Erdogan reuniu com líderes dos protestos
A reunião começou por volta das 23:00 locais (21:00 em Lisboa), tendo as televisões locais mostrado imagens da entrada na residência do primeiro-ministro de uma delegação de cerca de dez pessoas que representam os ocupantes da praça Taksim e do parque Gezi, a qual incluía artistas e representantes da sociedade civil.
Depois do início da reunião, a polícia disparou gás lacrimogéneo contra cerca de 200 manifestantes que se reuniram no centro de Ancara, não muito longe de escritórios de Erdogan, disseram testemunhas à AFP. Foram usados canhões de água para dispersar os manifestantes e detidas cinco pessoas.
Após a reunião, que durou várias horas, o porta-voz do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), Huseyin Celik insistiu que o governo não faria nada no parque até à realização de um referendo sobre o futuro do mesmo.
"Queremos saber o que a população de Istambul pensa, a sua decisão é muito importante para nós", acrescentou.
As autoridades também aguardam a decisão dos tribunais sobre um pedido para bloquear o plano de desenvolvimento, acrescentou Celik.
Em Istambul, milhares de manifestantes passaram mais uma noite no parque, tendo anteriormente rejeitado o ultimato de Erdogan para abandonarem o local em troca de um referendo sobre a projetada remodelação do parque.
Na origem das manifestações contra o Governo islâmico conservador de Erdogan iniciadas em Istambul a 31 de maio, está um projeto de urbanização do parque Gezi que pressupõe o corte de 600 árvores.
Desde o início dos protestos, quatro pessoas morreram nos distúrbios em todo o país, e cerca de 5.000 manifestantes foram feridos.
O referendo sobre a proposta do governo de construir uma réplica do quartel militar da era otomana no parque Gezi, sugerido por Erdogan na quarta-feira, foi a sua primeira concessão aos manifestantes.
Os Estados Unidos e países ocidentais têm criticado a gestão da crise por Erdogan e a repressão policial enfraqueceu a posição internacional da Turquia.
O Parlamento Europeu emitiu na quinta-feira uma resolução, advertindo o governo contra a tomada de "medidas duras contra os manifestantes pacíficos". Mas o primeiro-ministro rejeitou-a: "Eu não reconheço qualquer decisão tomada pelo Parlamento da União Europeia", disse.
Ao cair da noite em Istambul, a polícia observava cerca de cem manifestantes reunidos à volta de um piano na Praça Taksim para um concerto ao vivo, com cânticos ocasionais: "Todo lugar é Taksim, todos os lugares são a resistência" (tradução livre de Everywhere is Taksim, everywhere is resistance!")
No parque Gezi, os manifestantes estavam cautelosos sobre uma possível intervenção policial. "Nós não confiamos no governo.... Vamos ficar no parque. Isto não é apenas sobre as árvores", disse o designer de interiores Uzay, de 25 anos.
O governador de Istambul Huseyin Avni Mutlu disse que qualquer operação policial só teria como alvo quem agisse de forma desordeira, e usou o Twitter para tranquilizar os ocupantes de que não haveria intervenção, sem aviso prévio, tendo inclusivamente dado o seu número de telemóvel, o qual foi reenviado 7.500 vezes em duas horas.
Erdogan, de 59 anos, está no poder desde 2002.