Esfaqueou o companheiro cansada de ser agredida

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Com uma faca de cozinha, Zeldi, 47 anos, brasileira, pôs cobro aos actos de violência de que vinha sendo vítima às mãos do companheiro, de 49 anos. Segundo relatos dos vizinhos, a mulher, em situação ilegal no País, passa os dias sem falar com ninguém, com medo de ser agredida
"Chamem a polícia. Acho que matei o meu marido."

Foram as palavras de Zeldi, 47 anos, imigrante brasileira, ao entrar no restaurante situado ao lado de sua casa no lugar do Arneiro, zona de Carcavelos (Cascais). Acabara de agredir o seu companheiro, na zona do abdómen, com um faca de cozinha . Jorge Viegas, 49 anos, ainda chegou com vida ao Hospital de São Francisco Xavier, depois de ter esperado cerca de meia hora pelos bombeiros, mas não resistiu aos ferimentos. "Foi a revolta de Zeldi", disseram os vizinhos ao DN. "Ela estava farta de levar pancada."


Foi por volta das 16.00 de domingo. No restaurante Serra da Estrela já quase não havia vestígios do almoço quando, descalça, a autora do alegado homicídio surge com ar ofegante a pedir socorro. Um dos empregados, Edvaldo, também de naciona- lidade brasileira, liga imediatamente para o 112 e acompanha Zeldi a casa, do outro lado da rua. Lá encontrou Jorge Viegas, prostrado à entrada da cozinha, já com um penso no local da agressão e ums almofada para ajudar a estancar o sangue. Foram os primeiros socorros de Zilde logo após a agressão.


"O homem gemia", conta Edvaldo, garantindo que, após a ligação para o 112, os bombeiros de Carcavelos chegaram passado cerca de meia hora. Estes, em declarações ao DN, garantem que demoraram seis minutos, desde o momento em que receberam o alerta do 112.


Na Loja da Sandra, a proprietária que dá o nome à casa, em declarações ao DN, contou achar estranho que Zeldi apenas a cumprimentasse quando estava sozinha. "Ao lado do companheiro não falava com ninguém", explicou.


A autora da tentativa de homicídio já estava há alguns anos em Portugal em situação ilegal e encontra-se desempregada. No Brasil deixou alguns filhos para partir à aventura, até agora pouco feliz. Há cerca de um ano começou a viver com Jorge, que é divorciado e tem uma filha. Português, trabalhava como técnico numa empresa de máquinas empilhadoras. Os responsáveis da firma, contactados pelo DN, disseram que se trata de um funcionário ao qual não há nada a apontar. "Era um técnico assíduo e competente". Sobre a sua vida pessoal garantiram nada saber.


A mesma opinião não têm os vizinhos. Pelas conversas e comportamentos de Zeldi, toda a gente sabia que Jorge era violento com a companheira. "Não a deixava falar com ninguém. Ele também não falava com ninguém, e espancava-a", contaram ao DN. Aquela casa já tinha sido partilhada com outras mulheres após o divórcio da mãe da filha. Uma delas ter-se-á dirigido a Zeldi para a alertar: "Livra-te desse homem que é um louco". Mas "ela dizia que, apesar de tudo, gostava dele". Ou "talvez a necessidade afogasse o sofrimento". Os vizinhos comentavam a tragédia de Arneiro, cada um segundo o seu ponto de vista. Vários estavam a ajudá-la a conseguir regularizar a sua condição de imigrante.


A PSP chegou ao local dez minutos antes dos bombeiros, entregando o caso à Polícia Judiciária (PJ), por se tratar de um crime violento com arma. Zeldi terá confessado o acto e nem sequer foi detida. Apenas foi constituída arguida com a medida de coacção mínima: o Termo de Identidade e Residência (TIR).


Segundo fonte policial contactada pelo DN, há elementos de prova que dão a entender que a agressora terá usado a faca para se defender de outra agressão. "Terá sido em legítima defesa", frisou.


Para os vizinhos, "o acto foi de desespero, pois nunca Zeldi mostrou indícios de que pudesse ser violenta. Mas "depois de tanta pancada, foi chegada a hora de dizer 'basta'", disseram ao DN.

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