Equipas hospitalares (um médico infecciologista e um enfermeiro) vão passar a ir em breve às prisões da sua área geográfica para dar consultas aos presos infetados com Sida e hepatites B e C, segundo um despacho das secretarias de Estado adjuntas da Justiça e da Saúde que entrou em vigor a 4 de fevereiro..Nesta articulação para facilitar o acesso da população reclusa ao Serviço Nacional de Saúde deverá ser possível, já este ano, "que o projeto se estenda a outras áreas, a começar pelos cuidados de saúde primários", explicou ao DN Isabel Aldir, diretora da Direção Geral de Saúde para a área das hepatites virais, da Infeção VIH/Sida e tuberculose. "Começámos a articular com os cuidados de saúde primários para que cada centro de saúde assuma que tem de dar uma resposta à população reclusa", frisou..No final deste ano "prevê-se ligar [informaticamente] 49 estabelecimentos prisionais com 52 hospitais, e com as mais de 700 unidades de cuidados de saúde familiares ou de cuidados personalizados", adiantou o gabinete de imprensa da DGS, com base em dados dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS)..A prestação de cuidados de saúde primários será também através da deslocação de equipas dos centros de saúde da área geográfica das cadeias. O transporte das equipas é assegurado pelas prisões. " É uma solução que parece equilibrada", sublinhou Isabel Aldir..Com estes projetos vai ser possível colmatar a falta de médicos e enfermeiros em permanência nas cadeias - o diretor geral de Reinserção e Serviços Prisionais, Celso Manata, denunciou a situação em algumas ocasiões - e evita-se as idas dos presos aos hospitais ou centros de saúde, o que envolve o empenhamento de guardas-prisionais que fazem falta nos estabelecimentos prisionais. Assim, passa a equipa médica a ir à cadeia.."Provavelmente teremos já este ano situações de deslocação dos médicos dos centros de saúde às prisões", afirma a secretária de Estado Adjunta e da Justiça, Helena Mesquita Ribeiro. Outra novidade é que o projeto da telemedicina vai avançar em algumas prisões: "Nos estabelecimentos prisionais do Linhó (Sintra), EP Sintra, Lisboa (EPL) e Custoias (Porto) está a ser criada uma solução técnica para permitir o acesso das prisões ao sistema de informação do SNS através da desmaterialização dos processos clínicos e da realização de consultas por telemedicina.".Rede de referenciação hospitalar A secretária de Estado Adjunta e da Justiça explicou que nesta articulação com o SNS "foi dada prioridade às doenças infetocontagiosas até pela repercussão que têm em meio prisional". Para tal foi criada uma rede de referenciação hospitalar identificada no despacho e que inclui hospitais de norte a sul do país. O projeto arrancou em fase experimental há um ano na cadeia de Custoias (Porto), com consultas semanais de médicos do Centro Hospitalar de São João a 100 presos doentes com infeções víricas, 68 dos quais já receberam a medicação contra a hepatite C, adiantou Helena Mesquita Ribeiro..Segundo dados do Ministério da Justiça, dos 13318 reclusos 1364 (10,24%) tinham hepatite C, 601 (4,51%) estavam infetados com Sida e 262 (1, 97%) com hepatite B. "A prevalência é sempre maior nas grandes cadeias de Lisboa e Porto (EPL e Custoias)", sublinhou..Está também previsto o alargamento do projeto a outras doenças em meio prisional, adiantou, por sua vez, a diretora da DGS para a área das infeções virais, Isabel Aldir: "Reconhecendo a oportunidade de trabalharmos em conjunto começámos pela área das infeções virais mas o grupo de trabalho pensa alargar a outras doenças prevalentes nas prisões como as cardiovasculares, por exemplo.".Além de Custoias, também o EP das Caldas da Rainha já está a receber uma equipa com um infecciologista e um enfermeiro. E o Centro Hospitalar de Setúbal está a ultimar os preparativos para ir ao EP Pinheiro da Cruz (Grândola)..Os hospitais e as prisões estão a celebrar protocolos para a deslocação das equipas (têm 45 dias para o fazer desde a entrada em vigor do despacho). As parcerias em condições de arrancar nesta primeira fase são: Custoias, com equipas do Centro Hospitalar de São João; Linhó (Hospital de Cascais); EP Sintra (Hospital Amadora Sintra); EPL (Centros Hospitalares de Lisboa Ocidental e Lisboa Norte e Hospital Prisional de Caxias) e o EP Coimbra (Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra). Para estes "a formalização das assinaturas deve acontecer nos próximos dias", informaram os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde. Segundo o SPMS, o Hospital de Cascais tem um protocolo mais antigo em vigor, assinado com as prisões de Tires e Linhó, em 2011, "e está a funcionar com um upgrade mais recente, com um computador portátil no hospital, acesso remoto ao sistema hospitalar, pedido das análises, etc. Mas vai ainda sofrer algumas pequenas alterações para que o modelo seja uniforme a nível nacional".