Estudantes sérvios aprendem o português que viam nas novelas brasileiras
A professora Ângela Carvalho, da Universidade do Porto, esteve na semana passada a dar aulas ao 2.º ano do curso livre de português, no Centro de Língua Portuguesa de Belgrado na Faculdade de Filologia. No quadro, exibe uma imagem de uma velhinha a jogar jogos de computador, enquanto no monitor do PC da mesma surge uma imagem de duas agulhas a tricotar. E pede aos alunos ali presentes para explicarem em português o que se está a passar.
Está a fazer tricô, respondem alguns alunos, sem grandes dificuldades. Ela explica que, em português, também se pode dizer que a senhora está a fazer malha. E que fazer malha, por sua vez, em português, pode significar também que duas pessoas estão a fazer intrigas sobre outras pessoas. Os alunos riem. Percebem então que, na língua de Camões, uma mesma palavra ou uma mesma expressão podem ter vários sentidos possíveis.
"Gosto muito de aprender a língua, da comida, da música, gosto das pessoas, que na minha opinião são muito semelhantes às pessoas de Belgrado", enumera Urós Jovanovic, estudante de 20 anos, para explicar o que o levou a querer aprender português como língua opcional, já que na Faculdade de Filologia frequenta a licenciatura de sueco. "Tem muitas preposições", nota, quando lhe perguntam que dificuldades tem encontrado na aprendizagem.
"Eu gosto muito da língua portuguesa porque via as novelas do Brasil e gostaria muito de visitar Portugal, que ainda não conheço", afirma Una Erdeljan, estudante da licenciatura de espanhol com 24 anos. E o que é mais difícil? "O português é mais difícil do que o espanhol e às vezes misturo as duas", conta, confessando que gostaria muito de ver a Sérvia aderir à União Europeia "para os jovens poderem estudar e trabalhar onde quiserem".
Andrea, estudante da licenciatura de turco, de 22 anos, diz que se não arranjar trabalho na Sérvia quando acabar o curso vai "para outro país da Europa". Qual? "Ainda não sei. Ainda é cedo. Vamos ver". A sua colega de carteira nesta aula do 2.º ano, Sonja, aluna da licenciatura de inglês, com 20 anos, sonha com um país que fala português, mas não é Portugal, é o Brasil.
"De Portugal conheço o Figo, o Nuno Gomes, o Cristiano Ronaldo. Do Brasil conheço o samba, o Rio de Janeiro, gostava muito de ir ao Rio de Janeiro", diz a jovem, que, preocupada em pronunciar bem as palavras, se socorre dos apontamentos que tem tirado ao longo das aulas.
Na Faculdade de Filologia de Belgrado há licenciaturas em cerca de 30 línguas. O português, porém, não é licenciatura, mas sim uma língua opcional que os alunos sérvios podem estudar. Pois têm que ter uma segunda língua. "Há o 1.º e o 2.º ano. O 3.º é só para quem quer continuar. Não dá créditos", explica Magda Barbeita, uma das professoras do centro, que está em Belgrado há três anos e veio através de um protocolo com a Universidade do Porto.
O Centro de Língua Portuguesa foi criado em 2007 por André Cunha, jornalista português profundo conhecedor da Sérvia e dos Balcãs, que é atualmente leitor do Instituto de Camões em Belgrado. Em todo o país há cerca de 200 alunos sérvios a aprender português: em Belgrado, Novi Sad e Kragujevac.
"Quando perguntamos nas primeiras aulas porque é que eles querem estudar esta língua dizem que é porque é uma língua exótica e que soa bem. Conhecem bem o Fado mas também conhecem a Bossa Nova", acrescenta Magda Barbeita, mostrando que o Brasil, como Portugal, também suscita muito o interesse dos que na Sérvia se interessam pelo português.