foi vencido pelo funcionário Mário Duarte, seu primo em sexto grau, Paulo Júlio está a ser julgado desde terça-feira.
Mendes Bota falava a propósito de a mulher de Paulo Júlio, professora, ter estado meio ano sem trabalho e o marido, que integrava na época o atual Governo, "não ter feito nada para a beneficiar".
Admitindo que, enquanto deputado, teve "algumas divergências" com o ex-secretário de Estado da Administração Local, quando este promoveu a reforma autárquica, Mendes Bota disse que Paulo Júlio "é um homem bom e sério, que inspira confiança".
"Nunca fui a Penela", disse, sublinhando que tem com o arguido "um relacionamento político amigável, sem ser de amizade pessoal".
O presidente da Câmara da Figueira da Foz, João Ataíde, eleito pelo PS, foi outra das testemunhas a depor durante a manhã.
O antigo juiz desembargador disse que Mário Duarte tinha "a formação adequada" para o cargo de chefe de divisão de Cultura, Património, Turismo e Desporto.
Seria "natural que nesse recrutamento" a autarquia e o presidente tivessem "a preocupação de ter em consideração" o facto de o candidato ser licenciado em História de Arte.
"Se abrirmos muito o leque, o número de candidatos é muito extenso e o recrutamento é muito complicado. Há uma certa preocupação de manter os funcionários que temos", adiantou, ao ser interrogado pelo representante do Ministério Público.
O autarca da Figueira, presidente da Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra, disse que ficou "muito preocupado ao ver este homem sério" acusado de ter favorecido um primo em sexto grau.
"Se fosse uma relação familiar muito chegada, era aconselhável não fazer parte do júri". Todavia, disse, "isso nem sequer passou pela cabeça" de Paulo Júlio.
O atual presidente da Câmara de Penela, Luís Matias, defendeu que a licenciatura de Mário Duarte "é a mais acertada" para o cargo que ainda ocupa e salientou que o próprio diretor-geral do Património "é licenciado em História de Arte".
"Será a pedido do Passos Coelho?", ironizou o advogado António Manuel Arnaut, advogado de Paulo Júlio, que tenta demonstrar não ter havido "cunha" a favor daquele funcionário.
Na terça-feira, Mário Duarte procurou demonstrar ter ascendido "por mérito" à chefia de divisão da Cultura, tendo levado para o tribunal uma mala com três "canudos" relativos à sua licenciatura em História de Arte e mais duas graduações superiores.
O julgamento prossegue hoje e no dia 18, às 10:30, com a audição de várias testemunhas.