Esperança de vida adicional de um doente com VIH é de mais 45 anos

ONU Sida quer que em 2020 existam 30 milhões de pessoas no mundo a tomar antirretrovirais. Em Portugal os novos casos continuam a descer: foram 990 no ano passado
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Passaram 33 anos desde o primeiro caso de VIH registado em Portugal. A entrada dos antirretrovirais - medicamentos que atuam nas várias fases do ciclo de vida do vírus evitando a sua evolução - fez com que a doença passasse de uma sentença de morte para doença crónica. Atualmente uma pessoa infetada com o vírus - nos países mais desenvolvidos -tem uma expectativa média de vida de mais 45 anos.

Uma realidade, que segundo os especialista, também é vivida em Portugal, que tem vindo a reduzir de forma sustentada o número de novos casos: no ano passado registaram-se 990, quando há 10 anos eram mais de 2 mil. A ONU Sida já estabeleceu como meta para 2030 erradicar a doença como um problema de saúde pública. Hoje, Dia Mundial de Luta Contra a Sida, esse compromisso volta a ser reafirmado.

"Em 30 anos nunca houve na história da medicina uma doença que em tão pouco tempo passasse de mortal a crónica. Existiram mudanças enormes à escala global e o compromisso da ONU Sida para 2030 é a erradicação da doença como um problema de saúde pública. Já lá vai o tempo em que os doentes tinham de tomar 12 comprimidos e com efeitos secundários significativos. Hoje a maioria começa o tratamento com um comprimido. Há menos efeitos secundários", diz ao DN Telo Faria, coordenador do Núcleo da Doença VIH da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna.

Segundo a ONU Sida há 18 milhões de pessoas no mundo a fazer antirretrovirais, esperando que cheguem aos 30 milhões em 2020. "Os antirretrovirais estão a permitir que as pessoas infetadas vivam mais tempo. Em 2015 as pessoas com mais de 50 anos representavam cerca de 17% da população adulta com HIV", diz a organização.

1996, o ano em tudo mudou

O primeiro antirretroviral a entrar em Portugal foi o AZT em 1986/87. Mas a grande revolução foi em 1996. "Foi quando se chegou à conclusão que o tratamento da infeção deveria ser feito com três agentes em simultâneo. Fez toda a diferença do ponto de vista da terapêutica", diz António Diniz, ex-diretor do Programa Nacional para a Infeção VIH/Sida. Este ano foram aprovados em Portugal dois inovadores, por serem de comprimido único e mais baratos do que as alternativas.

Os antirretrovirais atuam inibindo a ligação do vírus às células ou em diversos pontos do ciclo de vida do vírus, travando a sua evolução. É esta ação que permitiu que em Portugal e noutros países a esperança de vida aumentasse nos últimos 30 anos. "Hoje uma pessoa que aos 20 anos é diagnosticada com VIH e que faça os tratamentos e controlos adequados tem uma expectativa média de vida de mais 45 anos", aponta.

O médico fala em mais dois momentos marcantes: em 2011 quando se mostrou que o tratamento funciona como prevenção e em 2015 com a indicação que todos os doentes devem começar o tratamento quando recebem o diagnóstico. Portugal adotou esta orientação em setembro de 2015. Os efeitos só serão visíveis com dados de 2016.

Esta semana começaram na África do Sul testes para uma vacina. Espera-se que sejam mais promissores do que os registados até agora. Estão ainda em teste novas terapêuticas trimestrais e semestrais. "Estão a ser estudadas algumas armas para atingir a cura funcional (o vírus não é completamente erradicado, mas não está ativo)", diz Telo Faria.

Estima-se que em Portugal existam 45 mil a viver com VIH. "A análise dos casos notificados revela um decréscimo importante e com uma tendência de uma redução sustentada do número de casos de infeção por VIH e de Sida. Em 2015 foram diagnosticados 990 novos casos de infeção e registaram-se 238 novos casos de Sida em adultos", afirma Kamal Mansinho, diretor do Programa Nacional para a Infeção VIH/Sida.

Portugal assumiu o compromisso da ONU Sida para 2020: ter 90% dos doentes diagnosticados, 90% em tratamento e 90% com carga viral negativa. "O diagnóstico tardio é um dos maiores desafios para alcançar as metas. Em Portugal representa cerca de 49% das pessoas com diagnóstico de novo de infeção por VIH, um problema comum à maioria dos países da união europeia. A promoção do diagnóstico precoce é uma das prioridades nacionais".

O teste rápido está disponível em 230 unidades de saúde. Em 2014 e 2015 realizaram 6145 testes, a que se juntam os 27 mil feitos nos Centros de Aconselhamento e Deteção Precoce. Também as associações estão envolvidas neste processo: "Em 2014 foram reportados 2973 testes realizados pelas estruturas comunitárias e em 2015, resultado de um maior investimento em projetos dessa natureza, os dados apontam para 6766 testes realizados".

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