Ainda há pouco nos chegou a nova versão de Dumbo, por Tim Burton, e num estalar de dedos já está aí o Aladdin, de Guy Ritchie. Eis a primeira nota sobre o empreendimento: Will Smith cresce no grande ecrã como o verdadeiro achado deste live action e confirma-se um justo sucessor de Robin Williams (1951-2014), que dava voz ao Génio no filme de animação..É ele, Smith - a surgir logo no início na pele de um marinheiro -, quem nos vai contar a história do ladrão Aladdin (Mena Massoud), a princesa Jasmine (Naomi Scott) e a lâmpada mágica. De resto, uma história que toda a gente conhece....No reino de Agrabah vive essa princesa que se apaixona por um larápio de bom coração, cujo futuro está ameaçado pela presença de Jafar, um homem malicioso que anda a tentar aceder a uma tal lâmpada mágica para concretizar o seu maior desejo: tornar-se Sultão. Aladdin, uma alma pura, será a sua chave para entrar na caverna onde se encontra a lâmpada, mas, com ela nas mãos, e graças à ajuda do macaquinho Abu, acaba por ser o próprio a ter direito à visita do Génio - diante do figurão azul, só tem de dar azo à imaginação e pedir três desejos. O primeiro, obviamente, é sair dessa caverna onde ficou preso. E, a partir daí, o Génio ganha ele mesmo o direito a umas boas férias fora da relíquia de lata, começando a sua aventura de fazer do rapaz simples um príncipe para Jasmine..Ao pegar neste tão amado conto da Disney, Guy Ritchie limitou-se a dar o seu toque pessoal de modernice, por entre as esquinas do clássico, sem controlar muito bem o uso de pozinhos digitais... É verdade que Aladdin espanta a retina como um autêntico festival de cores, com fantásticos saltos em telhados, voos de tapete mágico, música (o famoso tema A Whole New World não sai desvirtuado) e dança. O problema é que a energia e vibração de tudo isto não é acompanhada pelo bom gosto, justamente, de um clássico. Dito de outra maneira: à força de tanto ruído visual, de tanto malabarismo aparatoso, o filme perde - sobretudo nos seus momentos finais - a consciência "musical", aproximando-se mais de um videoclip cuja canção embrulha uns quantos clichés moralistas... Não havia necessidade..E apesar disso, faça-se o devido elogio ao humor do Génio de Will Smith e à sua capacidade de garantir a posteridade a este Aladdin que, tirando um ou outro momento, parece ter sido concebido no estúdio de pós-produção..Uma fórmula de sucesso.A Disney continua atarefada com o seu amplo projeto de "refazer" os clássicos da animação em imagem real. Só neste ano vão chegar mais dois títulos às salas de cinema: O Rei Leão, já em julho, e Maléfica: Mestre do Mal, em outubro (este último a continuar o sucesso alcançado pela personagem de Angelina Jolie, extraída do universo de A Bela Adormecida). Para 2020, aponta-se Mulan. E entre outros filmes na calha descobrimos Cruella, Pinóquio, o segundo capítulo de O Livro da Selva, A Dama e o Vagabundo, A Pequena Sereia, A Espada Era a Lei, Peter Pan e, a partir deste, uma produção só centrada na história da pequena Sininho. Já agora, se dúvidas houvesse mediante o brilharete de Will Smith, até o Génio de Aladdin vai entrar, em nome próprio, nesta linha de montagem..Perante a amostra da longa lista, fica claro que a ideia não é apenas de ir ao encontro da magia dos clássicos, mas tirar partido das suas personagens e aumentar a estratégia - se resultou com Maléfica, também a Cruella dos 101 Dálmatas, a fada de Peter Pan e o Génio da lâmpada de Aladdin deverão gerar dividendos..A propósito, vale a pena lembrar que, antes de se tornar um fenómeno mediático, esta tendência dos remakes da Disney veio fermentando desde os anos 1990. O primeiro filme, A Lenda do Livro da Selva, surgiu em 1994. De seguida, foi a vez de Os 101 Dálmatas (1996), protagonizado por Glenn Close - que teve uma sequela em 2000 -, e com o triunfo de bilheteira de Alice no País das Maravilhas (2010), de Tim Burton, percebeu-se que a fórmula resultava e tinha pernas para andar..Na sequência de êxitos como A Bela e o Monstro, que arrecadou mais de 1200 milhões de dólares pelo mundo, e O Livro da Selva, no patamar dos 966 milhões, a aposta continua a fazer-se em duas frentes. Por um lado, os fãs nostálgicos dos clássicos, que começam a entrar no ritmo desta revisitação em live action, e, por outro lado, os mais novos, que através das recentes versões acedem ao imaginário dos filmes que marcaram a infância dos seus pais..Esta partilha geracional é o que melhor valida a lógica de lucro dos estúdios do Rato Mickey. As novas produções, a saírem como pãezinhos quentes, vão fortalecendo os laços com a memória da casa, ao mesmo tempo que garantem a inovação. Porque, entenda-se, a cada novo filme tira-se partido das mais avançadas tecnologias para recuperar uma magia que antes era alcançada por uma genuína verve criativa - embora Walt Disney tenha sempre estado na dianteira da revolução técnica, dentro do cinema de animação. E assim, olhando para as recentes versões de O Livro da Selva, Dumbo e mesmo O Rei Leão, em que os animais são figuras prodigiosamente digitalizadas, fica a sensação de que isto da "imagem real" tem muito que se lhe diga... Mas, claro, não é por isso que deixamos de apreciar.