Em 2011, fazendo a cobertura das legislativas que deram ao PP de Mariano Rajoy uma maioria absoluta histórica, notei que quando perguntava a algumas pessoas do PP o que achavam do PSOE, e vice-versa, elas respondiam, referindo-se aos outros, não como socialistas ou populares, não como de esquerda ou de direita, mas como los rojos e los franquistas. E o ressentimento com que o diziam mostrava que havia algo mais em causa do que as questões quentes da atualidade (a crise económica e financeira estava no seu auge e a explosão da bolha imobiliária teve um impacto considerável). Uma questão de gerações mais velhas, com os fantasmas da Guerra Civil espanhola ainda presente, pensei..Oito anos passados, depois de seguir a par e passo a política espanhola, depois de constatar que para ter uma versão completa sobre um assunto é preciso ler pelo menos quatro ou cinco jornais diferentes, depois dos debates de segunda e de terça-feira à noite entre os principais candidatos ao cargo de primeiro-ministro de Espanha, concluí uma vez mais que uma tal retórica não é exclusiva dessas gerações mais velhas e é usada pelos políticos atuais. Apesar de serem de outras gerações. Pedro Sánchez, atual chefe do governo, líder do PSOE, tem 47 anos, Pablo Casado, líder do PP, sucessor de Rajoy, tem 38 anos, Albert Rivera, líder do Ciudadanos, tem 39 anos, Pablo Iglesias, cabeça-de-lista da Unidas Podemos, tem 40 anos, Santiago Abascal, líder do Vox, partido de extrema-direita que foi excluído do debate, tem 43.."Já perdemos uma década. Não podemos permitir mais uma década perdida com guerras entre vermelhos e azuis, entre azuis e vermelhos", disse Albert Rivera, no debate de segunda-feira à noite, na RTVE. Isto depois de Sánchez ter tomado como uma das prioridades da sua legislatura a exumação dos restos mortais do ditador Franco do Vale dos Caídos. Já há data marcada e tudo. Será a 10 de junho. Se o líder do PSOE for reeleito e conseguir formar um governo. Provavelmente com a Unidas Podemos de Iglesias, que no debate de terça-feira à noite, organizado pelo grupo Atresmedia, surgiu com um jersey da marca 198 Revolt Clothing, associada à defesa da república, suscitando várias críticas. Iglesias foi o único que defendeu abertamente um referendo sobre a independência da Catalunha, questão que tanta tinta tem feito correr, nomeadamente depois de Sánchez ter derrubado Rajoy do poder com a ajuda dos partidos independentistas catalães..Mas se o Podemos, por um lado, é considerado filho da revolta suscitada pela crise económica e financeira em Espanha, se o Ciudadanos é fruto da oposição à independência da Catalunha e da defesa da unidade de Espanha, o Vox, que irrompeu na Andaluzia, nas eleições autonómicas de dezembro, é um misto de tudo um pouco: descontentamento social, revolta da Espanha vazia, sem serviços ou infraestruturas funcionais, saudosos do franquismo, medo da imigração, defensores das touradas, machistas, antifeministas, etc... O partido de Abascal, que no domingo pode eleger até 32 deputados, pode pôr Espanha na lista de países europeus em que os partidos populistas, ultranacionalistas e extremistas estão em ascensão. Algo que até agora, tal como em Portugal, não tinha acontecido. Alguns apresentavam o trauma deixado por anos de ditaduras fascistas em ambos os países como hipótese de explicação para a ausência de reforço de tais partidos. Mas se a erupção do Vox se confirmar, nestas legislativas antecipadas espanholas, tal explicação ficará comprometida.."Os ultras dizem que uma mulher violada não tem direito a abortar, que as mulheres de esquerda são umas piolhosas, denigrem as associações LGTBI, dizem que a verdadeira ditadura não é franquista mas sim a ditadura feminista e agora Rivera vem dizer que é centrista. O senhor só sabe desenhar uma Espanha azul-escura, quase negra", disse Pedro Sánchez a Albert Rivera no debate da Atresmedia, em referência ao apoio que o governo PP-Ciudadanos tem do Vox na Andaluzia, bem como à possibilidade de repetirem esse tripartido para governar todo o país depois de domingo. Azul e vermelho eram as cores que simbolizavam as duas ideologias políticas que estiveram em confronto na Guerra Civil espanhola. De um lado, os fascistas e monárquicos. Do outro, os republicanos e comunistas. No dia 1 de abril passaram 80 anos desde o fim da Guerra Civil espanhola. Mas, como escreve hoje no El Periódico o professor Alberto Martínez Cebolla, num artigo intitulado "Quando termina uma Guerra Civil?", "uma ferida tão profunda demorará a cicatrizar. Passaram 80 anos. É possível que tenham de passar cem ou cento e vinte. Uma política inteligente, firme, mas feita de forma consensual permitiria olhar para o passado com serenidade e para o futuro com esperança".
