De acordo com o estudo, que envolveu investigadores do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO-InBIO), após essa proibição, o número de aves comercializadas anualmente decresceu de 1.3 milhões para 130 mil..As aves silvestres estão entre os animais mais comercializados em todo o mundo, tendo a Europa se destacado até 2005 como "um dos principais importadores", sendo os países como a Bélgica, Itália, Holanda, Portugal e Espanha os responsáveis pela comercialização de dois terços de todas as aves vendidas no mercado global até esse período, informou um comunicado sobre o estudo hoje divulgado pelo CIBIO-InBIO..Essas aves eram importadas principalmente da África ocidental, sendo 70% provenientes da Guiné, Mali e Senegal, indicou à Lusa o investigador do CIBIO-InBIO Luís Reino..De acordo com o investigador, as exportações concentravam-se nos passeriformes (incluem aves de estimação muito populares, como o canário-de-moçambique ou o bico-de-lacre-comum), que representavam cerca de 80% do total de aves exportadas, e os psitacídeos (periquitos, papagaios, por exemplo), representando aproximadamente 18%..Depois da interdição ao comércio decretada pela EU, o cenário inverteu-se, passando a percentagem atual de passeriformes comercializados a nível mundial a corresponder a menos de 20%, indicou..Já no caso dos psitacídeos, pelo contrário, passaram a representar quase 80% do total de aves silvestres comercializadas, sendo não só o grupo de aves mais ameaçado, como também aquele com maior probabilidade de se estabelecer em países onde não ocorre naturalmente..Segundo Luís Reino, o comércio de aves tem um impacto significativo sobre a biodiversidade pois pode provocar a redução das populações selvagens. ."Este é o caso do papagaio-cinzento, uma espécie que se encontra ameaçada devido ao volume anual de animais capturados para o comércio internacional, que pode também levar à introdução de espécies exóticas e estas, por sua vez, provocar impactos negativos nas populações nativas, por exemplo através da introdução de doenças", indicou..O estudo demonstra ainda que o comércio internacional constitui a principal causa da invasão por espécies exóticas, situação que passou a ser mais controlada a partir de 2005.."As aves invasoras podem prejudicar os ecossistemas, destruir culturas agrícolas e competir com espécies nativas", informou Diederik Strubbe, outro dos investigadores envolvidos no projeto, citado na nota informativa..O papel desempenhado pela África ocidental como principal exportador de aves silvestres foi, entretanto, assumido pela América latina, sendo agora este o continente responsável por mais de 50% das exportações de aves em todo o mundo. ."Surgiram também novos compradores, incluindo países como México e Estados Unidos, cujas importações anuais aumentaram de cerca de 23 mil para 82 mil aves", disse Luís Reino..Estas regiões "estão agora expostas a um maior risco de invasões por aves introduzidas por esta via comercial", acrescentou. .Luís Reino afirmou que para reduzir o número de aves comercializadas e diminuir o risco de invasões por aves exóticas, a interdição mundial ao comércio de espécies silvestres terá de ser equacionada como a medida eficiente a adotar..Para além de Luís Reino, participaram ainda no estudo os investigadores do CIBIO-InBIO Rui Figueira, Pedro Beja, Miguel Araújo e César Capinha..Os resultados do estudo foram elaborados a partir da análise à rede global de espécies silvestres comercializada entre 1995 e 2011, tendo os investigadores verificado os dados em circuitos comerciais disponibilizados pela CITES - Convenção sobre o comércio internacional de espécies silvestres ameaçadas de fauna e flora.