Especialista diz que espanhóis tinham de analisar explosivos

Um especialista do Laboratório de Polícia Científica admitiu hoje que aquele organismo "não tinha capacidade" para analisar os componentes usados no fabrico de explosivos encontrados em Óbidos, justificando a realização de análises em Espanha, onde "estão mais preparados".
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Pedro Salgueiro, especialista superior do Laboratório de Polícia Científica da PJ, que assina o relatório de perícia feito aos explosivos encontrados em Fevereiro de 2010 numa vivenda de Óbidos, disse ao Tribunal de Caldas da Rainha que, "por ser a primeira vez" que o organismo lidava "com esta situação", os investigadores optaram por "enviar as amostras para Espanha, onde estão mais preparados".

Ouvido hoje de manhã pelo colectivo de juízes que julga Andoni Zengotitabengoa Fernandez, um dos dois alegados membros da ETA moradores na vivenda, o especialista confirmou que a casa foi visitada a 27 e 28 de Maio de 2010 "por dois peritos espanhóis" e que as amostras de produtos químicos ali encontrados foram enviadas para Espanha a 29 de Setembro para análise laboratorial.

O relatório pericial feito em conjunto pelo especialista e pelas autoridades espanholas confirmou tratarem-se de matérias que, "combinadas de determinadas formas e quantidades", serviam para o fabrico artesanal de detonadores e explosivos.

O depoimento de Filipe Henriques, inspector titular do processo, reforçou a convicção de que a casa de Óbidos terá funcionado como "uma fábrica de explosivos", quer pelos materiais encontrados (entre os quais alguns engenhos prontos a detonar), quer pela transformação da "suite" da vivenda "num laboratório".

O testemunho do inspector ficou marcado pelo interrogatório do advogado de defesa, José Galamba, que mais uma vez insistiu na pormenorização de todos os passos da investigação que deu origem ao processo, exigindo saber a identidade dos inspectores e peritos participantes ou os horários e ordem pelos quais foram efectuadas as buscas e peritagens na residência.

José Galamba insistiu hoje de manhã na confrontação do inspector com os registos fotográficos constantes no processo, sustentando não terem sido fotografados alguns dos bidons com material explosivo apreendidos na casa e na precisão da hora a que os inspectores "iniciaram as buscas".

Em resposta o inspector assegurou que "as buscas só foram iniciadas depois de ter sido entregue aos inspectores o mandado de busca" e que "todos os bidons foram fotografados", afastando assim a hipótese de serem alegadas falhas na condução do processo.

O julgamento prossegue esta tarde com a audição de mais dois inspectores da Polícia Judiciária (PJ) arrolados pelo Ministério Público (MP) com a concordância da defesa.

Andoni Zengotitabengoa Fernandez é acusado pelo Ministério Público (MP) de dois crimes de furto qualificado, nove crimes de falsificação e um crime de detenção de arma proibida, todos com vista à prática de terrorismo, e ainda um crime de resistência e coação sobre funcionário, praticados, segundo a acusação, "enquanto membro da ETA".

O alegado militante da ETA - uma organização considerada terrorista pelas autoridades espanholas e que defende a independência do País Basco - encontra-se detido preventivamente no Estabelecimento Prisional de Monsanto, em Lisboa, considerado de alta segurança.

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