EUA cortam ajuda ao Afeganistão após fracasso da mediação de Pompeo
Os Estados Unidos reduziram significativamente a ajuda ao Afeganistão, após o fracasso da mediação do secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, que visitou a região na segunda-feira.
O diplomata americano passou oito horas em Cabul, a capital afegã, e em Doha, capital do Qatar, onde se encontrou pela primeira vez com líderes dos talibãs, na esperança de reforçar o processo de paz recentemente alcançado e já ameaçado.
Três semanas após a assinatura do acordo de paz histórico entre os Estados Unidos e os talibãs, Mike Pompeo ignorou as restrições a viagens impostas pela pandemia do novo coronavírus e efetuou uma dupla visita surpresa, que, porém, não surtiu efeitos no "impasse político" no Afeganistão.
O presidente afegão, Ashraf Ghani, e ao seu principal rival, Abdullah Abdullah, continuam sem chegar a acordo sobre quem foi eleito nas presidenciais de setembro, tendo ambos realizado cerimónias de tomada de posse no início deste mês.
Mike Pompeo encontrou-se na segunda-feira com ambos, separadamente primeiro e em conjunto depois, lançando-lhes um ultimato para que chegassem a um compromisso, que passasse por um governo de unidade capaz de negociar com os talibãs, o próximo passo no acordo de paz.
Ainda que tenha registado alguns avanços, Mike Pompeo assumiu estar desapontado e, numa declaração dura, denunciou o fracasso da mediação e criticou os dois líderes afegãos por serem "incapazes de concordar num governo inclusivo que possa dar resposta aos desafios de governança, paz e segurança, e garantir saúde e bem-estar aos cidadãos afegãos".
Esse fracasso, que os Estados Unidos "lamentam profundamente", afeta as relações entre os dois países e "desonra os parceiros afegãos, americanos e aliados que sacrificaram as suas vidas no combate por um novo futuro" para o Afeganistão.
Perante esta situação, Washington decidiu reduzir imediatamente a ajuda ao Afeganistão em mil milhões de dólares. Se o impasse continuar, outros mil milhões serão subtraídos em 2021.
Se, entretanto, Ashraf Ghani e Abdullah Abdullah chegarem a um acordo, a ajuda será reposta, prometeu Pompeo.
A crise política em Cabul ameaça derrubar o acordo de paz assinado em 29 de fevereiro em Doha, que prevê a retirada gradual, dentro de 14 meses, de todas as estrangeiras, incluindo norte-americanas, do Afeganistão, com a condição de que os talibãs cumpram os seus compromissos e iniciem negociações de paz diretas com o Governo de Cabul.
Essas negociações, originalmente programadas para começarem em 10 de março, já ficaram para trás devido à crise institucional no Afeganistão, onde os Estados Unidos estão mobilizados há 18 anos, no mais longo conflito da sua história.