Curar doenças através da exposição à luz pode causar ceticismo, mas talvez faça mais sentido se esta for considerada como uma fonte de energia, que pode afetar o comportamento dos eletrões nos átomos, que estão presentes em tudo. A luz que o ser humano consegue percecionar é apenas uma pequena parte do chamado espetro eletromagnético, que consiste em diferentes comprimentos de onda de fotões que transportam energia. Esse espetro varia desde as ondas de rádio, muito compridas e com baixa energia, até aos raios gama, com comprimentos de onda mais curtos e maior energia. Aqui incluem-se, também, as micro-ondas e os raios X..O arco-íris de luz visível fica no meio do espetro. Esses comprimentos de onda são os únicos que se conseguem observar a olho nu, mas isso não significa que não existam outros. O vermelho é o que tem o maior comprimento de onda de luz visível, e os raios infravermelhos têm comprimentos de onda maiores do que o vermelho, estando, por isso, fora do campo de visão humano, embora possam ser observados com óculos de visão noturna..Em parte por causa do impacto que a luz UV tem sobre a pele, o campo da dermatologia tem encabeçado as pesquisas que envolvem estas ondas eletromagnéticas, desde as vermelhas e as azuis até às UV, para fins terapêuticos, tanto para combater o acne, o eczema, e inclusive o pré-melanoma..Recentemente, anestesiologistas começaram a explorar o uso de raios verdes para amenizar a dor em casos de enxaquecas ou fibromialgia. Mais do que qualquer outro comprimento de onda, a luz infravermelha parece ter o maior potencial terapêutico, e os investigadores acreditam que esta tem capacidade para tratar mais do que até aqui se julgava possível..Cientistas descobriram que a luz infravermelha pode penetrar as células e aquecê-las. De tal forma que esta fonte de energia começou a ser usada em saunas, tendo sido popularizada com o apoio de celebridades como Gwyneth Paltrow, Jack Dorsey, Joe Rogan, Tom Brady e as irmãs Kardashian. Embora estas não sejam referências muito científicas (alguns destes nomes estão associados à pseudo-ciência), há estudos que demonstraram que a luz infravermelha tem efeitos reais no organismo: ao provocar suor, além de promover a queima de calorias, faz que as células purguem metais pesados, o que pode ajudar a combater o envelhecimento..As lâmpadas infravermelhas usadas nas incubadoras nos cuidados neonatais empregam a mesma tecnologia. Como induzem calor de dentro para fora, em vez de de fora para dentro, as saunas infravermelhas são mais frias do que as comuns, atingindo o máximo de 49 ºC, em vez dos 93 ºC. Isso significa que se pode permanecer mais tempo numa sauna infravermelha do que numa tradicional. Existem evidências, principalmente de estudos escandinavos e do leste asiático, de que as saunas infravermelhas podem melhorar a circulação e a função cardiovascular, reduzir a dor e acelerar a recuperação muscular.."A luz infravermelha na sauna, além de promover o bem-estar geral, tem tido excelentes resultados na recuperação atlética, chegando até a aumentar o desempenho", diz Michael Hamblin, investigador principal do Wellman Center for Photomedicine no Massachusetts General Hospital. "Há evidências de que ajuda em todos os tipos de distúrbios sistémicos", prossegue. E aqui fala-se particularmente da luz infravermelha média, com comprimentos de onda mais longos - a mais usada nas saunas infravermelhas, em contraste com a luz infravermelha próxima, que possui menor comprimento de onda..Michael Hamblin tem focado há décadas as suas investigações nos efeitos terapêuticos da luz infravermelha próxima, e acredita que esta é capaz de tratar várias doenças, desde dores musculares até à doença de Alzheimer. E, segundo o cientista, isto deve-se à capacidade de esta forma de energia alterar as células do corpo."É surpreendente o número de doenças que podem ser tratadas.".A luz infravermelha próxima tem efeitos terapêuticos em lesões ortopédicas, artrite, tendinite, dores musculares, e também pode ainda tratar lesões cerebrais, casos de demência e até distúrbios psiquiátricos. Julio Rojas-Martínez, professor assistente de neurologia da Universidade da Califórnia, em São Francisco, que também estuda os efeitos da luz infravermelha no cérebro, admite que a ideia ainda pode ser considerada "marginal", mas "existem fortes evidências biológicas de que a luz infravermelha pode afetar as células do cérebro"..Como funciona.Dentro de cada célula do organismo existem mitocôndrias que fornecem energia para a célula. A maior parte da energia do corpo humano é obtida pela glicose nos alimentos que são ingeridos, e é essa que as mitocôndrias transformam em energia química para que possa ser utilizada pelas células..Acontece que também existem recetores de luz dentro das mitocôndrias que são sensíveis a comprimentos de onda específicos de luz - como o infravermelho próximo, e que podem transformar a energia da luz em energia celular, tal como acontece com as plantas. Embora este processo não seja nem de longe tão eficiente quanto converter alimentos em energia, os benefícios para a saúde humana não são de descartar..Os investigadores já conseguiram demonstrar que a incidência de luz infravermelha nas células cerebrais aumenta o metabolismo celular, traduzindo-se na produção e consumo de energia. Outros estudos mostraram que a mesma luz pode aumentar o fluxo sanguíneo no cérebro. Na doença de Alzheimer e noutros distúrbios neurodegenerativos, o metabolismo celular é muito menor do que o normal..Processos cognitivos, como codificar ou recuperar uma memória, consomem energia celular, e uma teoria sobre a doença de Alzheimer é a de que as células cerebrais não têm energia suficiente para desempenhar essas funções de memória. Rojas-Martínez acredita que a energia da luz pode ajudar a compensar essa falha e está agora a testar se a luz infravermelha pode aumentar a função cerebral em pacientes com estas doenças..Michael Hamblin, por sua vez, já demonstrou em laboratório que a luz infravermelha "pode aumentar o número de células cerebrais e também o número de conexões entre estas". Embora os testes só tenham sido aplicados em animais, o cientista assume que o mesmo acontecerá com humanos..Contudo, há que ressalvar que os cientistas já conseguiram curar dezenas de vezes a doença de Alzheimer em ratos, mas praticamente todos os medicamentos para tratar a demência falharam em ensaios clínicos com humanos. Mas Hamblin acredita que, com financiamento suficiente, conseguirá executar com sucesso os testes em humanos e, consequentemente, tornar a terapia com luz infravermelha mais popular. Ou seja, apesar das fortes evidências biológicas, ainda são necessários estudos clínicos para provar que a terapia com luz infravermelha funciona em humanos..*Texto alterado - o título foi modificado porque o anterior podia dar a entender que o efeito dos tratamentos já estava numa fase superior de adaptabilidade