Estudantes portugueses fazem greve às aulas pelo clima: "Não estamos a brincar com isto"
Inspirados no trabalho da ativista Greta Thunberg, uma jovem sueca de 16 anos que decidiu fazer greve às aulas em nome do clima, os jovens portugueses vão faltar à escola no próximo dia 15 de março, tal como os estudantes de outros países, para exigir que a resolução da crise climática se torne uma prioridade para o Governo. Por agora, há manifestações marcadas para Lisboa, Porto e Coimbra.
"O objetivo é mostrar aos governos que não estamos a brincar com isto, que precisam de tomar medidas sérias e urgentes na resolução da crise climática, já que têm estado a ignorar os acordos climáticos. Pretendemos exigir ao Governo que faça da crise climática, em conjunto com a comunidade internacional, a sua prioridade", diz ao DN Matilde Alvim, de 17 anos, uma das responsáveis pela marcação da greve em Portugal.
A jovem estudante da Escola Secundária de Palmela juntou-se a Beatriz Barroso para responder ao apelo do movimento estudantil internacional #SchoolStrike4Climate e #FridaysForFuture, que convocou uma greve internacional pelo clima para dia 15 de março. Ambas formaram um núcleo, que neste momento reúne 15 estudantes de escolas secundárias e universidades do Porto, Lisboa e Coimbra, para organizar a Greve Climática Estudantil em Portugal.
Apresentam-se como um movimento estudantil, internacional, pacífico, não-violento, determinado e organizado, descentralizado e não-partidário. "Queremos mobilizar as pessoas para criar contactos nas diferentes escolas, de maneira a que os estudantes se desloquem, para termos um movimento mais concentrado e visível nas três cidades", refere Matilde, destacando que não está descartada a hipótese de se mobilizarem grupos em mais cidades.
No Porto e em Coimbra, os estudantes reúnem-me às 10.30, no dia 15 de março, em frente à Câmara Municipal, enquanto em Lisboa o ponto de encontro é no Largo Camões, estando prevista uma marcha até à Assembleia de República.
Neste momento, adianta a jovem, estão confirmadas greves estudantis na Suíça, Alemanha, Grã-Bretanha, Bélgica, Nova Zelândia e Itália, mas deverão juntar-se mais países ao protesto.
É Greta Thunberg quem está a inspirar milhares de jovens em todo o mundo a faltar às aulas para exigir que sejam tomadas medidas urgentes contra as alterações climáticas. Em agosto, a jovem decidiu fazer greve às aulas durante vários dias seguidos e sentar-se em frente ao Parlamento em nome do clima. "Inspirou centenas de milhares de jovens em todo o mundo. Se ela não tivesse começado, nenhum de nós fazia este movimento. É corajosa, e tem uma mensagem forte para nos passar", reconhece Matilde Alvim.
Seguindo o exemplo da adolescente sueca, em novembro, milhares de estudantes australianos fizeram greve às aulas para exigir medidas para travar o aquecimento global. E seguiram-se manifestações em diversos países.
Na Bélgica, conta a BBC, mais de 30 mil estudantes aderiram à greve às aulas em três cidades para pedir uma nova atitude dos governantes em relação ao clima. Uma iniciativa do movimento #YouthforClimate, que tem vindo a promover ações desde novembro. De acordo com fontes policiais, foi em Liège que se concentrou o maior número de manifestantes: 15 mil pessoas marcharam em nome de uma alteração de políticas.
Na Alemanha e na Suíça, os estudantes também têm vindo a mobilizar-se, às sextas-feiras, no âmbito do movimento #FridaysForFuture.
Os jovens ativistas consideram que o esforço que os governos e as organizações internacionais estão a fazer para solucionar esta crise é mínimo. "Em Portugal, há pouco cuidado, pouco rigor. Estamos muito alienados. As metas não estão a ser cumpridas, temos muitas emissões", critica Matilde Alvim.
Propondo uma mudança de paradigma, os jovens portugueses sugerem uma série de medidas para o país: "A descarbonização dos transportes particulares e públicos; aposta ainda maior nas energias renováveis; aplicação de impostos altos às empresas que excedam níveis de poluição aceitáveis; maior e melhor monitorização dos rios de maneira a que não se despejem nele absolutamente nenhuns resíduos industriais tóxicos e a proibição definitiva da exploração de energias fósseis em Portugal".
Numa conversa telefónica, Matilde Alvim explicou ao DN que sempre se interessou por questões ambientais, tal como os colegas que fazem parte do núcleo. "Já tinha ido a manifestações contra o furo de Aljezur. Sempre pensei muito nisto. Agora, achei que era altura de fazer alguma coisa", afirmou.