"Cinema? Por que não? Há seis meses ia ser dispensado..."

Foi uma transferência surpreendente. João Pedro, com seis meses de I Liga e 23 anos de idade, deixou o V. Guimarães para mostrar o que vale nos Estados Unidos, ao serviço do mediático Los Angeles Galaxy.
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Como é que surgiu esta possibilidade de ir para os Estados Unidos? Não é muito normal um futebolista jovem, que está a evidenciar-se numa Liga como a nossa, rumar a um campeonato como a MLS.

Bem, a minha transferência deveu-se à época que eu estava a realizar no V. Guimarães. Primeiro o LA Galaxy falou com o meu empresário, disseram que me queriam contratar e falaram depois comigo. Nessa conversa explicaram-me que queriam mudar o paradigma da MLS. Isso é certo. Querem começar a contratar jogadores mais jovens, sem deixar de pensar, num caso ou noutro, nalgumas estrelas, por uma questão de marketing. Eu aceitei porque considerei que estava perante uma oportunidade boa, e não falo a nível financeiro. Esta transferência pode abrir-me portas, vou para um clube que me vai proporcionar outro know-how.

Mas tem de admitir que não é muito normal um jovem, que era uma das revelações do campeonato, rumar aos Estados Unidos quando a grande maioria, no seu lugar, talvez preferisse atuar nos melhores clubes europeus...

Preferia jogar no Manchester United, mas o Manchester United não me veio buscar. A oportunidade surgiu e eu tinha de a aproveitar ou não. Sei lá se daqui a algum tempo vou continuar a jogar. Isto é tudo muito relativo, posso ter uma lesão... o futebol é o momento e eu aproveitei. Também porque ninguém do Vitória me falou sobre renovação.

Mas estava a acabar contrato?

Não, não estava.

Pensava que merecia uma melhoria salarial?

Não era essa a questão, mas quando há um assédio tenta-se que o jogador fique. Em dezembro, quando surgiu a primeira abordagem do LA Galaxy perguntei se o Vitória ia ou não oferecer-me a renovação, se eles já tinham manifestado alguma coisa, porque se fosse assim teria de pesar as coisas. A resposta que obtive do meu empresário é que não tinha havido qualquer manifestação. E a verdade é que nenhum dirigente também me mostrou qualquer intenção nesse sentido.

Sai magoado do Vitória?

De forma alguma. Só estou a dizer isto para explicar por que razão aproveitei esta oportunidade. Porque se o Vitória quisesse renovar comigo... [silêncio]

Teria permanecido?

Sim, porque aquilo que o Vitória paga não é muito diferente daquilo que eu vou receber no meu primeiro ano de contrato em Los Angeles.

Assinou por quantos anos com os LA Galaxy?

Três mais um de opção.

Vê-se a cumprir esse contrato?

Espero bem que sim. Ou então, se não cumprir, que saia para melhor.

Como é que reagiu quando lhe falaram do interesse do LA Galaxy pela primeira vez? Estamos a falar de uma equipa da cidade que é a capital do cinema, com os estúdios de Hollywood, e onde já jogaram Beckham, Gerrard, Abel Xavier, entre outros...

Fiquei surpreendido, não estava nada à espera. Quando o meu empresário me ligou pensei que queria falar comigo sobre a renovação, porque estavam a sair notícias sobre isso. Recebi a novidade e não fiquei sem reação, mas... nem imaginava que me andavam a observar.

E há quanto tempo o observavam?

Sei que houve algumas observações e, no jogo com o Chaves, o Kirovski, antigo jogador do Sporting e que agora é diretor desportivo do LA Galaxy, gostou do que viu e penso que foi essa opinião a desbloquear a situação.

O João estudava em Portugal?

Tenho a matrícula congelada em Desporto e Lazer, mas quero mudar para Ciências do Desporto.

Nos EUA vai continuar os estudos?

Posso tentar estudar online, aproveitando algumas parcerias que o Sindicato de Jogadores tem com algumas universidades. Mas vamos ver. Como já disse, estou num clube que me vai abrir muitas portas e proporcionar muitas oportunidades. Será uma questão de aproveitar.

E que tipo de oportunidades espera que surjam? Estando em Hollywood pensa no cinema, por exemplo?

Porque não? Nunca se sabe. Há seis meses estava para ser dispensado do V. Guimarães e agora concretizei uma transferência para o LA Galaxy. Já começo a acreditar em tudo.

Dispensado?

Não sei se o termo dispensado é o mais exato, mas foi o Pedro Martins que me segurou porque queriam tentar arranjar-me outro tipo de solução, um empréstimo. Se não fosse o Pedro Martins e tem calhado outro treinador qualquer, se calhar era isso que tinha acontecido.

Mas quem é que quis arranjar outra solução?

Isso não sei, sei que foi graças ao Pedro Martins que fiquei, porque ele deu-me a oportunidade de mostrar o que valia.

Imagino que lhe esteja grato.

Muito mesmo. Quando a transferência se concretizou, e ainda não era do domínio público, ele falou comigo e eu percebi que ele ficou muito contente.

Voltando ao LA Galaxy. Quais são as primeiras impressões?

A primeira impressão com que fiquei do clube e da cidade é que são todos muito acolhedores. O grupo também me recebeu muito bem. Jogadores como o Ashley Cole ou Giovani dos Santos, que já ganharam tanto na carreira, têm sido muito simpáticos comigo. Mesmo na cidade todos dizem bom dia, boa tarde.

Já esbarrou nalguma estrela de cinema daquelas que só via na televisão?

Vi a atriz que fez o Inferno com o Tom Hanks [Felicity Jones] .

E qual é o grande objetivo do LA Galaxy. Vencer a MLS?

Claro. É a equipa com mais títulos. O grande objetivo é o campeonato. As coisas no ano passado não correram muito bem, neste ano queremos mudar isso.

A seleção passa a ser um objetivo?

A seleção está muito bem servida de médios e por largos anos. Nem sequer penso nisso. Não é um objetivo prioritário. Se me pergunta se sonho com isso? Todos os jogadores sonham.

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