Enzo Fernández, o 23.º episódio do romance entre Benfica e Argentina

Caniggia foi o primeiro a vestir de águia ao peito em 1994, mas só em 2007 os encarnados abriram as portas aos argentinos, alguns deixaram saudades, outros nem tanto. O médio vai agora escrever a sua história na Luz, podendo tornar-se no argentino mais caro de sempre.
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Enzo Fernández vai ser, ao que tudo indica, o 23.º argentino a representar o Benfica em jogos oficiais. O médio de 21 anos contratado ao River Plate chega à Luz rotulado de grande promessa, um pouco à semelhança de outros que vestiram de águia ao peito, casos Ángel Di María ou Nicolás Gaitán, que deixaram uma marca, renderam títulos e muitos milhões de euros.

O dia 28 de agosto de 1994 marcou a estreia oficial do primeiro argentino no Benfica e logo com um golo, no Funchal, diante do U. Madeira. Chamava-se Claudio Caniggia, tinha 28 anos, e era uma superestrela, pois já tinha disputado dois Mundiais (1990 e 1994) ao lado de Maradona, com quem fazia uma dupla temível... que o diga a seleção brasileira eliminada do Itália 90 devido a um golo Caniggia, a passe de El Pibe.

Chegava à Luz por empréstimo dos italianos do Parma, ao abrigo de um protocolo com o então patrocinador dos encarnados - a empresa de laticínios Parmalat -, mas apenas ficou uma época, durante a qual marcou 16 golos em 34 jogos.

Em janeiro de 1996 chegou Mauro Airez, avançado que brilhava no Belenenses, mas que em duas épocas na Luz (três golos) nunca se impôs, tal como o guarda-redes Carlos Bossio, o primeiro contratado a um clube argentino (Estudiantes), mas que em quatro épocas foi eterno suplente e não deixou saudades.

Só em 2007 é que o Benfica descobriu o caminho para recrutar talentos argentinos. E tudo começou com Ángel Di María, que aos 19 anos era uma estrela emergente no Rosario Central. Acabou por "explodir" no terceiro ano na Luz, sob o comando de Jorge Jesus, tendo então sido vendido ao Real Madrid por 33 milhões de euros. Angelito partilhou o balneário com outro craque que chegou à Luz, em 2008, de forma surpreendente: Pablo Aimar. Rui Costa, então diretor desportivo, chegou a Lisboa num avião privado ao lado do mágico número 10, que tinha sido catalogado como um dos herdeiros de Maradona. Era a oportunidade de Aimar relançar uma carreira que estava a ser marcada por lesões em Espanha e na Luz mostrou classe, contabilizando 179 jogos em cinco épocas.

Melhor que ter Aimar, só juntando-lhe o amigo e cúmplice de ataque Javier Saviola, com quem fez uma dupla de adolescentes que encantou os adeptos do River Plate. O avançado chegou em 2009, após passagens por Barcelona e Real Madrid, tendo sido na conquista do título de 2009-10, ao lado de Aimar e de Di María, cuja venda milionária no verão de 2010, lançou o Benfica para a contratação de outros dois argentinos que marcaram uma era: Eduardo Salvio e Nicolás Gaitán.

Salvio é ainda hoje o argentino que mais tempo vestiu a camisola encarnada (oito anos), sendo ainda o que tem mais jogos (266) e mais golos (62), enquanto Gaitán surge em segundo lugar do ranking: 253 partidas e 41 golos em seis épocas.

No lote de argentinos bem-sucedidos na Luz é preciso ainda destacar o defesa Ezequiel Garay e o médio Enzo Pérez, que deixaram muitas saudades, ajudando a conquistar vários títulos. O extremo Franco Cervi também participou em grandes conquistas e teve um papel interessante. Isto além de Nicolás Otamendi, que vai para a terceira época no clube, já como um dos capitães.

O Benfica teve, contudo, várias desilusões nesta ligação a um país que formou grandes estrelas do futebol mundial. E entre elas estão Lisandro López e Franco Jara, de quem se esperava muito mais, mas há outros que são recordados pelo pouco ou nada que mostraram, casos Andrés Díaz, Gonzalo Bergessio, José Shaffer, Rogelio Funes Mori, José Luis Fernández, Cristián Lema, Germán Conti e Facundo Ferreyra.

Quanto à balança comercial, verificamos que o saldo é ligeiramente positivo para os encarnados, que embolsaram cerca de 112 milhões de euros com as vendas de argentinos, tendo investido um total 99,5 milhões, contando já com os 10 milhões de Enzo Fernández que, se forem cumpridos objetivos, podem chegar a 18 milhões, que tornarão o novo número 13 do Benfica no atleta argentino mais caro de sempre do clube, destronado Otamendi que foi adquirido por 15 milhões de euros.

Em termos financeiros, o mais rentável foi Di María, que foi contratado por 8,4 milhões e saiu por 33 milhões, seguido por Enzo Pérez (comprado por 2,4 e vendido por 25) e Gaitán (adquirido por 8,4 e transferido por 25 milhões de euros).

A avaliar por aquilo que mostrou no River Plate e pelos 120 milhões de euros da cláusula de rescisão, tudo aponta para que Enzo Fernández se junte ao lote de estrelas mais lucrativas para o Benfica. Durante esta época, será ele e Otamendi que terão a responsabilidade de defender a honra argentina de águia ao peito.

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