Luisão retira-se na Luz: "Agora vou dar o meu contributo fora do campo"
"O que me fez antecipar a minha decisão [de retirada] é que a minha história foi escrita com mais de 500 jogos, foi escrita durante muito tempo e cheguei à conclusão de que era a melhor hora. Agora posso dar o contributo fora de campo para a reconquista, que é tão importante para o clube e para os meus companheiros".
Foi assim que Luisão explicou, na Luz, a retirada imediata dos relvados, durante a homenagem que o clube lhe proporcionou para assinalar a decisão revelada esta terça-feira.
Uma camisola gigante com o número 4 e o nome de Luisão nas costas foi pendurada numa das bancadas do Estádio da Luz para a homenagem de despedida ao central brasileiro, depois de 15 anos ao serviço do Benfica. Luisão vai continuar na Luz noutras funções, ainda por revelar, mas que devem passar para já pelas relações internacionais do clube. "Tudo está encaminhado para isso. Mas sobre o futuro não consigo especificar nada agora", referiu.
Luisão entrou no relvado acompanhado da mulher e das filhas e tinha os pais sentados na primeira fila de uma plateia improvisada no centro do relvado da Luz, onde foi montado um palco com a inscrição de "Obrigado Capitão" [função que o central desempenhou nos últimos anos], ladeado pelos troféus que Luisão conquistou ao serviço do Benfica.
"Obrigado Luisão, obrigado capitão", ouviu-se também na instalação sonora do estádio. E ouviu-se ainda da boca do presidente Luís Filipe Vieira, responsável pela vinda do central brasileiro no verão de 2003. "Hoje é um dia muito especial. Recordo com nostalgia o dia em que, no velhinho Estádio da Luz, recebi um rapaz franzino no corpo mas grande na entrega. Luisão, se há 15 anos te dei as boas-vindas, agora digo: muito obrigado. Obrigado pelo caráter, pelo profissionalismo, pela liderança e pelo amor ao Benfica", disse Vieira, ao lado do agora ex-jogador, no palco.
"Hoje não é o fim, é o princípio de uma nova etapa. Sempre disse que és o meu companheiro de viagem", acrescentou o líder encarnado, que ofereceu a Luisão uma capa de uma edição do "Jornal Benfica" de agosto de 2003, com uma entrevista ao então recém-chegado central, na qual este dizia: "Quero fazer história no Benfica". "E fizeste", sentenciou Vieira.
Luisão retribuiu com um "obrigado Benfica" e também tinha uma oferta para o presidente encarnado: a última camisola com que treinou no Seixal, esta terça-feira.
O central fez depois um flashback na carreira de águia ao peito e elegeu os dois melhores momentos em 15 anos na Luz: o golo ao Sporting em 2005 - "que nos deu o título e ainda hoje dá polémica", disse; e o regresso à competição para liderar a conquista do tetra, em 2017, após ter partido um braço - "porque consegui com resiliência superar o que era uma limitação minha, numa altura em que a idade já era avançada, e consegui liderar para a conquista do tetra. Foi chave de ouro", justificou.
O brasileiro lembrou as finais europeias perdidas (2012 e 2013) como algo que vai "lamentar até ao fim da vida" e admitiu que houve momentos em que não teve "a maturidade para lidar com propostas" que recebeu para sair do Benfica, agradecendo o "aconselhamento certo" de Luís Filipe Vieira.
De resto, Luisão recordou que a aventura no Benfica esteve quase a não passar dos primeiros meses, porque "as críticas eram tantas" que um dia o brasileiro quase desistiu. "Cheguei a um treino e chorei. Queria voltar para o Brasil, não estava a aguentar a pressão. Mas o psicólogo de então, Pedro Almeida, disse que eu haveria de regressar ao Brasil como vitorioso e não como derrotado".
Todos os jogadores, equipa técnica e elementos dos órgãos sociais do clube marcaram presença na Luz, para uma homenagem que se iniciou às 19.00 horas. "É um momento muito emotivo", referiu à BTV o defesa brasileiro. "Tenho a sensação do dever cumprido", acrescentou o agora ex-jogador, que após o final da festa no relvado recebeu um abraço dos compatriotas e amigos Júlio César e Artur Moraes, que fizeram questão de estar presentes neste momento. "Ele que aproveite bem a aposentadoria", atirou Júlio César, que há menos de um ano terminou a carreira.
Luisão, que chegou ao Benfica pouco antes de Luís Filipe Vieira ser eleito para o primeiro mandato, em 2003, abandona a competição com 20 troféus conquistados pelos encarnados, o que faz do brasileiro o jogador mais titulado da história do Benfica, e com o título de estrangeiro com mais jogos disputados de águia ao peito (538) - e o segundo absoluto, só ultrapassado por Nené (578).
O brasileiro, que fez o último jogo oficial em 13 de maio, na última jornada da I Liga frente ao Moreirense (1-0), conquistou seis campeonatos, três Taças de Portugal, quatro Supertaças Cândido Oliveira e sete Taças de Liga.