Espanha manifesta surpresa com tom britânico sobre Gibraltar
O Governo de Espanha manifestou hoje surpresa com "o tom" de um dirigente político britânico que comparou a disputa por Gibraltar com o conflito pelas Malvinas/Falkland.
Michael Howard, antigo dirigente do Partido Conservador, afirmou no domingo que a ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher recorreu à força militar para responder à invasão das Falkland pelas forças argentinas há 35 anos e que a atual primeira-ministra, Theresa May, devia "mostrar a mesma determinação" em relação a Gibraltar.
O ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol, Alfonso Dastis, disse hoje que o Governo de Madrid ficou surpreendido com a declaração.
"O Governo espanhol está um pouco surpreendido com o tom usado pelo Reino Unido, um país conhecido por ser fleumático. Nesta matéria, a tradicional fleuma britânica faz-se notar pela ausência", disse o ministro.
Theresa May insistiu no domingo que "nunca" permitiria que Gibraltar escapasse ao controlo britânico e o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Boris Johnson, afirmou que "Gibraltar não está à venda".
Já hoje, Johnson afirmou que a posição de Londres é "muito, muito clara", de que "a soberania de Gibraltar não mudou e não vai mudar".
Com uma população de pouco mais de 32.000 pessoas, Gibraltar é território britânico desde 1713, mas Espanha reclama a soberania sobre o "Rochedo".
Com o 'Brexit', a União Europeia defende que Espanha tem de estender qualquer acordo comercial entre a UE e o Reino Unido a Gibraltar, o que na prática implica dar um direito de veto a Madrid que desagrada a Londres.
Em termos comerciais, Gibraltar é altamente dependente da pequena fronteira terrestre com Espanha, pelo que a aprovação da saída da UE em referendo é causa de preocupação no território, cujos residentes votaram maciçamente pela permanência no bloco europeu.
O ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol assegurou que Espanha não quer dificultar a vida a Gibraltar, afirmando numa entrevista ao jornal El Pais publicada no domingo que "não há qualquer intenção de fechar a fronteira".
O ditador espanhol Francisco Franco fechou a fronteira com Gibraltar em 1969. A livre circulação entre os dois lados só ficou plenamente restabelecida em 1985.
As declarações de Michael Howard também foram recebidas com críticas no Reino Unido.
O presidente da comissão de Serviços de Informações e Segurança do parlamento britânico, Dominic Grieve, considerou "apocalíptico" sugerir que o Reino Unido estaria disposto a partir para a guerra para defender Gibraltar.
"Não creio que me expressasse nos termos em que o fez Howard porque soa um pouco apocalíptico. Não temos evidência, neste momento, de que o governo espanhol queira invadir Gibraltar", disse Grieve à Sky News.