O candidato à presidência da Associação Mutualista Montepio Eugénio Rosa defende programas de habitação a rendas acessíveis para os associados e disse que a primeira medida que tomará é reduzir a metade os salários dos administradores.."Não é com isto que se resolve o problema financeiro, mas é uma mensagem, de que agora vai ser diferente, os que vêm para aqui não se aproveitam para obter remunerações e benesses", disse o cabeça de lista da lista C ('Mutualismo Agora Sim') em entrevista à Lusa..Eugénio Rosa diz que o presidente do Conselho de Administração da mutualista ganha atualmente cerca de 31 mil euros por mês (brutos) e que os restantes administradores ganham 25 a 26 mil euros por mês (brutos), tendo ainda direito a carros de alta gama, cartões de crédito e direito a uma pensão completa ao final de 20 anos, pelo que baixar os ordenados seria "a primeira medida que faríamos"..Na semana passada, em entrevista à Lusa, o atual presidente da mutualista Montepio e candidato da lista A, Virgílio Lima, disse que, se ganhar, passarão a ser divulgadas as remunerações de cada administrador, considerando que ainda não o fazem por esta ser "uma prática que vem muito de trás e que se tem mantido"..Questionado sobre quanto ganha o presidente da mutualista, o gestor disse que não o quer divulgar enquanto a prática não for alterada: "Não gostaria de entrar em questões individuais e não é por proteção pessoal, fá-lo-emos quando na aprovação do relatório e contas tomarmos a deliberação de fazer essa informação", disse..No relatório e contas da mutualista, a informação das remunerações apenas aparece agregada. Em 2020, segundo o documento, os órgãos de gestão da mutualista receberam 2,043 milhões de euros de remunerações (e outros benefícios de curto prazo), a que se somam gastos de 964 mil euros com pensões de reforma e subsistema de saúde e encargos de 421 mil euros com a Segurança Social..Ainda na entrevista à Lusa, Eugénio Rosa disse que a associação mutualista deve recentrar-se na sua função, considerando que as administrações de Tomás Correia tinham para o Montepio um "projeto megalómano" de o transformar num grande grupo financeiro e provocaram grandes perdas nas empresas do grupo, sobretudo no banco (o que levou à constituição de grandes montantes de imparidades para perdas com créditos), que tiveram de ser compensadas pela mutualista usando as poupanças dos associados..Na habitação, disse, a lista C defende um programa de habitação com rendas a preços acessíveis, usando para isso apartamentos que o banco tem de clientes que entregaram por não conseguirem pagar empréstimos..Defende ainda uma parceria com o Estado no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (RR) em que são aproveitados terrenos do banco para ajudar associados a construir casa, financiando, ou construindo casas e arrendando..Ainda na habitação, propõe que associados com casa própria e que queiram ir para residência assistida possam usar esse bem para pagar a residência: "Propomos duas soluções, uma é entregar a casa e isso servir de pagamento para assegurar lugar numa residência assistida ou, se quiserem deixar a casa aos herdeiros, a casa é entregue para arrendamento e esse rendimento é contribuição grande no que tem de pagar numa residência assistida", ficando para herdeiros após a morte..Eugénio Rosa diz ainda que tem de ser alterado o facto de os produtos através dos quais os associados têm poupanças na mutualista serem de curto prazo, o que causa desequilíbrios na mutualista. De momento, diz, dos 3.200 milhões de euros de poupanças de associados, mais de 70% são até cinco anos. Defende que sejam criados produtos mutualistas (por exemplo, complementos de reforma) a mais longo prazo e que essas poupanças sejam aplicadas fora do grupo e com rendimento certo..Na saúde, a Lista C quer convenções do Montepio com prestadores privados com tabelas especiais para associados..Eugénio Rosa disse ainda que, no grupo Montepio, há empresas que fazem duplicação de funções e que isso tem de ser resolvido e defendeu ainda maior participação dos associados na vida da mutualista. Nos últimos anos "tem-se tentado afastar os associados", diz, referindo que a revista institucional não fala do que interessa e que as assembleias-gerais são marcadas em datas que afastam participação..Eugénio Rosa foi uma das vozes mais fortes contra as administrações de Tomás Correia, tendo concorrido em eleições anteriores em listas de oposição e integrado o Conselho Geral..Questionado sobre se nos últimos dois anos, com a saída de Tomás Correia (que deixou o cargo em final de 2019, envolto em polémicas, sendo substituído por Virgílio Lima), a nova administração contribuiu para estabilizar o grupo, Eugénio Rosa disse que esta "administração é de continuidade", foi escolhida por Tomás Correia, e que também as gestões de outras empresas do grupo ainda são as suas escolhas e que isso tem de ser alterado..A única exceção é a Lusitânia, de onde saiu Fernando Nogueira (acusado no cartel das seguradoras pela Autoridade da Concorrência), tendo ficado Maria Traquina Rodrigues, que estava já na Lusitânia Vida, a acumular a liderança de ambas as empresas. Segundo Eugénio Rosa, desde então esta gestora conseguiu recuperar a Lusitânia..As eleições de 17 de dezembro para a Associação Mutualista Montepio Geral vão eleger o Conselho de Administração, o Conselho Fiscal, a Mesa da Assembleia-Geral e a Assembleia de Representantes para o mandato 2022-2025..A Assembleia de Representantes é o novo órgão da mutualista (que substitui o Conselho Geral), ao abrigo dos novos estatutos, a quem caberá debater e votar documentos fundamentais para a mutualista, como orçamento e plano de atividades. Este órgão conta com 30 membros eleitos por método de Hondt, pelo que é previsível que integre representantes das várias listas concorrentes..Segundo Eugénio Rosa, tendo em conta que deverá sair uma Assembleia de Representantes muito repartida é importante que após as eleições haja consensos.."Temos de deixar à porta as ideologias e ver quem é competente e honesto e está verdadeiramente empenhado em salvar o Montepio, temos de fazer a unidade, não é afastar as pessoas. Temos de criar uma plataforma em relação às questões essenciais, porque se a administração eleita não tiver apoio em instrumentos fundamentais não faz nada, temos de nos entender", vincou..A Associação Mutualista Montepio Geral tem 600 mil associados e é o topo do grupo Montepio, em que se inclui o Banco Montepio.