Esperanto: "Língua que protege as outras" vai ser debatida em Portugal
O Congresso Universal de Esperanto, que chega este ano à 103.º edição, vai ser realizado pela primeira vez em Portugal. A Reitoria da Faculdade de Direito da Universidade Clássica de Lisboa vai acolher o evento, que se realiza entre o dia 28 de julho e 4 de agosto.
"Um sonho tornado realidade", segundo o advogado Miguel Faria Bastos, um dos promotores do encontro, que recorda a "luta" que foi trazer o congresso até ao nosso país. "Esta é a terceira vez que nos candidatamos a receber o encontro. Só agora conseguimos vencer a corrida. Vencemos a Finlândia e o Canadá", revela.
Sob o tema "Culturas, línguas, globalização: Que rumo doravante?", o organizador espera que estes dias de debate sirvam para fazer o esperanto - uma língua criada pelo oftalmologista, filólogo e poliglota polaco Ludwiik Zamenhof, em 1879 - ganhar adeptos em Portugal, país onde o uso da língua regrediu durante o Estado Novo. "Por ser uma língua muito fácil, o esperanto era usado muitas vezes na propaganda e Salazar não gostava", comenta.
"A ideia do Congresso Universal é discutir a possibilidade de o mundo poder ter acesso a uma linguagem neutra, fácil, que não prejudique as outras. Antes pelo contrário, que promova os outros idiomas. O esperanto protege as outras línguas", garante.
2500 participantes são esperados
Para o evento são esperados "não menos" de 2500 participantes, uma vez que, segundo comunicado do encontro, o último evento realizado na Polónia foi assistido por quase 6000 pessoas.
Há uma Comissão de Honra composta por treze personalidades, entre as quais o antigo Presidente da República António Ramalho Eanes e o edil de Lisboa, Fernando Medina.
A única língua autorizada no Congresso é o Esperanto, não havendo portanto auriculares nem interpretação simultânea.
De entre as cerca de 6300 línguas étnicas faladas atualmente no planeta, o "português está entre as sete que mais parecenças têm com o esperanto no plano lexical, semântico, morfossintático e fonético".
De qualquer forma, Miguel Faria de Bastos recorda que, a par da Albânia, Portugal é o país que mais ignora o idioma. "Os políticos tem medo dela. Consideram-na uma utopia."
Recorde-se que a UNESCO aceitou como oficial o número de 10 milhões de falantes de esperanto em todo o mundo. "Mas há muitos autodidatas, portanto, é difícil contabilizar", ressalva o advogado.
A decisão de tornar Portugal o anfitrião do 103.º Congresso de Esperanto foi tomada na última reunião magna dos esperantistas de todo o mundo, realizada em julho de 2016, na cidade de Nitra, na Eslováquia. Nela participaram 1252 congressistas de 100 nacionalidades, entre os quais o advogado luso-angolano Miguel Faria de Bastos.
[notícia atualizada a 27 de julho, retirando a referência ao facto do ministro da Educação ser o "alto patrono do Congresso"]