Europa em carne viva

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Está tudo mal. Os motins nas ruas de Paris, em reação ao disparo de um polícia que matou um jovem de 17 anos em fuga numa operação Stop, são o reflexo de políticas de integração falhadas numa Europa que se diz multicultural. França é apenas um exemplo. O agente pediu perdão à família do rapaz, foi detido e será julgado, como compete nestes casos. Mas o correr da justiça não tem impedido a reação violenta. Será assim também com os criminosos que têm saído à rua com a simples missão de destruir, pilhar, queimar, atacar quem encontram no caminho? Será a sociedade tão rápida e implacável a condená-los quanto foi com o polícia que disparou? E seria tão dura no julgamento se o baleado não tivesse origens argelinas? Ou se tivesse sido o polícia a levar um tiro?

Antes de responder, guarde este número: 10 790 polícias foram feridos no cumprimento do seu dever em França num só ano, mais de metade baleados (em Portugal, a média é de seis agressões por dia a agentes da autoridade). Quantos protestos viu na rua por eles, pelos que ainda zelam pela segurança de todos?

Num caso - mais um - em que fica exposta uma Europa em carne viva, a mãe e a avó de Nahel vão pedindo calma à turba enfurecida que grita "racismo". Mas o desafortunado rapaz que foi morto é apenas uma desculpa para quem quer fazer sangrar um país e um modo de vida.

Em nome da humanidade, grande parte da Europa tem recebido crescentes vagas de imigrantes que fogem aos horrores dos seus países, muitas vezes a custo de se verem escravizados anos a fio por redes de tráfico que facilitam a sua chegada e perpetuam modos de vida desumanos. São também vítimas da inabilidade europeia, que deixa vir, mas não acompanha os que chegam, não assegura à entrada que têm mínimos como habitação condigna e trabalho do qual viver. A Europa recebe todos, mas não se interessa por saber onde e como vivem. Sobretudo não mexe um dedo para que aprendam a língua e se integrem nos costumes locais. Deixa entrar todos, mas nada mais faz senão abrir a porta. E depois, em nome da diversidade, esmaga a própria existência e convive pacificamente com a violação diária dos próprios direitos, permitindo casamentos adolescentes, a imposição de uso da sharia e até que em certos bairros se viva completamente à margem das leis ocidentais.

Invocando liberdades e pregando a não discriminação, vai-se obliterando as barreiras do aceitável, criando dois pesos e duas medidas, gerando nuns a convicção de que nada têm e tudo podem e noutros a revolta de se verem cancelados pelo direito à diferença que condena os que não são diferentes.

Ao longo dos anos, os muitos que chegaram a França, ao Reino Unido, à Bélgica, à Alemanha foram-se juntando em comunidades que vivem à margem dos países que os acolheram, gerando desconfiança de parte a parte. Sem se sentirem integrados - porque de facto não o foram - vivem como segundos cidadãos, tratados de forma distinta, para o bem e para o mal. E cada vez mais se isolam com os seus, apartados da vida regular. Os nascidos de um lado, os imigrantes do outro, todos juntos num caldeirão explosivo cujo lume é avivado por autoridades apologéticas das suas conquistas e comunidades que exigem direitos sem se disporem a cumprir deveres.

A receita perfeita para alimentar autismos e extremismos.

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