EPIS investe 290 mil euros em bolsas de estudo e aposta no ensino superior e nos mestrados

As bolsas sociais de estudo da EPIS cumprem este ano a sua 11.ª edição e vão atribuir um valor recorde de 290 mil euros distribuídos por 147 bolsas. O ensino secundário continua a receber a maior fatia do investimento, mas começa a haver uma aposta no ensino superior e, a partir de agora, também nos mestrados.
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Vão ser 147 bolsas num valor total de 290 mil euros que a Associação EPIS - Empresários pela Inclusão Social irá atribuir neste ano letivo, números recorde nesta 11.ª edição do programa em relação às edições dos anos anteriores. Os destinatários são 93 alunos do secundário, 48 do ensino superior e, pela primeira vez, seis estudantes de mestrado.

"A edição deste ano representa uma duplicação praticamente do investimento dos parceiros do ano passado e no ano passado já tinha duplicado. Nos últimos anos temos tido um ritmo muito importante de crescimento e isso coincide também com o período da pandemia, o que mostra que há uma recetividade muito grande das empresas, de empresários e até de cidadãos, nas questões da inclusão nesta fase da pandemia", afirmou Diogo Simões Pereira, diretor-geral da EPIS. "O investimento no secundário é maioritário, o que acontece é que nos últimos dois, três anos, o peso do investimento no superior tem vindo a crescer, é essa a nossa aposta, embora metade do investimento ainda é no ensino secundário."

O dinheiro para estas bolsas sociais é obtido através de donativos feitos pelos chamados investidores sociais, sendo que este ano estamos a falar de 39 investidores, mais 56% do que em 2020. Quanto às candidaturas, estão basicamente abertas a todos os alunos. "Qualquer aluno, ou familiar, ou encarregado de educação, ou professor, pode fazer uma candidatura em nome de um aluno. Nós apoiamos bolsas para alunos fazerem o secundário, premiar alunos que terminaram o 9.º ano de escolaridade, premiamos também alunos que terminaram o 12.º ano de escolaridade para prosseguirem os estudos para o ensino superior durante três anos e, pela primeira vez este ano, vamos apoiar alunos a iniciarem o seu curso de mestrado", explicou ao DN o responsável da EPIS. "A filosofia destas bolsas sociais é uma filosofia de ajudar quem precisa e quem merece. Não é aqui o melhor aluno que tem pais com uma boa situação económica que vai ser aqui o premiado, os que vão ser premiados são aqueles que combinam um elevado mérito académico com uma situação que, para o júri das bolsas, seja entendida que precisa de ajuda e merece ser ajudada. Ou seja, nós queremos fazer a diferença na vida de muitos destes jovens e que eles no futuro de se lembrem que tiveram aqui quem os ajudou no prosseguimento de estudos e essa é a missão fundamental das bolsas sociais da EPIS", prosseguiu Diogo Simões Pereira.

Estas bolsas sociais da EPIS acompanham um ciclo escolar, são de três anos no ensino secundário e de três anos no ensino superior. No caso dos mestrados, que se estreiam este ano, à partida o formato será de dois anos. Em termos de valores, as bolsas sociais do secundário variam atualmente entre os 450 e os 500 euros, enquanto que as do ensino superior rondam entre os 800 e os mil euros, tal como as dos mestrados. O mesmo aluno pode candidatar-se a mais do que uma bolsa, isto é, sendo bolseiro no secundário, pode depois candidatar-se a uma bolsa do ensino superior e, mais tarde, a uma de mestrado. "As bolsas sociais do ensino secundário são um valor que é uma ajuda, mas que não permite sustentar ou pagar um ano completo, mas sobretudo é um acréscimo no rendimento de uma família e que permite, por um lado, apoiar na compra de material escolar, e, sobretudo nos últimos anos, na aquisição de computadores. Ou seja, muitos destes alunos não tinham a possibilidade de ter um computador para seguirem as aulas convenientemente e, com o dinheiro das bolsas, foi possível atribuir um computador, muitas vezes um computador que é o primeiro computador a entrar na casa dessas famílias. No caso do ensino superior, as bolsas fazem uma diferença enorme para pagar, por um lado, os custos de matrícula e de frequência no ensino superior e, muitas vezes, uma parte dos custos de deslocação, porque a diferença do ensino superior é que muitas vezes os alunos entram para uma universidade fora da localidade onde os pais vivem. As histórias, para generalizar um bocadinho, situam-se sempre à volta dos benefícios que as bolsas dão em relação às dificuldades que os alunos teriam, seja no secundário, seja no ensino superior", declarou o diretor-geral da EPIS.

