A líder do governo escocês, Nicola Sturgeon, considerou ontem que a "data lógica" para realizar um novo referendo sobre a independência da Escócia seria o outono de 2018, isto é, antes do brexit. "Dentro dessa janela temporal, quando um esboço do acordo do Reino Unido para sair da União Europeia [UE] já for claro, penso que seria uma data lógica para a Escócia se pronunciar, se esse for o caminho que escolhermos", disse à BBC, explicando que não foi tomada ainda uma decisão sobre a consulta. A primeira-ministra britânica, Theresa May, já respondeu através do porta-voz: "Somos muito claros, não acreditamos que deva haver um segundo referendo.".Sturgeon diz que "não exclui" nada em relação a uma nova consulta, depois de no início do mês May ter acusado o Partido Nacionalista Escocês (SNP, na sigla em inglês) de ter uma "obsessão" com o tema. Além disso, a primeira-ministra britânica rejeitou os pedidos da líder escocesa para negociar um acordo concreto para a Escócia, que garantisse um acesso especial do país ao mercado comum europeu após o brexit. May espera acionar até ao final deste mês o artigo 50 do Tratado de Lisboa, que dá início oficial ao prazo de dois anos para negociar a saída da UE, aguardando apenas a luz verde do Parlamento..O debate do "indyref2", como os jornais escoceses se referem ao eventual segundo referendo sobre a independência, ganhou força precisamente após o voto para sair da UE. Apesar da decisão do Reino Unido de aprovar o brexit, na Escócia este saiu derrotado (62% contra 38%). "A Escócia votou massivamente para continuar na UE e no mercado comum mas, apesar disso, os conservadores estão determinados a arrastar a Escócia para fora da UE contra a nossa vontade, ignorando os desejos claros dos escoceses", disse uma porta-voz do SNP de Sturgeon, citada nesta semana pelo jornal The Scotsman..Qualquer novo referendo na Escócia terá de ter aprovação do Parlamento britânico. Na consulta de setembro de 2014, 55% dos eleitores escoceses votaram para continuar no Reino Unido. A Escócia era um reino independente até ao Tratado de União de 1707. O SNP alega que no seu manifesto eleitoral existe o compromisso de fazer um novo referendo sobre a independência se houver uma mudança concreta nas circunstâncias em relação ao voto de 2014. Mas o mesmo manifesto defende que só se deve convocar uma nova consulta "se houver provas concretas e sustentadas" de que a maioria dos escoceses defende a independência..Uma sondagem Ipsos-Mori, para a televisão escocesa, revelou ontem que a intenção de voto no "sim" à independência subiu dois pontos percentuais em relação à pesquisa anterior, para os 50%. Contudo, a mesma sondagem revela que só 48% dos inquiridos querem que uma Escócia independente seja um membro pleno da UE, com 27% a querer só a continuação no mercado comum e 17% a preferir o brexit. "Se ela quiser ir contra o que é a opinião dos escoceses, e parar de agir como primeira-ministra e atuar apenas como líder do SNP, então acho que ela vai pagar um preço elevado", disse a líder do Partido Conservador Escocês, Ruth Davidson, ainda antes das declarações de Sturgeon.