"Estão a matar o futebol português lentamente e à vista de todos"

O jogador do Aves Paulo Machado falou ao DN sobre a Taça de Portugal, as agressões a jogadores do Sporting (adversário da final) e das notícias do envolvimento de um colega num alegado esquema de aliciamento.
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Como é que o plantel do Aves lidou com as notícias do alegado envolvimento de Nélson Lenho num esquema de favorecimento ao Sporting?
Lidar, não lidámos muito bem. Ninguém gosta de ver o nome do colega e do clube numa situação dessas. Aparece um arrependido, que ganha consciência e vai entregar-se na PJ entregar um telemóvel que tem umas mensagens e de repente toda a gente as tem e andam a circular, sejam verdade ou não. E pronto, já nem é preciso ir a tribunal, estás condenado.

Mas passar por isso em vésperas de uma final da Taça de Portugal...
Pois...o Nélson ficou muito abalado. A notícia apanhou todos de surpresa quando já estávamos em estágio. Ver-se envolvido em algo que envergonha o futebol deixou-o muito triste, não tanto por ele que tem a confiança da equipa e dos colegas, mas pela família, que se vê envolvida também. É triste ver no que se transformou o futebol português. Nós estamos com ele, acreditamos nele, sabemos que ele vai dar o melhor na final e vamos ganhar a Taça.

Como é que um jogador lida com o clima de suspeição em que um erro pode virar caso de polícia?
Há uns que lidam bem com isso, estão de consciência tranquila e outros que se vão abaixo. Ver o nome envolvido num esquema desses e escarrapachado nos jornais... Hoje um erro num jogo aceita-se, o segundo já é um vendido. Estão a matar o futebol português lentamente e à vista de todos. É um absurdo ver notícias de um dirigente a tentar comprar um jogador.

Está a dizer que é fácil envolver um jogador numa situação destas?
Basta uma mensagem sem contexto, pelos vistos. Um jogador inocente que se veja envolvido numa situação de venda de jogos, pode ver o nome limpo no tribunal, mas já foi condenado por via da comunicação social, nas redes sociais e tem a carreira arruinada. Nem é preciso ir a tribunal para seres condenado

Alguma vez o tentaram aliciar?
Não. Não têm tempo nem coragem para isso...

A semana também ficou marcada por agressões aos jogadores do Sporting, que não treinaram a semana toda...
Bater nos jogadores... não são adeptos, são arruaceiros. Como jogador fiquei muito triste, mas cada um tem de olhar para sua casa e nós temos um jogo importante para ganhar. Esperamos uma final tranquila e que vença o melhor e que esse melhor seja o Aves. O Sporting não treinou, mas isso não é vantagem nenhuma para nós. Toda a gente sabe que são uma grande equipa, mas é uma final, é um jogo único e é 50% para cada lado. Não acredito num Sporting abalado, por vezes nos maus momentos é que as equipas se unem e superam.

Como viveu esta campanha da Taça de Portugal?
Quando isto começou quem é que pensava que podia chegar à final? Ninguém, não venham cá dizer que sim. Mas quando vês a final cada vez mais perto há um momento em que começas a pensar "espera lá que isto com um bocado de sorte pode acontecer".

E que momento foram esses?
Tivemos alguma sorte com os adversários, no início, mas não foi só com sorte que o Aves chegou lá... foi com muito trabalhinho pelo meio.

Há alguma ansiedade pela final?
Nenhuma. É um momento único pisar o Jamor. Eu já venci taças fora de Portugal, mas no meu país é a primeira vez que tenho essa oportunidade. Voltar a Portugal e conseguir chegar ao Jamor é especial. Há jogadores que fazem carreiras espetaculares e em 15/20 anos nunca pisaram o Estádio Nacional.

Como é que o Desp. Aves pode vencer o Sporting?
Pensar e acreditar que numa final qualquer equipa tem de vencer. Sabemos que pode ser possível. É a Taça, é a prova que tem algo de especial, onde os pequenos sonham. Temos de aproveitar este momento único, podemos ficar na história durante anos se conquistarmos a Taça... Já chegar à final é histórico.

Tirando os adeptos e a Vila das Aves, estavam todos a torcer pelo Caldas naquela meia final...
Nunca foi fácil passar o Caldas. Criou-nos muitas dificuldades. Foram dois jogos muitos especiais e emotivos. A maior parte do país queria o Caldas na final, eu entendo, mas para o Aves também era o jogo mais importante. Deu-nos força e soube melhor assim.

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