Mais de seis meses depois das últimas eleições, os espanhóis voltam às urnas, no próximo dia 10. "A única mudança sensível [desde 28 de abril] foi o passar do tempo", afirma ao DN Antonio Papell, analista político e editorialista da agência Colpisa. "Por uma questão de bom senso, os resultados vão ser parecidos. Espanha não é um país de idiotas, as pessoas não mudam assim o seu voto de forma maioritária", sublinha. Por isso, adverte, "Espanha deve sair deste bloqueio, não podemos ir para mais eleições"..No pós-dia 10, vai ser preciso encontrar fórmulas de diálogo, as que não funcionaram da última vez. Há probabilidade de um cenário de acordo entre as forças de esquerda, mas, refere Papell, "convinha um acordo transversal de investidura". O analista lembra que, em 1996, José María Aznar (do PP) ganhou com pouca margem e Felipe González (do PSOE) podia ter governado com os votos da Esquerda Unida e dos catalães da CIU, "mas a questão não se pôs". Agora, acredita, será preciso uma boa solução para sair do bloqueio, não sendo partidário da ideia de uma grande coligação entre PSOE e PP. "Seria um disparate", avisa..Apesar de esperar que os resultados destas eleições sejam muito parecidos com os do escrutínio de 28 de abril, este analista reconhece que o PP manteve nestes seis meses uma posição moderada, "recuperou a credibilidade" e, provavelmente, vai conseguir mais deputados. Pelo contrário, "o Ciudadanos passou a ser o partido prescindível, enganou-se tanto que já não serve", garante Papell. Não se mostra com o possível crescimento do Vox, partido de extrema-direita liderado por Santiago Abascal, acreditando que, com o tempo, "acabará por se tornar a ala de direita do PP"..Mas desde 28 de abril aconteceram algumas coisas, como a exumação dos restos mortais de Franco ou a sentença do procés, que condenou a penas de prisão dirigentes catalães envolvidos na organização do referendo ilegal de 1 de outubro de 2017. São assuntos que vão ter repercussão nas urnas? "Franco e o procés provocaram os eleitores do Vox, tal como se pode ver nas sondagens, com um crescimento. E não é uma boa notícia que os partidos radicais aumentem o voto", diz ao DN José Luis Ayllón, diretor de análise política na consultora LLYC..Ayllón também espera poucas mudanças nos resultados e sublinha que "os partidos transferiram a responsabilidade para os cidadãos" depois da impossibilidade de formar governo. Para Ayllón há uma diferença entre as passadas eleições e as próximas: "Os dados económicos, agora mais negativos, podem fazer mudar o voto de alguns eleitores." Também acredita que, no dia 10, serão castigados os dois partidos que não conseguiram chegar a um consenso: o PSOE de Pedro Sánchez e o Podemos de Pablo Iglesias. "O PP [de Pablo Casado] não teve papel nenhum e vemos nas sondagens que está a melhorar", afirma o analista. Na sua opinião, "a personalização substituiu a ideologia", razão pela qual "PP, Ciudadanos, PSOE e Podemos podem fazer acordos autonómicos, mas a nível nacional não conseguem"..Novo partido.Desta vez entra em jogo um novo partido, Más País, liderado por Íñigo Errejón, um dissidente do Podemos. Começou muito forte, as sondagens davam-lhe entre 9 e dez deputados e agora parece que se ficará pelos três. "Pensei que ia ter muitas possibilidades porque podia captar o voto desiludido da esquerda e muita abstenção", reflete José Luis Ayllón. No seu entender, o debate da Catalunha "traz muitos problemas para o Podemos e o Más País. Depois do que vimos nas ruas de Barcelona, muitas pessoas não entendem que sejam tão compreensivos" para com os independentistas catalães.."Decidi votar no PP, mas se ficar muito chateada mudo para Vox. O que está a acontecer na política em Espanha é uma brincadeira", diz ao DN Isabel R.M. Empresária de 45 anos, no ramo da restauração, mostra-se muito crítica por não haver acordos entre os partidos depois das últimas eleições, ficou desiludida com a política. "Para o PP até é bom repetir as eleições, penso que vai subir, mas não devia ter acontecido." Isabel não é a favor de um acordo entre PP, Vox e Ciudadanos porque na sua opinião o "Ciudadanos é um partido de esquerda"..Apesar de tudo, admite, gostava de ver o seu partido entender-se com o PSOE, tendo em conta o último resultado eleitoral. "Seria bom para o país, não há outra solução no atual contexto", sublinha. Reconhece que o país continua a andar sem governo, mas não é a situação ideal porque "não se podem realizar as grandes reformas de que o país precisa". Como empresária considera que a subida do salário mínimo afeta muito os negócios. "Agora ponderas muito mais contratar mais uma pessoa", sublinha. Em relação à recente exumação de Franco, acredita que é um tema sobre o qual já ninguém quer falar, mas "Pedro Sánchez continua a olhar para o passado e não olha para o que tem à sua frente". Catalunha, sim, é um problema real, "com difícil solução mas sempre dentro da legalidade". Isabel não percebe como os independentistas se sentem com direitos e pede mão de ferro aos governantes neste assunto..Iria Romero não tem ainda o seu voto decidido, tal como aconteceu nas duas últimas eleições. "Somos continuamente tomados por tolos", queixa-se esta outra jovem empresária. Já foram duas vezes a votar em branco e não sabe se desta vez não vai acontecer o mesmo. "Os novos partidos não acrescentam nada, estão ainda mais perdidos", afirma ao DN. "Nenhum deles inspira confiança e não gosto de votar em qualquer um só por votar", acrescenta. Pensa que todos os partidos estão com muitos problemas internos e pergunta-se: "Como vão organizar um país se não sabem organizar-se entre eles?" Iria não se identifica nem com a direita nem com a esquerda. "Quero o bem comum." Por isso considera que são necessárias coisas de ambos lados. Gostava também de ver um acordo entre os dois grandes partidos, PP e PSOE, mas pensa que isso "é impossível". No âmbito laboral, gostava de sentir menos pressão como empresária porque "sou partidária de subir os salários aos trabalhadores mas para isso devem ajudar-nos a criar valor nos negócios", sublinha.."Eu era partidário de um governo minoritário do PSOE pela má relação com Podemos", afirma ao DN Mariano Nava, de 71 anos, militante socialista desde 1975. E agora é da mesma opinião. Quando se fala de acordos prefere pensar num entendimento com o PP, mas acredita que não é viável por culpa da direita, "tradicionalmente complicada para os acordos". Espera a vitória do seu partido e também uma subida dos populares porque "vão recuperar votos que se foram para o Vox". Podemos e Ciudadanos, aposta, "vão descer, nomeadamente o Ciudadanos, porque a sua ambivalência foi incrível". Mariano considera urgente ter um novo Orçamento do Estado em Espanha e, sobretudo, "negociar com a Europa, ter mais presença e influência e tratar temas como a harmonização fiscal"..Também muito convencido do seu voto está Pablo P., de 30 anos, do Ciudadanos. "Agora vamos poder pôr Espanha a funcionar e, para isso, vamos pôr na rua Pedro Sánchez", afirma ao DN. Não acredita nos prognósticos que falam de uma forte queda do seu partido porque "há muitas pessoas que desta vez vão votar e Albert Rivera atrai as pessoas, o seu discurso convence". Depois de confirmar que PSOE e Podemos não se entendem, sublinha: "Acreditamos que temos uma segunda oportunidade e vamos aproveitá-la."