Regina Lourenço, que hoje continuou a ser ouvida no Tribunal Criminal de Lisboa, no âmbito do processo dos cegos de Santa Maria, cujos factos remontam a 17 de julho de 2009, disse ter destruído as alíquotas - seringas com resto de medicamento - na segunda-feira seguinte, 20 de julho de 2009, num "ato pensado". Alegou tê-lo feito por pensar que os restos "pudessem estar contaminados"..O depoimento de hoje da ex-coordenadora daquela unidade de produção de medicamentos contrariou, contudo, as declarações que prestou na última audiência, no passado dia 5, quando admitiu ter destruído o tabuleiro com alíquotas, num "ato inato e irrefletido"..Nessa audiência, alegou ter destruído o tabuleiro de alíquotas por aí não se encontrar nenhuma das que tinham sido administradas aos pacientes em causa..O "caso" dos cegos de Santa Maria remonta a 17 de julho de 2009 quando seis pessoas ficaram total ou parcialmente cegas depois de terem sido inoculadas com um medicamento que alegadamente seria o Avastin..Na audiência de hoje, Regina Lourenço admitiu ainda ter sido a "responsável" pela introdução de alíquotas naquela unidade hospitalar..A ex-coordenadora - que atualmente já não exerce funções no Hospital de Santa Maria - disse ainda que os procedimentos dos funcionários daquela unidade laboratorial obedeciam a um manual de procedimentos em vigor desde 2001..Esta afirmação contraria as prestadas em anteriores audiências pelos dois arguidos - o farmacêutico Hugo Dourada e a técnica de diagnóstico farmacêutico Sónia Baptista -, segundo os quais, à data dos factos, não havia naquela unidade qualquer manual de procedimentos..Instada pelo presidente do coletivo a pronunciar-se sobre aquela acusação dos arguidos, a ex-coordenadora disse apenas: "Acho estranho"..Em anteriores sessões de julgamento, os dois arguidos sustentaram que a unidade de Produção de Citotóxicos do Hospital de Santa Maria só passou a dispor de um manual de procedimentos, depois de as seis pessoas terem perdido a visão. .Hugo Dourado sublinhou mesmo que o manual existente foi elaborado depois de os factos por que responde em tribunal, ainda que mencione 2007 como a data de elaboração..Questionada pelo presidente do coletivo sobre como classificava os arguidos, Regina Lourenço disse que o farmacêutico Hugo Dourado era uma pessoa "cumpridora, fácil de trabalhar e sempre pronta a enfrentar os desafios que lhe eram colocados". .Em relação a Sónia Baptista disse que tinha "muita experiência na manipulação de medicamentos"..Regina Lourenço admitiu ainda perante o tribunal que o local onde os dois arguidos trabalhavam era uma unidade com um "grau de stress muito elevado"..Questionada pelo presidente do coletivo sobre o que se teria passado na unidade que provocou cegueira a seis pessoas, Regina Lourenço atribuiu os acontecimentos a "uma série de situações anómalas", desconhecendo, porém, qual a causa..Na audiência de hoje foi ainda ouvido o responsável do serviço de Oftalmologia do Hospital de Santa Maria, Monteiro Grilo..A próxima audiência está marcada para 16 de abril, às 10:00, estando agendada a audição de dois médicos.