Criado em 2011, o programa das bolsas sociais da EPIS já recebeu 1717 candidaturas, que resultaram na atribuição de 425 bolsas e em 26 projetos premiados, num investimento que ronda os 800 mil euros, já contando com os valores deste ano. "Aquilo que nós não imaginávamos - a primeira edição das bolsas teve um investimento na casa dos 25 mil euros - era que dez anos depois estávamos a ter um investimento mais de dez vezes superior ao valor inicial. Onde é que vamos parar? Pararemos no limite dos apoios dos nossos parceiros, da nossa parte vamos querer sempre atribuir mais bolsas. Nós vamos ter este ano, como em anos anteriores, mais candidaturas do que bolsas para atribuir, portanto, todos os anos ficam alunos de fora, e enquanto isso acontecer há potencial de crescimento. E, no fundo, é esse o caminho que queremos continuar a fazer", lembrou Diogo Simões Pereira. "Nestes dez anos, temos uma taxa de sucesso escolar dos bolseiros superior a 94%, o que significa que só em casos muito pontuais, e às vezes tem a ver com questões familiares, nem tem a ver com o mérito académico dos alunos... A esmagadora maioria dos alunos tem tido sucesso escolar, o que significa que temos tido a capacidade de selecionar bem para poder ajudar aqueles que realmente merecem ser ajudados", declarou o responsável da Associação dos Empresários pela Inclusão Social.

Um desses casos de sucesso é Yelyzaveta Sushchenko, de 17 anos, e que este ano frequenta o 12.º ano na área de Ciência e Tecnologias no Agrupamento de Escolas Amadora Oeste. Liza, como é conhecida, nasceu na Ucrânia e veio para Portugal em 2012 com a mãe por questões de saúde, a tempo que ingressar no terceiro ano do ensino básico. "A adaptação foi boa. Eu já falava inglês na Ucrânia, por isso foi muito fácil aqui em Portugal, porque quem sabia inglês falava comigo em inglês e eu tive facilidade em aprender português", contou ao DN.

Quem a conhece diz que é uma aluna metódica, organizada e focada nos objetivos, tendo concluído o 11.º ano com uma média de 18 valores. "Sempre fui boa aluna. Sou organizada, talvez um bocadinho demasiado, mas gosto das coisas bem planeadas", confessou Liza, garantido que não se considera uma "croma". "Eu foco-me muito nos estudos, mas também consigo distinguir entre estudos e vida pessoal e social".

O seu sonho é entrar para a universidade, de preferência em Lisboa, para tirar Medicina, e para testar já a possibilidade de concretizar esse sonho no final do 11.º ano apresentou-se voluntariamente aos exames nacionais de Física e Química A, de Biologia e de Geologia, provas de acesso de que necessita para entrar no curso que deseja. "Eu este ano devia fazer já um dos três exames que preciso para entrar na universidade, por isso aproveitei para fazer logo tudo", explicou a jovem, revelando que ainda repetiu um dos exames na 2.ª fase porque não ficou satisfeita com as primeira nota, "e ainda estou a pensar repeti-los para o ano, porque vou precisar de um bocadinho mais para entrar onde eu quero".

Liza foi contactada por uma mediadora da EPIS da sua escola no 9.º ano e ganhou uma bolsa para os três anos do secundário. Para a jovem, a bolsa "ajudou-me imenso a nível financeiro, mas acho que sem a bolsa iria continuar com as mesmas notas, iria continuar a esforçar-me ao máximo para atingir os meus objetivos". Quando terminar o secundário, um dos objetivos de Liza é candidatar-se à bolsa da EPIS para o ensino superior.

"A Liza é um dos nossos casos de superação porque, como outros alunos, nós damos bolsas a muitos alunos que são de origem imigrante e, portanto, são histórias de superação, de adaptação a um país, de adaptação à língua, e depois muitos deles transformam-se em bons alunos. É muito gratificante poder ter apostado na Liza e em outros jovens que realmente se superam e confirmam esta ideia do ajudar quem merece ser ajudado", resumiu o diretor-geral da EPIS, Diogo Simões Pereira.

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