ERC vai investigar presença de Mário Machado em programa de Goucha
A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) recebeu queixas motivadas pela participação do líder de extrema-direita Mário Machado na rubrica "Diga de Sua (In)Justiça" do programa Você na TV, da TVI, nesta quinta-feira. "Precisamos de um novo Salazar?" foi o mote para a conversa.
"A ERC confirma a receção de participações que visam o programa Você na TV emitido no dia 3 de janeiro de 2019, no serviço de programas TVI. Estas serão apreciadas pelos serviços da ERC nos trâmites habituais", confirmou por escrito ao DN o gabinete de comunicação do regulador.
Durante o programa, Mário Machado, líder da organização política Nova Ordem Social, defendeu a necessidade de um novo Salazar para Portugal. Também o repórter Bruno Caetano, responsável pela rubrica, admitiu esta possibilidade: "Em certas partes da vida de Salazar, acho que este faz falta, nomeadamente no que diz respeito a autoridade."
De acordo estarão 32% das 10 600 pessoas que votaram na sondagem lançada pelo apresentador Manuel Luís Goucha no seu Facebook com a pergunta "Acha que precisamos de um novo Salazar?".
Manuel Luís Goucha iniciou a conversa precisamente explicando que o convite não foi feito por si e que aceitou a ideia "porque vivemos numa democracia e todas as pessoas com os seus pontos de vista serão bem-vindos".
O DN pediu uma reação a este anúncio da ERC a Manuel Luís Goucha e à estação de televisão de Queluz, mas até ao momento ainda não foi possível.
"Num país cuja Constituição proíbe, e bem, organizações que professam o fascismo, o nazismo e o racismo, a TVI decidiu estender o tapete a um dos chefes de fila da extrema-direita portuguesa, sobejamente conhecido por defender o fascismo e o racismo e a violência a eles associada", pode ler-se num comunicado da associação SOS Racismo enviado às redações nesta tarde.
A organização criticou a iniciativa do canal de televisão e faz um apelo "às entidades responsáveis pela supervisão da comunicação social, bem como à tutela, que tomem as medidas necessárias para impedir que a comunicação social se transforme numa caixa de ressonância da ideologia racista no país".
"Dar palco à ideologia fascista e racista, seja em que circunstância for, não é nenhum exercício de liberdade de expressão, é, antes pelo contrário, contribuir para perigar os alicerces do Estado de direito democrático e constituiu uma afronta aos valores de liberdade, dignidade e igualdade."