Estado Islâmico reivindica dia sangrento em Bagdad
Apesar de ter perdido dois terços do território iraquiano que conquistou em 2014, o Estado Islâmico não está circunscrito às zonas que ainda controla. Essa é a mensagem do triplo atentado suicida de ontem em Bagdad, reivindicado pelo grupo extremista sunita, que causou a morte a pelo menos 86 pessoas - o dia mais sangrento este ano na capital iraquiana. A maioria das mortes foi resultado do primeiro ataque numa zona de mercado no bairro xiita de Sadr City, batizado em nome do pai de Moqtada al-Sadr, cujos apoiantes têm exigido nas ruas uma remodelação governamental.
A primeira bomba estava escondida numa carrinha de caixa aberta carregada de frutas e vegetais. Segundo disse uma testemunha à Associated Press, o condutor estacionou a pickup à porta de um salão de beleza e desapareceu no meio da multidão - o Estado Islâmico reivindicou o ataque na Internet e disse ter-se tratado de um bombista suicida. De acordo com a Reuters, muitas das vítimas eram mulheres, algumas delas noivas que estavam a preparar-se para os casamentos. Dois dos corpos eram de noivos, que se preparavam no salão de barbeiro ao lado. Este primeiro ataque, que ocorreu de manhã durante a hora de ponta, causou a morte a 64 pessoas e deixou ainda 82 feridos.
"Foi uma explosão tão violenta que sacudiu o chão", disse Karim Salih, de 45 anos, à AP. "A força da explosão lançou-me alguns metros no ar e perdi a consciência por minutos", acrescentou.
Bagdad ainda não tinha recuperado do ataque da manhã, quando duas novas explosões se fizeram ouvir ao final da tarde. Um bombista suicida passou um controlo de segurança em direção a Kadhimiya, uma área no nordeste da cidade onde está localizado um dos locais mais sagrados para os xiitas. Pelo menos 17 pessoas morreram, entre os quais membros das forças de segurança, e mais de 30 ficaram feridos, segundo as autoridades.
A terceira explosão ocorreu num controlo de segurança no bairro de maioria sunita de Jamea, no oeste de Bagdad, causando a morte a oito pessoas e 21 feridos. Segundo a reivindicação do Estado Islâmico, que circulava ontem nos sites dos seus apoiantes, estas duas últimas explosões foram causadas por bombistas suicidas que usavam coletes de explosivos e tinham como alvo as forças de segurança.
Em 2014, o Estado Islâmico conquistou quase dois terços do território do Iraque. Desde então, as forças iraquianas com o apoio dos bombardeamentos da coligação liderada pelos EUA conseguiram empurrar o grupo extremista sunita para a província ocidental de Anbar - e estão a preparar uma ofensiva para retomar Mossul, a segunda maior cidade do país. Contudo, os militantes do Estado Islâmico conseguem atacar fora do território que controlam - em fevereiro, um duplo atentado suicida num mercado de Sadr City fez 70 mortos e em março, a explosão de um camião cisterna num posto de controlo perto de Hilla, a sul de Bagdad, matou outros 47.
O triplo ataque de ontem pode agravar a violência confessional, sendo comum as represálias contra a minoria sunita depois deste tipo de atentados. A maioria xiita chegou ao poder em 2003, após a invasão liderada pelos EUA que derrubou Saddam Hussein (sunita). Os sunitas não reconhecem os xiitas como verdadeiros muçulmanos.
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Os ataques devem ainda incendiar mais a crise política, com vários partidos a oporem-se aos planos do primeiro-ministro Haider al-Abadi de liderar um governo de tecnocratas - atualmente, os cargos são divididos com base em quotas políticas e religiosas. Moqtada al-Sadr, líder xiita, apoia a ideia do primeiro-ministro, mas acusa-o de demorar demasiado tempo para a empreender. Os seus apoiantes têm organizado vários protestos e, no início do mês, entraram à força na Zona Verde (de segurança é reforçada) e ocuparam o Parlamento durante várias horas.