Escândalo no Peru depois de ex-presidente e outros responsáveis serem vacinados antes do tempo
Entre setembro do ano passado e janeiro, vários funcionários peruanos, entre os quais o então presidente Martín Vizcarra e a sua mulher, foram vacinados em segredo contra a covid-19. As inoculações foram feitas com doses adicionais do estudo que estava a ser feito à vacina chinesa Sinopharm e envolveram pessoas com capacidade de decisão na compra das mesmas - o primeiro milhão dos 38 que foram comprados acaba de chegar ao país.
O escândalo rebentou na semana passada e já levou à demissão de vários responsáveis, entre os quais a ministra da Saúde, Pilar Mazzetti (que não terá sido uma das inoculadas, mas que teria conhecimento), o vice-ministro da Saúde Oscar Ugarte (que foi um dos vacinados), e a ministra dos Negócios Estrangeiros, Elizabeth Astete (que recebeu a primeira dose e já disse que não receberá a segunda).
"Estou indignado e furioso com esta situação que põe em risco todo o esforço dos peruanos que trabalham na linha da frente", disse o atual presidente, Francisco Sagasti, que foi eleito pelo Congresso depois de Vizcarra ter sido destituído, em novembro do ano passado, por ser considerado "moralmente incompetente" devido a alegadamente ter recebido dinheiro ilícito quando era governador. Sagasti deixou claro que nenhuma das pessoas que foi vacinada terá lugar no seu governo.
Foi Vizcarra, que é candidato às eleições gerais de abril, que revelou ter sido vacinado em outubro, quando ainda era presidente. Alegou que foi vacinado como voluntário do estudo da Sinopharm e que manteve em segredo, porque a confidencialidade dos voluntários deve ser mantida. Mas a Universidade Cayetano Heredia, que realizou o estudo, negou que o seu nome estivesse entre a lista dos voluntários, tal como o da sua mulher. Vizcarra disse-se surpreendido com isso, alegando que recebeu um boletim de vacinação como os voluntários.
A vacinação em segredo de Vizcarra desencadeou as suspeitas de que mais responsáveis tenham sido vacinados, sendo que só a partir de dia 8 de fevereiro é que começou oficialmente a vacinação dos profissionais de saúde no país - nessa mesma data, o presidente Sagasti foi inoculado. E ainda não há data para o início da vacinação do resto da população.
A procuradora-geral da República, Zoraida Avalos, já abriu um inquérito preliminar contra o ex-presidente e para saber afinal quem foi inoculado.
Segundo Sagasti, a Sinopharm enviou, além das doses destinadas ao estudo com 12 mil voluntários que foi feito, duas mil doses suplementares para a equipa de investigação e o pessoal envolvido no estudo. Terá sido com estas doses adicionais que Vizcarra e outros responsáveis foram vacinados.
O Peru, que atravessa atualmente a segunda vaga da pandemia, já registou mais de 1,2 milhões de casos de covid-19 e mais de 43 700 mortes.