Estatuto de candidato à UE dará a Putin a "mensagem de que a sua política fracassou"

No mesmo dia em que a presidente da Comissão Europeia anunciou o sexto pacote de sanções ao regime russo, o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano disse que o estatuto de candidato à UE é o caminho mais curto para a paz.
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O ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia pediu aos dirigentes europeus para admitirem o estatuto de candidato ao seu país já em junho como forma de pressionar a Rússia e alcançar a paz. Também deixou críticas aos Estados-membros que não estão dispostos a enveredar por um embargo à energia russa, "cúmplices" dos "crimes" de Vladimir Putin na Ucrânia. Horas antes, a presidente da Comissão Europeia havia proposto um embargo gradual ao petróleo russo, uma iniciativa ainda longe de estar garantida, dada a oposição da Hungria.

O governo ucraniano instou Bruxelas a considerar a sua candidatura de adesão à União Europeia em junho através de uma mensagem do ministro Dmytro Kuleba no Twitter. Kuleba agradece à Europa por impor sanções e enviar armas, mas lamenta que, por outro lado, não esteja a impor um embargo absoluto ao gás e ao petróleo russos.

"Sem exagero, a adesão da Ucrânia na UE é uma questão de paz e de guerra na Europa. Se a política de ambiguidade construtiva da UE se mantiver face à perspetiva da Ucrânia se tornar membro, a guerra continua. Se a UE conceder o estatuto de candidato à Ucrânia em junho dará uma mensagem ao presidente Putin de que o que quer que faça ou tente a sua política fracassou e a Ucrânia é um de nós", afirmou.

Kuleba também condicionou o processo à paz no continente: "Demorará o seu tempo entre o estatuto de candidato e ser de facto membro, mas isso é outra história. É sobre o futuro da Ucrânia, mas também sobre o futuro da Europa. Enquanto a Ucrânia não fizer parte da UE, a Europa não será um lugar próspero e seguro para viver." Esta abordagem para fazer parte da UE e o próximo plano de reconstrução do país, no qual o presidente Volodymyr Zelensky já está a trabalhar, são as duas "autoestradas" que conduzirão o país a um futuro estável, indicou o chefe da diplomacia.

Kuleba saudou as sanções contra o regime de Putin e a chegada de armas, mas não deixou de criticar o facto de não haver um embargo total ao petróleo e gás russos que impeçam a "máquina de guerra" do Kremlin de continuar a ser alimentada com "milhares de milhões de euros". Acusou os países que continuarem nessa via de serem "cúmplices" do Kremlin. "Se algum país da Europa continuar a opor-se ao embargo sobre o petróleo russo, haverá boas razões para dizer que esse país é cúmplice dos crimes perpetrados pela Rússia no território da Ucrânia", concluiu.

Em Estrasburgo, no Parlamento Europeu, a presidente da Comissão propôs um embargo gradual ao petróleo russo, uma iniciativa cujo sucesso está por provar. "Não será fácil", reconheceu Ursula von der Leyen. "Alguns Estados dependem em grande medida do petróleo russo. Mas temos de trabalhar na questão", disse perante os eurodeputados. A meta é proibir todo o petróleo russo "transportado por mar e por oleodutos, bruto e refinado".

O sexto pacote de medidas deveria ser aprovado a tempo de entrar em vigor no dia 9, Dia da Europa. Mas precisa ser aprovado por unanimidade pelos Estados-membros. Foi proposta uma extensão de um ano aos dois países mais dependentes do petróleo russo, a Hungria e a Eslováquia. Mas o governo de Viktor Orbán, que se tem mantido equidistante entre Bruxelas e Moscovo, rejeitou a proposta da UE, tendo alegado que "na forma atual" a medida "destruiria totalmente a segurança energética" do país. O ministro húngaro dos Negócios Estrangeiros, Peter Szijjarto, afirmou que o prazo não é suficiente. "Não é uma questão de falta de vontade ou de calendário, é simplesmente uma realidade física, geográfica e de infraestruturas", explicou.

Von der Leyen declarou que a interrupção das importações acontecerá "de maneira a permitir assegurar rotas alternativas de abastecimento e minimizar o impacto nos mercados globais".

Além disso, a UE propõe fechar o espaço europeu a "três grandes emissoras estatais russas", "altifalantes que amplificam as mentiras de Putin". Como esperado, a dirigente alemã disse que as sanções incluem o maior banco russo, Sberbank e outros dois, que irão ser excluídos do sistema SWIFT. Na lista de pessoas visadas encontra-se o chefe da Igreja Ortodoxa russa, o patriarca Cirilo, que tem dado cobertura à aventura militar do Kremlin.

Os serviços secretos ucranianos avançaram com a informação de que os invasores russos estão a preparar em Mariupol um desfile militar no dia 9, o Dia da Vitória das forças soviéticas contra os nazis. Entretanto, e após notícias de uma tentativa de assalto à siderurgia Azovstal por parte das forças russas, Moscovo anunciou uma trégua para a retirada de civis, a partir de quinta-feira e até sábado. Esta iniciativa coincide com um telefonema realizado pelo presidente ucraniano ao secretário-geral da ONU para que este conseguisse obter mais uma retirada de civis, após a ocorrida com 101 mulheres e crianças.

Por sua vez, António Guterres, em visita à Nigéria, disse estar a envidar esforços para que a produção agrícola ucraniana e os fertilizantes russos e bielorrussos voltem aos mercados mundiais de forma a contrariar a "crise tridimensional" causada pela invasão da Ucrânia. A Rússia e a Ucrânia são os principais exportadores de trigo, milho, colza e óleo de girassol, e a Rússia é o principal fornecedor mundial de fertilizantes e de gás. Kiev acusa a Rússia de ter roubado 400 mil toneladas de cereais dos territórios ocupados, o equivalente a um terço do que está armazenado naquelas regiões.

A Bulgária deu um passo no apoio a Kiev, ao ver o seu parlamento aprovar uma colaboração para o trânsito de cereais e de energia, bem como a reparação de equipamento militar pesado ucraniano.

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