Aterrou ontem em Lisboa o banqueiro António Horta Osório. Na bagagem, o presidente do Lloyds Bank traz uma boa notícia. "Até parece uma prenda de Natal!", brinca, em entrevista ao DN/Dinheiro Vivo, que decorreu durante os minutos que antecederem o embarque. António Horta Osório refere-se à aquisição da unidade de cartões de crédito ao Bank of America pelo Lloyds Banking Group. Este negócio foi fechado por 1,9 mil milhões de libras (2,261 mil milhões de euros) e "é uma transação muito significativa, por ser a primeira aquisição em oito anos, ou seja, após o governo britânico ter injetado na instituição 20 mil milhões de libras dos contribuintes", destaca o banqueiro..Com esta compra, o Lloyds passa a deter uma quota de 26% do mercado de cartões de crédito do Reino Unido, cumprindo uma ambição já inscrita no plano de crescimento da instituição. "Quando anunciámos o segundo plano estratégico, para 2015-2017, definimos que a meta passaria por crescer num segmento onde o banco estava sub-representado, ou seja, precisamente nos cartões de crédito", revela. "Até aqui, o Lloyds tinha 25% de quota de mercado no retalho, mas apenas de 15% nos cartões de crédito. Agora, este negócio possibilita ganhar mais 11% de quota, ficando com 26% nos cartões de crédito", explica o banqueiro..A compra representa o cortar de uma meta estratégica, um aumento gigante da quota de mercado para mais de o dobro e "um bom negócio", afiança o gestor. "Esta aquisição permite um retorno de 17% para os acionistas logo no segundo ano após a aquisição. Portanto, trata-se de um valor de retorno bom e muito rápido"..O Lloyd"s tem registado um crescimento "de 20% ao ano" e esta aquisição "é um investimento feito com capitais próprios, porque o banco tem fortes rácios de capital", afirma.."O Lloyds tem 3,5 mil milhões de libras de capital orgânico por ano e o banco consome apenas metade do capital que gera com esta compra. Mesmo com esta aquisição, a situação financeira permitirá continuar a subir os dividendos nos próximos anos", assegura António Horta Osório..A unidade de cartões de crédito ao Bank of America representa também um virar de página na vida do Lloyds, numa altura em que o Tesouro britânico está prestes a sair do capital do banco (têm 6,99% contra os 43% iniciais).."Há dois anos, o banco retomou o pagamento de dividendos e já devolveu 17,5 mil milhões de libras aos contribuintes britânicos dos cerca de 20 mil milhões de libras [23,8 mil milhões de euros] que o Estado injetou", explica..Depois de ter tido intervenção pelo Estado inglês, a instituição recuperou a força financeira. António Horta Osório avança ao DN/Dinheiro Vivo que "o Estado poderá sair com lucro" e que "poderá sair até ao final do primeiro semestre, até porque já só falta devolver menos de três mil milhões de libras aos contribuintes, cuja participação (de 6,9% do Estado no banco) tem hoje um valor de mercado de cerca de quatro mil milhões de libras. A partir de 2,8 mil milhões de libras devolvidas já podemos mesmo dizer que o Estado britânico terá lucros". Portanto, acredita, que o sonho está próximo de se tornar real..Em 2017, "seis meses serão suficientes para completar esta aquisição e potenciar as sinergias dentro da instituição". Depois, o foco estará no "terceiro plano estratégico, de 2018 a 2020, que será apresentado em março ou abril, e no qual temos duas grandes metas: o crescimento do negócio e mais dividendos", anuncia António Horta Osório.