Em 2011, fazendo a cobertura das legislativas que deram ao PP de Mariano Rajoy uma maioria absoluta histórica, notei que quando perguntava a algumas pessoas do PP o que achavam do PSOE, e vice-versa, elas respondiam, referindo-se aos outros, não como socialistas ou populares, não como de esquerda ou de direita, mas como los rojos e los franquistas. E o ressentimento com que o diziam mostrava que havia algo mais em causa do que as questões quentes da atualidade (a crise económica e financeira estava no seu auge e a explosão da bolha imobiliária teve um impacto considerável). Uma questão de gerações mais velhas, com os fantasmas da Guerra Civil espanhola ainda presente, pensei..Oito anos passados, depois de seguir a par e passo a política espanhola, depois de constatar que para ter uma versão completa sobre um assunto é preciso ler pelo menos quatro ou cinco jornais diferentes, depois dos debates de segunda e de terça-feira à noite entre os principais candidatos ao cargo de primeiro-ministro de Espanha, concluí uma vez mais que uma tal retórica não é exclusiva dessas gerações mais velhas e é usada pelos políticos atuais. Apesar de serem de outras gerações. Pedro Sánchez, atual chefe do governo, líder do PSOE, tem 47 anos, Pablo Casado, líder do PP, sucessor de Rajoy, tem 38 anos, Albert Rivera, líder do Ciudadanos, tem 39 anos, Pablo Iglesias, cabeça-de-lista da Unidas Podemos, tem 40 anos, Santiago Abascal, líder do Vox, partido de extrema-direita que foi excluído do debate, tem 43.."Já perdemos uma década. Não podemos permitir mais uma década perdida com guerras entre vermelhos e azuis, entre azuis e vermelhos", disse Albert Rivera, no debate de segunda-feira à noite, na RTVE. Isto depois de Sánchez ter tomado como uma das prioridades da sua legislatura a exumação dos restos mortais do ditador Franco do Vale dos Caídos. Já há data marcada e tudo. Será a 10 de junho. Se o líder do PSOE for reeleito e conseguir formar um governo. Provavelmente com a Unidas Podemos de Iglesias, que no debate de terça-feira à noite, organizado pelo grupo Atresmedia, surgiu com um jersey da marca 198 Revolt Clothing, associada à defesa da república, suscitando várias críticas. Iglesias foi o único que defendeu abertamente um referendo sobre a independência da Catalunha, questão que tanta tinta tem feito correr, nomeadamente depois de Sánchez ter derrubado Rajoy do poder com a ajuda dos partidos independentistas catalães..Mas se o Podemos, por um lado, é considerado filho da revolta suscitada pela crise económica e financeira em Espanha, se o Ciudadanos é fruto da oposição à independência da Catalunha e da defesa da unidade de Espanha, o Vox, que irrompeu na Andaluzia, nas eleições autonómicas de dezembro, é um misto de tudo um pouco: descontentamento social, revolta da Espanha vazia, sem serviços ou infraestruturas funcionais, saudosos do franquismo, medo da imigração, defensores das touradas, machistas, antifeministas, etc... O partido de Abascal, que no domingo pode eleger até 32 deputados, pode pôr Espanha na lista de países europeus em que os partidos populistas, ultranacionalistas e extremistas estão em ascensão. Algo que até agora, tal como em Portugal, não tinha acontecido. Alguns apresentavam o trauma deixado por anos de ditaduras fascistas em ambos os países como hipótese de explicação para a ausência de reforço de tais partidos. Mas se a erupção do Vox se confirmar, nestas legislativas antecipadas espanholas, tal explicação ficará comprometida.."Os ultras dizem que uma mulher violada não tem direito a abortar, que as mulheres de esquerda são umas piolhosas, denigrem as associações LGTBI, dizem que a verdadeira ditadura não é franquista mas sim a ditadura feminista e agora Rivera vem dizer que é centrista. O senhor só sabe desenhar uma Espanha azul-escura, quase negra", disse Pedro Sánchez a Albert Rivera no debate da Atresmedia, em referência ao apoio que o governo PP-Ciudadanos tem do Vox na Andaluzia, bem como à possibilidade de repetirem esse tripartido para governar todo o país depois de domingo. Azul e vermelho eram as cores que simbolizavam as duas ideologias políticas que estiveram em confronto na Guerra Civil espanhola. De um lado, os fascistas e monárquicos. Do outro, os republicanos e comunistas. No dia 1 de abril passaram 80 anos desde o fim da Guerra Civil espanhola. Mas, como escreve hoje no El Periódico o professor Alberto Martínez Cebolla, num artigo intitulado "Quando termina uma Guerra Civil?", "uma ferida tão profunda demorará a cicatrizar. Passaram 80 anos. É possível que tenham de passar cem ou cento e vinte. Uma política inteligente, firme, mas feita de forma consensual permitiria olhar para o passado com serenidade e para o futuro com esperança".