Esplendor na relva: sub-20 de Portugal estão na final do Mundial B
No mesmo Brasil que há 11 dias viu partir o genial João Gilberto, e lembrando aquilo que o sublime intérprete cantou tantas e tantas vezes, poderemos dizer: olhem que coisa mais linda, mais cheia de graça é esta seleção nacional de sub-20 que, sem desafinar e praticando um râguebi de "muitas e melodiosas notas", bateu nesta tarde de quarta-feira, por inconcebíveis 40-3, a até hoje receada seleção do Tonga - cujo principal quinze estará, a partir de setembro, no Mundial sénior no Japão e que até aqui tinha impressionado ao levar todos os adversários à frente.
E assim, os Lobitos de Luís Pissarra e João Mirra (tricampeões europeus, convém não esquecer...) qualificaram-se para a sua segunda final do World Rugby U20 Trophy - o também denominado Mundial B deste escalão - em três anos, depois da perdida em 2017 frente ao Japão, em Montevideu, numa partida concluída antes dos 80 minutos de forma polémica.
E ao contrário do que se temia, afinal o papão tonguiano seria engolido em duas penadas... e meia dúzia de ensaios, por uma equipa jovem mas muito mais adulta praticando um râguebi crescido, intenso, por vezes mesmo exuberante e com requintes de classe. Um esplendor na relva do estádio Martins Pereira, situado em S. José dos Campos, nos arredores de S. Paulo.
E o início da partida nem deu de imediato essas indicações, pois perante um conjunto de superior poder físico (quase a lembrar um combinado de 15 Ivan Dragos, lembram-se do Rocky IV?), os Lobitos desgastavam-se nos embates corpo-a-corpo que a nada levavam. E aos 11" veriam mesmo o pilar António Cunha ser excluído 10" por amarelo devido a placagem sem braços.
Até que aos 18" num contra-ataque iniciado pelo centro José do Carmo (em terras de samba brilhava um filho do fadista José da Câmara...), a oval chegou ao ponta Raffaele Storti que acelerou de forma fantástica para marcar o seu sexto ensaio na prova - e ainda faria o sétimo, cimentando o seu título de melhor marcador da competição.
O Tonga responderia logo a seguir numa penalidade de Samate (nova placagem sem braços, agora de Rodrigo Marta e com aviso do árbitro argentino ao capitão José Roque), reduzindo para 7-3. Nem imaginariam os jovens do Pacífico Sul que não iriam colorir mais o seu marcador no encontro!
Mas com um jogo de demasiado movimento para os pesos-pesados adversários, recheado de velocidade, imaginação e alegria, os Lobitos não iriam desperdiçar o seu encontro com a História. E mesmo com alguns erros motivados por uma exagerada confiança por parte do médio de abertura Jerónimo Portela - que voltou a exibir-se em grande estilo, diga-se de passagem, e já leva 44 pontos apontados, sendo o melhor marcador da prova - Portugal marcaria mais três ensaios antes do intervalo, por intermédio dos 2.ª linhas Sebastião Silva e Martim Belo (o primeiro a mergulhar após um ruck e este a concluir lance prolongado e como se de um três-quartos se tratasse) e de novo o fantástico Storti, num soberbo e poderoso slalom a trespassar a defesa rival como faca quente em manteiga no verão. Sem palavras...
Ao intervalo o resultado já assinalava 26-3, mas percebia-se que as coisas não iam ficar por aqui tal a superioridade do quinze nacional.
E se as mêlées estavam a correr bem no 1.º tempo, na 2.ª parte iria acentuar-se o domínio português nesta importante fase de conquista de bola. E logo aos 45" a formação ordenada dos Lobito fez em picadinho a mêlée adversária com o capitão José Roque a marcar o quinto ensaio da partida (33-3).
O Tonga aqui e ali ensaiava uma ténue reação, tentando construir e esticar o seu jogo, mas a defesa nacional não abria uma brecha - como placam estes Lobitos, com destaque para os asas Manuel Maia e Manuel Pinto, o inspirador líder José Roque ou o centro Rodrigo Marta - e aos 54" de novo uma sequência com inúmeras fases à mão seria finalizada em grande estilo pelo ponta Francisco Afra Rosa, estabelecendo o resultado final: uns fantásticos 40-3, na segunda vez que estas equipas se defrontavam neste escalão depois dos 27-7 favoráveis ao Tonga em 2013.
E o final da partida seria mesmo penoso para os homens do Pacífico Sul, com Portugal acampado na sua área de 22, jogando a seu bel-prazer - até exagerando no jogo bonito para a plateia - e dominando de forma arrasadora as mêlées (só o superior peso não chega se a técnica não ajuda, não é?).
E o jogo terminaria sem nova alteração no marcador após 80 minutos plenos de classe de uma equipa de corpo inteiro e que nos enche de orgulho, apurando-se de novo para uma final do World Trophy. Coisa mais linda e cheia de graça...