Ex-combatentes vivem amor "à prova de guerra"

José (nome fictício) perdeu uma perna quando combatia no Ultramar e ficou com a outra esfacelada, mas a namorada não desistiu dele. Estão casados há 43 anos e são o testemunho vivo de um amor "à prova de guerra".
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Conheceram-se nas Festas Antoninas, em Famalicão, e namoravam há meio ano, quando "José" foi cumprir o serviço militar obrigatório, no Ultramar.

"O namoro ficou como que em banho-maria, porque eu deixei de lhe escrever. Pensava cá comigo que teria tempo para essas coisas quando voltasse", recorda.

A explosão de uma mina, que lhe valeu a amputação de uma perna, mazelas irreparáveis na outra e mais toda uma série de lesões graves, fê-lo voltar mais cedo à "Metrópole".

"Os médicos diziam que eu não duraria muitos mais dias, mas ainda cá estou", atira, com humor.

Esteve três anos no hospital, primeiro em Lisboa, onde esteve em estado de coma e onde recebeu a "surpreendente" visita da mulher que namorara antes de ir para a tropa e que entretanto tinha de alguma forma votado ao esquecimento.

A "Maria", como lhe chama, foi persistente, quis saber dele, nunca lhe virou costas, sempre "lutou" por ele, sempre o acompanhou, e isso calou-lhe fundo na alma.

"Foi o meu maior suporte, enquanto estive no hospital", reconhece.

Um dia, "José" decidiu "meter a cadeira de rodas a caminho" e ir ter com a sua "Maria", no Porto.

"Fui-lhe dizer: eu estou neste estado, não sou o mesmo homem que conheceste, tenhas estas limitações, mais estas e estas. Mesmo assim queres ser minha. Ela disse que sim, em 1970 casámos e estamos casados até hoje, um casamento feliz, fruto de um amor à prova de bala, à prova de mina, à prova de guerra", conta, com emoção.

Também o amor de Anquises, outro ex-combatente no Ultramar, e de Elisabete resistiu a um acidente com uma mina e a uma distância de mais de nove mil quilómetros.

"Sem dúvida nenhuma que a guerra tornou mais forte o nosso amor", garante o antigo sargento, que combateu em Angola.

Anquises e Elisabete "enganavam" as saudades através de cartas, os chamados "aerogramas" que eram enviados, de forma gratuita, de avião.

Mais tarde, o combatente decidiu inovar, passando a presentear a sua amada com mensagens gravadas em cassetes.

"Falávamos um pouco de tudo, do dia-a-dia, dos problemas, dos acidentes, mas também, claro, de amor", recorda Anquises.

Num acidente com uma mina, o combatente sofreu fraturas expostas nas pernas, ficando ainda com problemas de audição, de visão e de coluna.

Nada que fizesse vacilar Elisabete, que continuou, até hoje, "agarrada" ao homem da sua vida.

Casaram em 1972, têm duas filhas e três netos.

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